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Fed alimenta 'bolha de ativos', afirma Nouriel Roubini

O consumo, especialmente nos Estados Unidos, tem se mantido anêmico e o retorno ao crescimento visto no terceiro trimestre foi principalmente por causa das medidas de estímulo do governo, disse Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, o economista que "previu" a crise mundial.

"Aquelas medidas podem continuar a impulsionar o crescimento até o início do próximo ano. Mas, a menos que o consumo seja revivido para assumir o lugar do governo nos gastos, os mercados estão enfrentando um crescente risco centrado na remoção das políticas monetárias de acomodação nos EUA e ao redor do mundo."

Uma retirada muito rápida dos estímulos provoca o risco de uma recessão de duplo mergulho, "como vimos no Japão ou nos Estados Unidos em 1937", disse Roubini. "Se levar muito tempo (para retirá-los), provoca o risco de criar um desastre fiscal e elevar a inflação."

Ao mesmo tempo, o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos) está desestabilizando os mercados financeiros globais ao alimentar outra gigantesca bolha de ativos com a manutenção de sua taxa de juro próxima de zero. Ontem o BC americano manteve o juro entre zero e 0,25% (ler ao lado) e manteve a indicação de que o juro permanecerá em níveis baixos por um "período prolongado".

Ao longo deste ano, o dólar se moveu cada vez mais para o centro das operações de "carry trade". Com as taxas de juro em zero nos EUA, os investidores globais que buscam risco e altos retornos estão cada vez mais tomando empréstimos em dólar – moeda considerada de baixo risco – para investir em moedas com retorno mais alto e ativos, como ações, commodities e mercados emergentes. Essas transações pressionam o dólar, à medida que investidores vendem a moeda para investir em outros lugares.

A grande alta nas ações, commodities e outros ativos de risco é resultado da mesma transação, disse Roubini. E isso tem sido exacerbado não apenas pelo fato de o Fed manter seu juro próximo de zero, mas também pelas compras de títulos do Tesouro pelo banco central, para manter baixos não apenas os juros na parte curta da curva, mas também na longa, portanto, reduzindo a volatilidade.

"Quando isso se desenrolar, vai ficar feio", disse Roubini. "Todos que estão vendidos em dólares vão tentar sair daquelas posições ao mesmo tempo e teremos uma debandada." O dólar terá de se recuperar no final, disse o economista. O Fed, no final, vai parar de comprar a dívida do Tesouro e a possibilidade de taxas de juro mais altas vai aumentar tanto a volatilidade quanto o dólar.

Roubini disse que a atual "festa" pode continuar por mais seis meses. Mas ela vai terminar mal, alertou, já que a alta nos preços dos ativos desde março é outra bolha criada por uma imensa liquidez global. "A forte alta foi demais, muito rápida", disse Roubini na conferência Inside Commodities, na Bolsa de Nova York.

"Se tivermos uma recuperação em V, então é justificada e os ativos podem subir mais. Mas acredito que teremos uma recuperação na forma de U, na qual aqueles ativos podem se mover de lado ou sofrer correção". Quando o petróleo caiu de US$ 145 para US$ 30 por barril, os mercados estavam precificando uma depressão econômica. "Esse risco foi agora significativamente reduzido pelos gigantescos estímulos fiscais e políticas monetárias frouxas."

Mesmo quando a crise de crédito começou a se revelar, foi o petróleo a US$ 145 no ano passado o ponto de virada que empurrou a economia global para recessão, disse Roubini. Se os preços do petróleo continuarem a ser alimentados por um excesso de liquidez e especulação, o petróleo em US$ 100 pode ser "uma martelada na cabeça" da nascente recuperação global, alertou o economista. 

Com agências