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Mantega: Pagamos o preço por ser um dos países mais bem sucedidos

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta quinta-feira que o governo está comprando "agressivamente" dólares no mercado para neutralizar as pressões "momentâneas" provocadas por operações no mercado de capitais, mas negou haver movimentos especulativos. Ele também comentou as expectativas sobre o comportamento da taxa básica de juros, a Selic.

"De fato, o Brasil está pagando hoje o preço por ser um dos países mais bem sucedidos", afirmou o ministro em entrevista coletiva após a divulgação do balanço parcial do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Mas, até o presente momento, eu considero que a entrada de capitais externos na bolsa é positiva", disse. Ele citou como exemplo a oferta inicial de ações (IPO, da sigla em inglês) do Santander Brasil, que levantou R$ 14,1 bilhões.

Para Mantega, essas operações trazem uma pressão momentânea no câmbio, mas não provocaram um movimento especulativo. Se ele surgir, disse, o governo adotará medidas para coibi-lo. Nesta semana, a chegada de bilhões de dólares para o IPO do Santander foi absorvida pelo Banco Central (BC), em uma repetição da estratégia adotada diariamente nos últimos meses de enxugar o excesso de liquidez e reforçar as reservas internacionais, que já superam US$ 225 bilhões.

Mantega também afirmou não haver necessidade de o BC elevar a taxa de juros nem agora nem no próximo ano. A avaliação de Mantega foi feita após analistas do mercado financeiro especularem a tendência de alta que deverá ser tomada pela autoridade monetária.

"Este ano vamos terminar com resultado positivo. No próximo ano 5% é uma taxa de crescimento que os analistas estão projetando. Com esse cenário não há pressão inflacionária na economia. É o melhor resultado das economias do G-20 e não gera pressão inflacionária. Alguns setores estão precipitando-se, fazendo análises com muito entusiasmo. A economia está preparada para crescer 5% no ano que vem, sem gerar nenhuma pressão inflacionária adicional. Não vejo nenhuma necessidade de alguma elevação da taxa de juros", disse.

Estímulos econômicos

Ele ainda classificou como "suposições equivocadas" as projeções maiores para os juros do mercado futuro e disse que iniciativas como essa podem refletir uma disposição do mercado de trabalhar com juros maiores.

"Alguns analistas começaram a interpretar que estaria em curso um aquecimento da economia maior do que aquele que estava realmente na nossa previsão. Isso é um equívoco, na minha impressão. A taxa de juros do mercado futuro andou subindo por diversas suposições equivocadas. Tenho a impressão que alguns setores estão tentando criar condições para subir a taxa de juros. Não precisamos dessa elevação. Tem gente que está interessado em subir a taxa de juros. Ela é indevida", afirmou.

Mantega avaliou que as expectativas sobre juros no mercado estão exageradas já que o governo brasileiro não se excedeu nos estímulos econômicos. Ele também afirmou que, "às vezes", o otimismo do investidor estrangeiro no país preocupa. "Não se sustentam as ideias de que estaremos (crescendo) acima de 5% (em 2010). Acho que está havendo excesso de otimismo", disse.

Resultado fiscal

"A meu ver, tem gente interessada em elevar as taxas de juros porque parte do mercado lucra com os juros mais altos. Temos que tomar cuidado com isso porque não tem nenhum fundamento técnico." As projeções futuras de juros na BM&FBovespa apresentaram alta significativo recentemente, em meio a apostas de que o ciclo de aumento da Selic possa começar mais cedo que o previsto inicialmente, em razão de uma recuperação mais forte da economia.

Mantega também alertou contra excessos vindos de investidores estrangeiros. "De tão alto nosso conceito (no exterior), às vezes até me preocupa. O pessoal está doido para vir aqui fazer investimento", disse. Ele disse que o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter se expandido de 2% a 2,2% no período, acima da alta de 1,9% registrada no segundo trimestre do ano. Para 2009, a previsão de Mantega é de crescimento de 1%. Em 2010, a expansão será de 4,5% a 5%.

O ministro reiterou que o governo não irá usar o resultado fiscal com propósito eleitoral no ano que vem, afirmando que a meta de superávit primário voltará a subir em 2010. "Não vamos usar o fiscal para fazer estímulo eleitoral. Não se sustentam as críticas que se fazem ao quadro fiscal brasileiro." Mantega também voltou a citar que, no campo fiscal, a situação brasileira é muito melhor que de outros países, como China e Índia.

Imposto de Renda

O ministro repetiu ainda que durante a crise global, os bancos privados do país adotaram postura mais conservadora. "Não tivesse havido expansão dos bancos públicos, não teríamos tido uma recuperação tão rápida."

Ele informou ainda que, devido à crise econômica e à queda da arrecadação, os contribuintes estão tendo que esperar um pouco mais para receber a restituição do Imposto de Renda de 2009. Mantega disse que não existe uma regra rígida para a liberação das restituições, agendada de acordo com a disponibilidade do Tesouro Nacional e conforme a arrecadação.

O ministro mandou uma mensagem para contribuintes, dizendo que eles não terão prejuízo, porque as restituições são corrigidas pela taxa básica de juros, a Selic. Questionado sobre a possibilidade de auditores da Receita Federal estarem criando mecanismos para reter um número maior de contribuintes na malha fina, Mantega afirmou que não existe nenhum "artificialismo" nesse sentido.

Com informações da Agência Brasil