O Globo perde assinantes e adota tática agressiva

Após oito anos assinando O Globo, o leitor Osmar Fernandes decidiu de uma vez por todas cancelar sua assinatura do jornal. Motivo: discordâncias com a linha editorial do diário. Na verdade, não engole mais tantas mentiras e manipulações das notícias, principalmente contra o governo Lula. O Globo, é claro, não desiste de um assinante.

Por Marcos Pereira

A insistência do jornal em manter mais um assinante não se dá, obviamente, apenas por motivos financeiros. Ocorre, sobretudo, para preservar o monopólio das ideias circulantes e, assim, garantir a permanência do status quo.

Osmar foi por mais de dez anos assinante do Jornal do Brasil, de outrora mais democrático, com colunistas e jornalistas respeitáveis. Em 2001, o jornal que já vinha em decadência é comprado pelo empresário Nelson Tanure. O JB então se aprofunda na defesa do modelo neoliberal e do governo FHC, integrando o que hoje se chama de PIG (Partido da Imprensa Golpista).

Foi então que deixou de assinar o JB e mudou para O Globo. Não que este tivesse uma postura diferente do jornal de Nelson Tanure. Mas fazer o que: deixar de ler jornal? Como se informar?

A cada dia, manchetes mentirosas e textos que se desmentem. É então que vem a idéia de cancelar a assinatura. Ou seja, pra que continuar sustentando um jornal que não faz outra coisa a não ser manipular a informação, trabalhando dia e noite para derrubar o governo Lula. Como disse Gramsci, “o operário deve negar decididamente qualquer solidariedade com o jornal burguês. Deveria recorda-se sempre, sempre, sempre, que o jornal burguês (qualquer que seja sua cor) é um instrumento de luta movido por ideias e interesses que estão em contraste com os seus. Tudo o que se publica é constantemente influenciado por uma ideia: servir a classe dominante, o que se traduz sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora”.

Como tudo tem limite, há quase um mês Osmar cancelou sua assinatura. Ligou para o jornal e disse para a atendente que desejava cancelar a assinatura, “de forma irrevogável”. “Por quê?”, pergunta ela. “Não concordo com a linha editorial”. A mulher, é claro, tenta demove-lo da ideia, fazer com que volte atrás, mas sem sucesso.

Dias depois, chega por email nova tentativa. Como pode um assinante de tantos anos largar o jornal de um dia pro outro? A mensagem é educadamente ignorada. Os dias seguem e novo telefonema. É o setor de vendas do jornal tentando fazer com que Osmar reveja sua posição. Oferece vantagens. Seria problema financeiro do assinante? Não, apenas não quer mais sustentar esse jornal, pois não consegue ler uma notícia que sabidamente não corresponde à verdade.

Apesar de cancelada a assinatura, quase um mês depois o jornal continua chegando diariamente na sua casa. Talvez não tenham avisado ao entregador, talvez ainda achem que podem fazê-lo mudar de opinião.

Pois na última semana foi a vez de um diretor do jornal. Isso mesmo, não mais alguém do setor de vendas, mas um DIRETOR. Foram 30 minutos ao telefone, lançando mão de elogios e frases persuasivas: “você é um leitor crítico do jornal, é a pessoa que queremos para ser nosso assinante”. “Sei que nem todos concordam com a nossa linha, mas toda unanimidade é burra, não pode haver um jornal só de direita ou de esquerda, é preciso ter um centro”. Para o diretor, O Globo seria um mediador entre as forças políticas. Não teria lado. O diretor então tenta dizer que compartilha das ideias de Osmar, diz que já foi leitor de Marx, que gosta de alguma ideias da esquerda, blá, blá, blá.

Sem conseguir o que queria, o diretor apela mais uma vez para o financeiro, oferecendo uma assinatura para o fim de semana. Mais uma tentativa inútil. Não se sabe até quando o jornal continuará chegando na casa de Osmar sem que ele seja assinante ou qual será o próximo passo? Como dito mais acima, é claro que o problema maior de perder um assinante não é financeiro, mas talvez seja reflexo da tão abalada ditadura midiática, que a cada dia tem sua posição mais contestada. Quem sabe um telefonema da própria família Marinho?