Artigo: Sim, nós podemos! por Jeany Aguiar

Já percorremos um mês desde o anuncio do Comitê Olímpico Internacional de que o Rio de Janeiro ganhara o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, uma grande conquista que ainda emociona qualquer esportista ou nacionalista tupiniquim.

O reconhecimento da capacidade brasileira, por parte da humanidade esportiva, materializa a importância e a credibilidade do país junto à comunidade internacional e constitui fato histórico de grande relevância para o Brasil e a América Latina no cenário global. Está enfim exorcizado nosso “complexo de vira-latas” que Nelson Rodrigues tanto falava.

Hospedar os Jogos Olímpicos é a chance de despertar a consciência dos valores esportivos entre os brasileiros, identificando o desenvolvimento do esporte como parte integrante do patrimônio cultural da humanidade. O acesso à prática esportiva proporciona ao indivíduo uma vida mais saudável, melhorando sua capacidade física e mental, na busca por uma melhor qualidade de vida e pela saúde plena. Independentemente de a atividade esportiva praticada ser recreativa, escolar ou de alto rendimento, o esporte é um meio de aprender sobre nossos limites corporais e de como nos relacionarmos com o limite dos outros.

O legado que as Olimpíadas deixarão através de mudanças na economia, no turismo, nas atividades de segurança, nos projetos educacionais, na intervenção ao meio ambiente e na infra-estrutura da cidade do Rio de Janeiro é um reparo histórico com a ex-capital da Coroa e do Brasil. Repleta de dificuldades estruturais, tendo 45% de suas escolas sem instalações esportivas e com sérios problemas de segurança pública, nos transportes, urbanísticos e sociais esta é a oportunidade singular de ofertar ao Rio de Janeiro as condições para possa fazer jus a como és mundialmente conhecida: a Cidade Maravilhosa.

A realização dos Jogos Olímpicos proporciona avanços econômicos para a cidade e o país sede. Esta é uma máxima que sabemos ser inegável. Contudo, exige-se responsabilidade para realizar o mega-evento, principalmente na infra-estrutura da cidade sede. Em Montreal 1976 os gastos desordenados acabaram por gerar aumento de impostos no estado canadense do Quebec, ao passo que Atlanta 1996, no vizinho Estados Unidos, ficou marcada pelo bom uso das estruturas após os jogos e o lucro da iniciativa privada.

Para que as Olimpíadas não se tornem um “presente de grego” e os benefícios econômicos sejam maiores que os investimentos, o planejamento deve ser criteriosamente elaborado e o projeto responsavelmente executado. A Autoridade Pública Olímpica a ser constituída no Rio de Janeiro com os três níveis de governo, tem que ter a participação da sociedade civil organizada e o olhar atendo do Ministério Público. De modo a se evitar os equívocos ocorridos como em Londres 2012 que já triplicou a previsão de investimentos ou nos Jogos Pan-Americanos do Rio 2007 cujo orçamento inicial sofreu um acréscimo de 10 vezes.

Para o sucesso do projeto olímpico é importante a participação de todos na formação da geração vencedora de atletas do ciclo olímpico Rio 2016. Porém, só passaremos a ser protagonistas no quadro de medalhas se os brasileiros puderem praticar esporte. O Brasil precisa fomentar a implantação de uma política esportiva com a participação ativa do setor privado e alicerçada em políticas públicas para o esporte. O país necessita impulsionar sua vocação desportiva através da produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico voltado para a gestão de políticas sociais de esporte e lazer. A qualificação e a formação continuada dos gestores e dos agentes sociais de esporte e lazer são tão importantes quanto à construção de aparelhos esportivos. Porquanto são eles que executam as políticas sociais de esporte e de lazer e que podem viabilizar e garantir o acesso da população brasileira em todos os seus segmentos etários (criança, adolescente, jovem, adulto, idoso), bem como de pessoas com deficiências ou com necessidades educacionais especiais.

Prevista para ser assistida por 4,4 bilhões de telespectadores em todo planeta, as Olimpíadas do Rio movimentarão todos os setores da economia gerando um aumento significativo do PIB brasileiro. Em média, 54% das riquezas criadas no país são distribuídas fora da cidade sede dos Jogos.

É nesta maré de entusiasmo provocado pela chama olímpica que o estado do Tocantins precisa surfar. A prática das modalidades olímpicas tem que ser entendida como um direito da juventude tocantinense. É necessário massificar o esporte para ocupar a lacuna da falta de cultura esportiva em nosso estado. Integrar o movimento olímpico brasileiro, atraindo cada vez mais jovens para os ideais olímpicos, é tarefa que proporcionará cidadania aos jovens do estado caçula da federação.

Destacam-se neste contexto as condições privilegiadas que nossa querida capital tocantinense possui. Além das inúmeras quadras poliesportivas espalhadas por toda cidade, Palmas é toda margeada de um lado pelo magnífico Lago do Lajeado e do outro pela exuberante Serra do Carmo, possuindo condições ímpares para a prática de todos os esportes, inclusive os náuticos, os radicais e os ecoturísticos.

Espera-se que haja uma compreensão desta potencialidade e a propositura de um trabalho sério e ordenado na promoção de um projeto esportivo que contemple desde o esporte de base ao esporte de excelência, proporcionando uma grande valorização para o Tocantins. Afinal é importante alcançar índices no atletismo, na natação, no basquete, etc… , mas é imprescindível melhorar nosso índice no Enem e diminuir nossos índices sociais do trabalho infantil, da criança fora da escola, do desemprego, da degradação ambiental, do trabalho escravo…

Acreditando na capacidade da nação de sincronizar a harmonia com a evolução de todas as alas, o samba-enredo será de investimento no ser humano. Que a coletividade entenda que o esporte é, em ultima instância, um ícone do desenvolvimento social.

Jeany Barbosa Aguiar

Presidente do CEJUV-TO

(Conselho Estadual de Juventude do Tocantins)

* Jeany Aguiar é ex-Diretor Jurídico da União Nacional dos Estudantes – UNE (primeiro tocantinense a compor a diretoria da UNE) e foi o primeiro Presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Tocantins – DCE/UFT. Atualmente é Secretário de Organização da Direção Estadual do PCdoB-TO e Presidente do CEJUV-TO.