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Lula ou Obama? Apoio presidencial pode definir sede olímpica

Depois de gastar US$ 50 milhões para promover Chicago e percorrer o mundo para confraternizar com os potentados esportivos do planeta, os organizadores da campanha da cidade americana para sediar a Olimpíada de 2016 estão ansiosos em relação a um último detalhe: será que o primeiro cidadão de Chicago, o presidente Barack Obama, vai viajar à Europa no mês que vem para a tentativa final de convencer o Comitê Olímpico Internacional?

Por Roger Thurow, de Chicago, no The Wall Street Journal

Embora os méritos técnicos de uma candidatura olímpica – o tráfego ao redor do estádio que abriga a cerimônia de abertura, a textura da areia para o vôlei de praia, as correntes de ar-condicionado no ginásio do tênis de mesa – possam ser mais importantes para uma organização bem-sucedida dos jogos, a campanha pessoal dos chefes de Estado se tornou crucial para se conseguir de fato o evento.

Depois que um escândalo de corrupção balançou o COI anos atrás, a prática antiga das cidades candidatas de cobrir a centena de membros do comitê com presentes foi proibida. Agora é a adulação que vale mais.

Na escolha da Olimpíada de 2012, o primeiro-ministro Tony Blair foi mais persuasivo que o presidente francês Jacques Chirac, e Londres bateu Paris. O lobby pessoal de Vladimir Putin ajudou a garantir os Jogos de Inverno de 2014 à obscura cidade russa de Sochi, em detrimento de Salzburgo, na Áustria, o conhecido berço de Mozart e da Noviça Rebelde.

"É importante para o COI (…) que você lhes dê o respeito", diz John Bitove, um empresário canadense que comandou a fracassada campanha de Toronto para 2008, vencida por Pequim.

As rivais de Chicago já anunciaram que seus líderes estarão em Copenhague para a escolha, em 2 de outubro: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor do Rio, o rei Juan Carlos para Madri e o príncipe e a princesa do Japão para Tóquio. O prefeito Richard Daley tem sido o principal promotor da candidatura de Chicago, mas a cidade espera que Obama compareça. A Casa Branca informa que nenhuma decisão foi tomada.

A votação quatro anos atrás para a Olimpíada de 2012 estabeleceu o precedente para o confronto de estadistas. Nas semanas que antecederam a decisão, Paris era considerada a favorita, à frente de Londres e Nova York. Mas Blair chegou à sessão final do COI três dias antes e se encontrou com uma multidão de membros do comitê. Chirac chegou tarde. O presidente americano George W. Bush, preocupado com a guerra no Iraque, nem apareceu.

Londres ganhou de Paris por quatro votos. Nova York foi eliminada numa rodada anterior. O voto é secreto, mas uma série de membros do COI disse depois que o lobby de Blair foi provavelmente decisivo.

Chirac também pode ter perdido votos quando, na companhia de outros líderes, ironizou a culinária britânica: "Depois da Finlândia", disse, "é o país com a pior comida". A Finlândia tinha dois membros no COI durante aquela eleição – talvez os votos que tenham feito Londres ganhar.

A língua solta também pode ter derrubado Toronto. A cidade era considerada forte candidata para 2008, até que seu prefeito disse, antes de uma viagem à África, que temia acabar num caldeirão de água fervente, cercado por índios. Em vez disso, ele foi provavelmente queimado pelos membros africanos do COI, que muitas vezes dão votos decisivos na escolha das sedes já que o continente raramente apresenta uma candidatura.

O comitê de avaliação das candidaturas a 2016 deve divulgar seu relatório técnico sobre os méritos de cada uma das quatro finalistas hoje. Especialistas acreditam que a geografia reduziu a disputa a Chicago e Rio. O COI gosta de fazer uma rotação de continentes, de modo que os últimos jogos em Pequim são vistos como desvantagem para Tóquio. O fato de a Europa sediar e m 2012, com Londres, é considerado um ponto contra Madri.

Os EUA não sediam os jogos desde 1996, em Atlanta. A América do Sul nunca foi sede.

Em discursos em vídeo para recentes reuniões de membros do COI, tanto Obama quanto Lula os exortaram a fazer história com seus votos.

A delegação do Rio estudou os poderes persuasivos de Obama durante sua campanha eleitoral e afirma que vai moldar sua candidatura olímpica com ecos do slogan favorito do presidente americano. Carlos Roberto Osório, o secretário-geral do comitê da candidatura Rio 2016, diz: "Representamos a esperança, a mudança, o 'Sim, nós podemos'".