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Filme coloca o papa no divã. E o Vaticano aprova

Um Papa deprimido, que não se considera à altura da missão que lhe foi dada, busca um psicanalista. E o encontra: é nada menos do que o célebre Nanni Moretti, um dos diretores mais importantes do cinema europeu e grande personagem crítico da esquerda italiana.

Também como ator, Nanni ouvirá as angústias do Pontífice na ficção do filme que irá começar a ser filmado e que irá se chamar "Habemus Papam", a fórmula que um cardeal proclama da sacada da Basílica de São Pedro quando anuncia, com a multidão reunida na praça, que um novo pontífice foi eleito.

A surpresa é que a cúpula da Cúria Romana não é hostil ao projeto de Nanni, considerado detentor de um caráter difícil. No sábado, viu-se Moretti na Capela Sistina diante do Papa verdadeiro, Bento XVI, que o havia convidado, junto com 260 artistas italianos. O Papa lhes dirigiu um discurso de grande envergadura intelectual sobre a fé, a cultura e o gênio artístico.

O superinteligente e aberto Dom Gianfranco Ravasi, promovido a "ministro" da Cultura do Papa e, portanto, iminente cardeal, entregou uma medalha do pontificado a um sorridente Moretti. Foi o artista com o qual ele mais conversou. "Nos últimos tempos, vimos-nos várias vezes: ele me deu o roteiro do filme para ler", disse o arcebispo. "A sua ideia é interessante, porque não se detém na questão do poder, mas busca uma visão psicológica", revelou.

"Pelo que eu li, não é uma provocação, mas claro que será preciso ver o filme. Não é uma polêmica sobre o suposto poder do novo Papa. A crise pessoal nasce do esplendor, da grandeza do dever que lhe deram. Tanto é assim que, no final, o Papa pede que rezem por ele". Depois, Dom Ravasi fez um anúncio importante. Pela primeira vez, a Igreja estará presente na Bienal de Veneza a partir do ano que vem, com seu próprio pavilhão.

Sabe-se pouco sobre o filme "Habemus papam". Há poucos dias, volantes foram distribuídos no centro de Roma pedindo idosos entre 65 e 85 anos de idade, de todas as nacionalidades. Latino-americanos, asiáticos, africanos: deles, sairão os cardeais eleitores reunidos na Capela Sistina no Conclave, que elege o novo Papa. Não se sabe quem será o eleito para interpretar o Pontífice. Talvez, ele sairá do grupo dos cardeais, talvez não. Também buscam-se pessoas para que representem os fiéis. Pessoas mais jovens.

Nanni Moretti ganhou vários festivais com seus melhores filmes. Alguns acreditam que se "Habemus Papam" terminar a tempo, terá assegurado o Festival de Cannes ou o de Veneza. Nanni é um homem de esquerda, mas muito crítico com a italiana. E acusa: "Uma classe política que permitiu o que acontece (com Berlusconi) não é séria. E não é sério um país que permite tudo isso".

Segundo a revista Familia Cristiana, o autor de "Querido Diario" sabe equilibrar "sua veia polêmica e irônica com a verdade dos sentimentos". Talvez o Vaticano espera que essa fórmula expressa o gênio de Moretti em "Habemus Papam"

Fonte: Clarín