Lula não tolera "ultimato de governo golpista" de Honduras
"O Brasil não irá tolerar um ultimato de um governo golpista", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo (27), rechaçando o prazo de dez dias dado pelo regime militar de Honduras para o Brasil definir o status do presidente constitucional hondurenho, Manuel Zelaya. Lula fez a afirmação numa entrevista coletiva em Porlamar, na Venezuela, onde participa da Cúpula América do Sul-África.
Publicado 27/09/2009 21:45
"Zelaya foi expulso do poder da maneira mais vergonhosa possível", disse Lula. "Para mim, a solução é simples: os golpistas devem sair do palácio presidencial", afirmou o presidente. "Se entrarem pela força, estarão cometendo um ato que rompe as normas internacionais", advertiu.
Lula frisou que Manuel Zelaya é o presidente legítimo de Honduras. Ele reiterou também que seu status é hóspede da embaixada do Brasil em Tegucigalpa.
Segundo o presidente brasileiro, Zelaya deve retornar ao poder e convocar eleições presidenciais para definir seu sucessor. "Se os golpistas convocarem eleições, muito poucos países reconheceriam (os resultados)", comentou Lula. Para ele, poucas vezes na história houve tanto consenso na postura internacional contra um governo golpista.
Passados três meses do golpe, nenhum país reconheceu o governo Roberto Micheletti, títere dos generais golpistas. Na sexta-feira passada, uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU repudiou como uma "provocação" o cerco à embaixada imposto pelos golpistas.
A diplomacia brasileira passou dos bastidores para o centro da crise hondurenha, ao abrigar o presidente Zelaya, que retornou clandestinamente ao seu país, na segunda-feira passada (21), 86 dias depois de ser deposto, sequestrado e expulso por um golpe militar. Os críticos do governo Lula, inclusive internamente, veem na atitude um comportamento de risco. Os apoiadores invocam a necessidade de coerência na condenação do golpe de 28 de junho.
Também em Honduras as opiniões se dividem. A elite dominante, simpática ao golpe, passou a hostilizar o Brasil e acusá-lo de interferência. Já as camadas populares, partidárias de Zelaya, entusiasmam-se com a firmeza de Lula.
O Itamaraty informou também neste domingo que não reconhece como legítimo o comunicado no qual o atual governo de Honduras teria dado um prazo de dez dias para o Brasil definir as condições da presença do presidente deposto Manuel Zelaya na embaixada brasileira localizada em Tegucigalpa. De acordo com a Agência Brasil, o Itamaraty informou que não dará qualquer resposta ao posicionamento do presidente interino Roberto Micheletti, uma vez que Brasília não reconhece como legítimo o governo instaurado após o golpe que tirou Zelaya do poder.
No comunicado lido em cadeia nacional de TV no sábado à noite, a chancelaria de Micheletti solicitou "o governo do Brasil que defina o status do senhor Zelaya dentro de um prazo de não mais de dez dias. Caso assim não ocorra, veremo-nos obrigados a tomar medidas adicionais conforme o direito internacional", ameaçou.
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