Honduras: Corte local recusa proposta de Arias
A ditadura hondurenha pôs, neste domingo, mais uma pedra no caminho da resolução da crise por meios diplomáticos. Às vésperas da chegada de uma missão de chanceleres da Organização dos Estrados Americanos, a Corte Suprema do país centro-americano rechaçou vários pontos da proposta feita pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, no sentido de buscar uma saída institucional ao golpe de Estado. As autoridades alegaram que tais tópicos da proposta se opõem à Legislação local.
Publicado 24/08/2009 11:26
Em comunicado divulgado neste domingo pela imprensa, a Corte argumentou que "qualquer regra de tipo político derivada do Acordo de San José deve ser implantada sob o amparo da Constituição e das leis de Honduras". Faz quase um mês que o ditador Roberto Micheletti havia anunciado que entregaria o documento apresentado por Arias aos distintos órgãos do Estado para que dessem sua opinião. O Tribunal Superior Eleitoral deu seu veredito há duas semanas e rechaçou o adiantamaneto das eleições.
Com a conclusão da Corte, ontem, as possibilidades de o acordo ser aceito se reduziram ainda mais. O regresso do presidente constitucional Manuel Zelaya ao cargo de presidente é o núcleo da proposta. Mas, segundo os magistrado, isto estaria fora de questão.
"Existem ações penais apresentadas contra o retorno de Zelaya pela Procuradoria Geral da República e, por isso, enquanto não existirem outras disposições legais aplicáveis, não poderemos evitar os procedimentos estabelecidos na legislação processual penal", indica o texto da Corte Suprema, alinhada com o governo golpista.
Segundo os magistrados,"a única forma de finalizar ou suspender estes processos penais é em conformidade com nossa legislação". A decisão afirma ainda que Zelaya é acusado "dos delitos contra a forma de governo, traição à pátria, abuso de autoridade e usurpação de funções".
Segundo o documento, o "Governo de unidade e reconciliação nacional" proposto por Arias, formado por representantes dos partidos políticos, "se insere dentro dos ideais da democracia participativa", mas que, segundo a Constituição, caberia ao Executivo nomear e demitir livremente ministros e vice-ministros.
Outro ponto da proposta, como a antecipação das eleições previstas para 29 de novembro, já havia sido rejeitado pelo Tribunal Supremo Eleitoral hondurenho, enquanto o Parlamento disse estar aberto a discutir uma anistia política aos envolvidos no conflito caso as partes envolvidas entrem em um acordo.
A Corte emitiu sua posição na véspera da chegada ao país de uma comissão de chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA) cujo objetivo será buscar uma solução à crise.
A vice-ministra das Relações Exteriores hondurenha, Martha Alvarado, disse à imprensa que os chanceleres são "bem-vindos", mas reiterou que o retorno de Zelaya "não é negociável" e que "a comunidade internacional não pode impor a um país o que seja acima das leis".
Desrespeito aos Direitos Humanos
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denunciou nesse sábado (22) a “existência de um padrão de uso desproporcionado de força pública e prisões arbitrárias” em Honduras, assim como o “controle da informação” após o golpe.
A CIDH disse que constatou “repressão exercida contra as manifestações através de provocações militares, a aplicação arbitrária de toques de recolher, a prisão de centenas de pessoas e maus tratos”. A comissão destacou que considera de “particular gravidade a morte de 04 pessoas e vários feridos por arma de fogo” e pediu uma “investigação exaustiva” das mesmas, já que poderiam envolver agentes do Estado.
A CIDH encerrou na quinta-feira a sua visita a Honduras destinada a avaliar as denuncias de abusos contra os seguidores do deposto presidente Zelaya após o golpe que instalou no poder Roberto Micheletti. A missão recebeu desde a segunda testemunhos de diferentes pessoas, além de visitar várias regiões do país. Membros da Frente Nacional de Resistencia contra o golpe desfilaram diante da missão da CIDH dando o seu testemunho dos abusos cometidos por policiais e militares do governo que tem reprimido as manifestações a favor de Zelaya.
A CIDH disse ter constatado que “a ruptura da ordem constitucional originada pelo golpe de Estado está acompanhada de uma forte presença militar” em vários âmbitos da vida civil, a suspensão das garantias mediante o toque de recolher – que a seu juízo não reúne os padrões internacionais –, assim como a irregularidade dos recursos judiciais”. A comissão disse que apenas o retorno da institucionalidade democrática “permitirá que se dêem as condições para o efetivo cumprimento dos direitos humanos”.
A CIDH pediu ao governo que adote medidas para “garantir o direito à vida, integridade pessoal e liberdade pessoal” e exigiu que os responsáveis pelas violações dos direitos humanos sejam “devidamente julgados e penalizados”. O chanceler de fato hondurenho, Carlos López Contreras disse que “não há grandes surpresas” no informa preliminar do CIDH. O governo havia dito que o grupo de observadores apresentava uma tendência de denunciar Honduras.
Com agências