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Lucros e perdas pela desvalorização do dólar

Como é possível que a Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) registre alta de 17% nos últimos 12 meses e alguns que investiram nisto não terem ganho nada ou até já perderam 15%? A resposta encontra-se na moeda com a qual compraram as ações norte-americanas que se valorizam em dólar.

Por Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil

A crise de crédito alterou os fundamentos que os investidores conheciam até hoje sobre a relação do dólar com a evolução das demais formas de investimento, como as ações, as debêntures, o petróleo e outras. O recente grande tombo do dólar contra as demais moedas básicas tornou mais visível esta mudança no jogo de xadrez dos investimentos mundialmente.

Antes da crise de crédito, o preço do petróleo e do dólar evoluíam na mesma direção. Mas esta relação – desde 2007 – foi derrubada. Igualmente, poderia alguém esperar que aumentassem os desempenhos dos bônus norte-americanos por causa do tombo do dólar. Contudo, isso não está acontecendo hoje.

Existem várias explicações para isso. Uma relaciona-se à tendência dos investidores de assumirem riscos maiores, principalmente, desde março deste ano, quando emergiram à superfície os primeiros sinais de estabilização da economia mundial. Algo assim aconteceu com o Brasil e todos aqueles que não previram corretamente a paridade do real e do dólar perderam.

Os primeiros sinais de recuperação da economia mundial resultaram em uma corrida às bolsas internacionais de valores. A Nyse registrou alta de 17% nos últimos 12 meses e, desde o início do ano, 13,74%.

Entretanto, o apetite para se assumir riscos maiores, em sintonia em os elevados ritmos de crescimento do Brasil e das elevadas taxas de juros de curto prazo, tiveram como resultado o fluxo de gigantescos capitais estrangeiros e a explosão da paridade do real.

Todos os investidores norte-americanos que compraram há um ano ações no Brasil ganharam no total 160%. A alta da Bolsa de Valores de São Paulo atingiu 88%, mas os desempenhos dos norte-americanos, fortalecidos pela valorização do real, foram superiores.

O contrário aconteceu com os investidores brasileiros que compraram ações nos EUA. Perderam 15%, apesar da alta da Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE) em 17%.
Já o investidor europeu que havia comprado ações norte-americanas há um ano não ganhou rigorosamente nada. O euro tem sido valorizado contra o dólar em 16% nos últimos 12 meses, isto é, o equivalente à alta do indicador S&P 500 durante o correspondente período nos EUA.

Simultaneamente, as moedas asiáticas, que acompanham a evolução do dólar, perderam contra o euro. Isto funcionou a favor dos investidores da Ásia. Todos aqueles que investiram na Zona do Euro, junto com a alta das bolsas de valores da Europa lucraram também com a valorização do euro.

Por exemplo, o investidor japonês comprando ações da Zona do Euro e pagando-as com ienes ganhou nos últimos 12 meses 27,31% e a partir do início deste ano, 28,14%. A alta do indicador DJ Euro Stoxx 50, que acompanha a evolução das bolsas de valores da Zona do Euro durante período correspondente, foi de 17,92% e 18,31%. O restante dos desempenhos para o investidores japonês resultou da valorização do euro contra o iene.

O quebra-cabeça das paridades levou alguns investidores a registrarem altos lucros durante o período da crise financeira, durante o biênio passado. Quando as bolsas de valores do mundo inteiro registravam perdas gigantescas, todos aqueles que compraram com libras esterlinas ações no Brasil registraram nos dois anos anteriores lucro de 33,6%.

Este ano seus lucros superam o recorde de 100%, graças à valorização do real. Estes gigantescos lucros provêm das mudanças das paridades que certas vezes incentivam os investidores estrangeiros a realizarem liquidações, com resultado as fortes oscilações nos mercados.