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Manobra golpista: Congresso vota retorno de Zelaya após eleição

Congresso hondurenho só votará o tema da restituição do presidente deposto Manuel Zelaya após as eleições presidenciais de 29 de novembro. Escancarando de vez a tática golpista de retardar um acordo para tentar legitimar o golpe nas urnas, o presidente do Legislativo, José Alfredo Saavedra, anunciou nesta terça-feira (17) que convocará sessão para o dia 2 de dezembro, três dias após o pleito.

Segundo ele, os parlamentares ainda estão aguardando o parecer do Supremo Tribunal Federal, que tinha pervisão de ser concluído nesta quarta. Ao anunciar sua decisão, Saavedra, deputado que substituiu o presidente do Congresso após o golpe, mostrou-se indiferente à decisão de Zelaya de não aceitar um possível retorno tão próximo das eleições e adiantou que os 128 congressistas discutirão a questão de qualquer maneira. "O farão em conformidade com o acordo Tegucigalpa-San Jose", disse ele.

A decisão do Congresso sobre a reposição de Zelaya, com base em pareceres de outros órgãos hondurenhos, era parte de acordo costurado pelos EUA para dar fim à crise política em Honduras. Mas, diante do que chamou de manobras dos golpistas para permanecerem no poder, Zelaya declarou que não aceitaria mais nenhum acordo ou negociação com o governo de fato.

O adiamento da decisão dos legisladores para depois da eleição presidencial coloca em dúvida a legitimidade do pleito ante a comunidade internacional. Enquanto os EUA – de maneira dúbia – vêm dando indicativos de que aceitariam as eleições independentemente da restituição de Zelaya, o Brasil e outros países da região exigem a volta do deposto para reconhecer o resultado eleitoral.

Assim que tomou conhecimento da decisão do Congresso de adiar a votação para depois das eleições, o líder legítimo de Honduras classificou a ação como uma "barbaridade". "Fizemos muito bem em nos retirar desse jogo sujo de Micheletti", disse Zelaya em um breve comentário à Agência EFE, em referência a sua decisão de dar por fracassado o acordo com o ditador Roberto Micheletti, devido à intenção deste último de liderar um governo de unidade e reconciliação.

No sábado (14), Zelaya enviou uma dura carta ao presidente dos EUA, Barack Obama, na qual afirmava que não aceitaria mais acordo com o governo ditatorial, mesmo que o documento previsse seu retorno ao cargo, porque isso seria "encobrir o golpe de Estado".

Zelaya conversou mais tarde com o subsecretário de Estado adjunto para o Hemisfério Ocidental dos EUA, Craig Kelly, sobre a contradição na qual entrou Washington com relação a sua restituição no poder. "Eu coloquei a necessidade de esclarecer essas relações porque não se pode seguir tendo uma contradição tão enorme como a que estamos neste momento mantendo com os Estados Unidos", acrescentou.

"Me reconhecem como presidente, dizem que sou o líder democrático de Honduras, que estão lutando pela restituição da democracia e a restituição minha, no entanto, estão comparecendo à atividades que está desenvolvendo o governo que não reconhecem, o governo ilegítimo do senhor (Roberto) Micheletti", disse.

Com agências

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