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Lula e Meirelles: é hora de investir

Lula, Meirelles e Mantega comentam desempenho da economia em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), conhecido como “Conselhão”. Para Lula é hora de os empresários retomarem os investimentos. O presidente Meirelles e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacaram na reunião que a queda forte dos investimentos foi o fator mais negativo da crise financeira global.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, incentivou os empresários a retomar os investimentos.
"É como se a febre tivesse passado e agora não é hora de dar antibiótico. É hora de dar vitamina" à economia, afirmou.

Lula deixou claro, mais uma vez, que o governo desistiu da reforma tributária. "Já mandei dois, e não vou mandar um terceiro projeto, porque nem tenho mais tempo", afirmou ele, sobre as propostas enviadas ao Congresso. "A verdade é que parte da sociedade não quer a reforma", disse o presidente.

Lula, Meirelles e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacaram na reunião do Conselhão que a queda forte dos investimentos foi o fator mais negativo da crise financeira global. As empresas ainda estão buscando desovar seus estoques, mesmo decorrido um ano da piora da crise em setembro de 2008.

"Quem parou por causa da crise, comece agora a investir", Lula convocou. Ele disse acreditar que, em três anos, a crise terá sido debelada no resto no mundo, "e quem estiver mais preparado, vai sair na frente. E nós não temos porque parar". Lula estimulou os empresários a buscar recursos orçamentários para investimentos em inovação tecnológica. Ele disse que o governo não vai desviar os recursos alocados no Ministério da Ciência e Tecnologia. Por isso, "esse dinheiro precisa ser usado para melhorar a educação", afirmou o presidente.

Manchetes negativas

Alegando estar cansado por ter retornado de Roraima de madrugada, Lula enfatizou que a saída da crise não levará o governo a afrouxar os controles fiscal e da inflação. "Não vamos abrir mão da nossa responsabilidade fiscal, e a inflação não vai voltar. Não abriremos mão de controlar a inflação, porque toda vez que ela volta, é uma desgraça para este país", disse Lula.

Ele aproveitou para voltar a alfinetar os críticos do governo. "No Brasil, tem uma parte que não tem jeito, que não quer que as coisas deem certo." Disse que, por causa da "empáfia" e de manchetes negativas de certos setores da imprensa, "muita gente foi prejudicado pela crise, porque acreditou nas manchetes".

Por fim, Lula determinou que o Conselhão crie um grupo de empresários e representantes governamentais para "estrutura a cadeira produtiva do pré-sal". Para que a Petrobras não tenha que importar processos e equipamentos. "O grande desafio é fazer com que grande parte desses produtos sejam produzidos no país", completou.

Mantega disse que a reunião do Conselhão serviu de "comemoração" ao bom comportamento da economia brasileira, durante a crise. "Nós, hoje, temos uma razão para comemorar. Vencemos uma etapa importante. A crise está ficando para trás", sentenciou Mantega.

O ministro da Fazenda voltou a criticar os bancos privados pela falta de crédito. "O setor financeiro privado travou o crédito com a crise", disse ele, citando que a oferta dos bancos públicos subiu 25%, enquanto a dos privados cresceu 3%, entre setembro do ano passado e junho deste ano. "O crédito voltou a crescer, embora lentamente, por isso é preciso mais agilidade para chegar ao setor produtivo", comentou Mantega.

Transferências de renda

O ministro voltou a afirmar o bom desempenho do país, agradeceu a vários setores do governo e, em especial, a Lula, por ter "pedido ousadia e rapidez" nas medidas anticrise. Reafirmando que o Brasil "sai mais forte " da crise que a maioria dos países, ele ressaltou a maior capacidade de recuperação da economia brasileira do que em crises no passado.

"Adquirimos capacidade de fazer políticas anticíclicas, de fazer estímulos à economia", disse Mantega citando as causas da boa performance de agora. "No passado, quando terminava o ciclo de crescimento, tínhamos que pagar a conta", afirmou o ministro. "Agora, temos um ciclo onde a economia cresce equilibrada, sem inflação, sem produzir dívida externa, gerando emprego por estimular a agricultura familiar e a construção civil, por exemplo, polos de grande geração de emprego", continuou.

Mantega citou ainda como exemplo do "sucesso" brasileiro, as transferências de renda por políticas sociais do governo, como aumento do salário mínimo. "Portanto, termina o ciclo e estamos prontos para voltar a crescer", continuou ele. O ministro da Fazenda afirmou que o custo fiscal das medidas adotadas pelo governo para superar a crise não é caro, se comparado aos gastos de outros países. "Nós gastamos menos e com uma resposta muito boa. Está previsto que o Brasil terá o menor déficit fiscal (nominal) de todo o G-20", disse.

Comércio exterior

Ele afirmou que, no ano passado, o déficit nominal do Brasil foi de 1,98% sem considerar a Petrobras, que representa 0,5% do PIB, nem a economia do Fundo Soberano do Brasil, que também representa 0,5% do PIB. Segundo o ministro, se fossem incluídos os dois, o déficit teria sido de 1%.

Para este ano, Mantega disse que, pelos cálculos do mercado, a previsão é de um déficit nominal de 2,2% do PIB e, para 2010, de 0,53% do PIB. "Ou seja, o déficit previsto para 2010 é o Fundo Soberano. Se usar os recursos do Fundo, zera o déficit. É uma situação bastante confortável. Estamos caminhando para déficit zero", disse o ministro. Mantega também afirmou que já está havendo uma recuperação nos postos de trabalho no Brasil. Segundo ele, o saldo líquido de emprego formal em julho foi de 138 mil postos "e tudo indica que, em agosto, e a partir daí, serão criados mais empregos do que até agora".

Ao concluir sua apresentação, o ministro enumerou os problemas que considera que ainda precisam ser resolvidos. O primeiro deles é a retomada do comércio exterior, já que, segundo Mantega, os setores que mais se recuperaram estão voltados para o mercado interno. O ministro disse que também é preciso haver uma retomada dos investimentos, o que, segundo ele, deve ocorrer nos próximos meses. "O investimento é o último que volta, mas acredito que a utilização da capacidade instalada já está sendo absorvida e logo mais teremos o aumento dos investimentos", afirmou.

Problemas cambiais

Outro "velho problema", segundo Mantega, a ser resolvido é a valorização cambial. Ele garantiu que o governo não pretende mudar o regime de câmbio, mas afirmou que é preciso que o governo faça um esforço para responder a essa questão, com a redução dos custos na economia, que atrapalham a produção. Mantega disse que é preciso reduzir o custo financeiro e avançar na área tributária. "Mas não me falem em renovação (da redução) do IPI", disse o ministro. Ele acredita que a valorização do real é reflexo da solidez da economia brasileira.

Mantega aproveitou para recomendar aos empresários que aproveitem a crise para ganhar mercado. Ele disse que os demais países, em dois ou três anos, também terão saído da crise. Para o ministro, esta é a oportunidade para as empresas irem às compras e consolidarem suas posições no mercado internacional. O ministro ainda disse que o governo também conta com a entrada das reservas do pré-sal.

Para ele, embora elas possam trazer problemas cambiais, o governo estará vigilante para evitar que o País se torne apenas exportador de petróleo. Mantega concluiu seu discurso afirmando que a crise pôs a prova a economia brasileira e que o Brasil conquistou a confiança internacional e se tornou um protagonista. "Isso não tem retorno. Está aberta a rota para sermos um dos países mais importantes do mundo".

Com informações do Valor Econômico