Maluf pode se livrar de denúncia de lavagem de dinheiro
O tempo conta duplamente a favor do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP): graças à idade avançada (recém completou 78 anos) e à tramitação prolongada de um inquérito criminal, ele poderá livrar-se, já neste ano, de eventualmente vir a ser punido por crimes de lavagem de dinheiro, delitos que lhe são atribuídos pelo Ministério Público Federal.
Publicado 13/09/2009 14:41
Maluf conta com o benefício da dúvida –a presunção de inocência– e com a certeza de que os processos costumam ser mais demorados no Supremo Tribunal Federal, em Brasília. O inquérito subiu para o STF quando Maluf foi eleito, em 2006, pois ganhou direito a foro especial.
A demora o favorece, pois aumenta a hipótese de prescrição. É quando se esgota o prazo previsto em lei para que o Estado possa exercer o direito de processar ou condenar alguém.
Como tem mais de 70 anos, Maluf também é beneficiado por uma lei que reduz pela metade o tempo para a prescrição, cuja contagem começa da data do suposto crime. Pelos cálculos da Procuradoria, já neste ano ele não poderá ser condenado por eventual crime de lavagem de dinheiro na Inglaterra; a suposta prática do mesmo delito na Suíça prescreve em 2010, e, na ilha de Jersey, em 2014. Um eventual crime de formação de quadrilha estará prescrito no próximo ano.
O ex-prefeito nega as acusações. Segundo seu assessor de imprensa, Adilson Laranjeira, "Paulo Maluf não tem e nunca teve conta no exterior".
Em agosto de 2007, o ministro Eros Grau, do STF, arquivou inquérito em que Maluf era investigado por crime de corrupção na construção do túnel Ayrton Senna, porque o prazo para responsabilizá-lo havia se esgotado em 2004.
Desde fevereiro de 2007, está com o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, o inquérito 2.471, em que Paulo Maluf e mais dez pessoas, entre elas sua mulher, Sylvia, os filhos Flávio, Lígia, Lina e Otavio e outros familiares foram acusados criminalmente pelos mesmos fatos que motivaram recente bloqueio de bens numa ação civil pública em São Paulo.
Maluf responde a processos de natureza civil e criminal. Na área cível, o Ministério Público Estadual pretende trazer de volta para o país US$ 166 milhões. Esse dinheiro teria sido desviado de obras públicas superfaturadas quando Maluf foi prefeito (1993-1996), remetido ilegalmente ao exterior por doleiros e "laranjas", e "lavado" em investimentos na Eucatex, empresa da família. A lavagem é uma operação pela qual o dinheiro "sujo", obtido de forma ilícita (crime antecedente) retorna ao mercado como se fosse "limpo", dificultando a comprovação da origem ilícita.
Na esfera criminal, Maluf é acusado de lavagem de dinheiro –por três vezes– e de formação de quadrilha. Segundo a Procuradoria, trata-se de lavagem do dinheiro proveniente dos crimes de corrupção passiva e de organização criminosa.
Lewandowski ainda deverá submeter a denúncia aos demais ministros do STF, que decidirão pelo recebimento ou não da acusação (o recebimento interrompe a contagem do tempo para prescrição).
Lewandowski não atendeu ao pedido do então procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, para que o processo fosse desmembrado. Nessa hipótese, ficaria no STF só a denúncia contra Maluf; os demais acusados seriam julgados em São Paulo, na primeira instância da Justiça Federal.
"Muito provavelmente o caso estaria em fase final na primeira instância", diz o procurador da República Rodrigo de Grandis, autor da denúncia. Ele diz que a jurisprudência do STF tem sido favorável ao desmembramento. Processos com muitos denunciados tendem a ser demorados. Já foram juntados ao processo mais de 60 petições.
De Grandis ofereceu a denúncia em 2006, na véspera da diplomação de Maluf. O advogado do ex-prefeito, José Roberto Leal, classificou a iniciativa de "um passa-moleque no Supremo" e a assessoria do prefeito ameaçou processar o procurador. O que não aconteceu.
Outro lado
O advogado José Roberto Leal, que defende o deputado federal e ex-prefeito Paulo Maluf no Supremo Tribunal Federal, afirma que, "se há demora [na tramitação do inquérito no STF], é o Ministério Público que a provoca".
Segundo o advogado, a denúncia contra Maluf tem o mesmo andamento de outros processos semelhantes que tramitam no STF. "O motivo pelo qual o processo ainda não chegou à fase de decisão é que o Ministério Público vem apresentando, "à moda do conta-gotas", elementos que eles entendem necessários ao julgamento.
Recentemente vieram para os autos 120 apensos com mais de 20 mil folhas. Isso importou, de acordo com a lei, na abertura de vista à defesa, para que pudesse manifestar-se sobre esses documentos", afirma Leal.
Para ele, ao indeferir o pedido de desmembramento do processo, o ministro Ricardo Lewandowski manteve o mesmo entendimento que foi usado pelo STF para negar o desmembramento de outros processos nas mesmas condições.
A Procuradoria Geral da República não forneceu informações, porque o inquérito tramita sob segredo de Justiça. A assessoria do STF informou que Lewandowski não comenta processos em tramitação.
Fonte: Uol