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G20: A África quer ser lembrada em Pittsburgh

Por ser o único país africano com um lugar no Grupo dos 20 e copresidir um grupo de trabalho para reformar o Fundo Monetário Internacional, a África do Sul tem “a obrigação moral de exigir uma administração mais responsável do sistema financeiro global”.

Por Stephanie Nieuwoudt, para a agência IPS

Assim exigiu o ramo sul-africano da rede civil Chamado Global à Ação Contra a Pobreza (GCAP) do ministro das Finanças desse país, Pravin Gordhan, que participa da reunião de dois dias iniciada ontem na cidade norte-americana de Pittsburgh.

O consenso geral é que a cúpula do G-20, que reúne países industrializados e emergentes, estará dominada por conversações sobre como administrar os sistemas financeiros e impedir outra crise econômica. O GCAP enviou uma carta aberta a Gordham insistindo na necessidade de uma prudente administração do setor financeiro global. A carta destaca que o G-20 deve se concentrar em uma melhor regulação do sistema corporativo, bancário e financeiro, segundo disse o porta-voz da rede, Rajesh Latchman.

“Ao promover um sistema como esse, se assegurará que as recessões sejam detectadas antes e que os efeitos nas economias emergentes no Sul sejam evitados ou ao menos minimizados”, prossegue a carta. O GCAP também pede aos países do G-20 que forneçam recursos adicionais às nações pobres para enfrentar a crise, e sem condições prejudiciais para sua economia. “Sabemos que o ministro Gordhan terá uma batalha difícil, mas esperamos que apresente estes temas na cúpula”, disse Latchman.

Alguns pensavam que os países africanos estariam protegidos contra a crise financeira global, mas isso não aconteceu: muitos sofreram uma queda em seu produto interno bruto. A África do Sul também foi afetada. Milhares de pessoas perderam seus empregos quando as companhias decidiram reduzir custos. “Embora os bancos sul-africanos não tenham sido arrastados tão profundamente pela crise, para eles é melhor uma economia mundial estável. Portanto, a África do Sul também tem interesse em regulações bancárias mundiais”, disse à IPS Daryl Glaser, professor associado de Estudos Políticos na Universidade de Witwatersrand, em Johannesburgo.

Um dos temas pelos qual a África do Sul deveria pressionar, afirmou Glaser, é por maior representação africana em organismos multilaterais como o FMI, e também por regras eqüitativas para todas as nações em matéria comercial. “Os países do Sul querem melhor representação no planejamento econômico mundial”, segundo Glaser. “Os direitos de voto nestes organismos (FMI e Banco Mundial) estão distorcidos a favor do Norte, e exercem grande pressão sobre as nações do Sul para que abram seus mercados. Mas as do Norte não são tão abertas quanto seu discurso sugere”, acrescentou.

“Para mim, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, é mais protecionista do que seu antecessor, Thabo Mbeki. A África do Sul levantou as barreiras comerciais de proteção muito rapidamente na década de 90. este é um dos fatores que contribuíram para a alta taxa de desemprego. Há espaço para um moderado grau de protecionismo que impeça um país de ficar extremamente vulnerável”, disse Glaser. Deve-se pressionar os órgãos internacionais para que honrem suas promessas de ajudar os países africanos a sair da pobreza. “Na África subsaariana, a ajuda deve continuar sendo um tema importante. Na carta também se diz que quando foi dado apoio financeiro aos países da Europa oriental lhes foram impostas menos condições do que no caso da ajuda para as nações do Sul”, prosseguiu o professor.

Francis Kornegay, pesquisador associado no instituto Relações Internacionais, disse à IPS que não espera “nenhuma brecha entre o Norte e o Sul sobre como regular o sistema financeiro mundial” durante a cúpula em Pittsburgh. “Creio que a cúpula do G-20 verá mais consenso do que diferenças nesse tema. Mas, todos os países têm agendas próprias de reformas para regular os mercados financeiros. A África do Sul tem a vantagem de os bancos aqui não terem se exposto a uma estrangeira engenharia financeira”, ressaltou.

Por sua vez, o Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB) pediu ao G-20 que aumente os recursos do órgão para atender as crescentes demandas por financiamento pelas nações africanas. Em uma declaração transmitida desde Tunis, o presidente do AfDB, Donald Kaberuka, pediu para o G-20 não esquecer a África e os países de baixa renda em geral quando a economia mundial “der sinais de recuperação”. O AfDB espera que seus investimentos passem dos US$ 5,8 bilhões de 2008 para US$ 11 bilhões este ano. Este aumento em compromissos se deve particularmente em resposta a crise mundial.

Fonte:IPS/Envolverde