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Honduras: um país armado e com um altíssimo número de crimes

"Desculpe-me, o senhor está armado?". A pergunta é lançada com uma assustadora tranquilidade por um guarda de segurança privada na entrada de um shopping de Tegucigalpa. A cena se repete na porta da maioria das lojas do centro comercial – onde revisam bolsos e bolsas – e no hall de um dos hotéis mais exclusivos da capital. Claro que, nesse caso, o guarda não espera a resposta de um distinta dama que lhe diz: "Por que não pergunta aos delinquentes, antes de incomodar pessoas honradas como eu?".

Honduras é um país violento e armado até os dentes, tanto que alarmaria mais de um famoso ou famosa da Argentina: com apenas 7,5 milhões de habitantes – 4,5 milhões maiores de 18 anos – existem, nessa empobrecida nação centro-americana, mais de 220 mil armas registradas. Mas órgãos de direitos humanos especializados no assunto calculam que existam outras 550 mil mais que circulam pelo país de forma ilegal.

"Isso é um círculo, porque as pessoas se armam para se defender dos roubos e dos homicídios, mas ao mesmo tempo, ao haver tantas pessoas armadas, os homicídios crescem", diz Leyla Díaz, coordenadora de segurança civil do Centro de Pesquisa e Promoção dos Direitos Humanos (Ciprodeh).

"Honduras tem uma das maiores taxas de homicídios per capita do mundo", acrescenta Díaz. O índice de homicídios em Honduras foi de 58 para cada 100 mil habitantes em 2008, segundo a ONU. Na Argentina, é de 5,6 para cada 100 mil.

Para o analista Efraín Díaz, as causas não devem ser buscadas só na pobreza, que castiga 70% dos hondurenhos. "Existem razões históricas e culturais, porque neste país sempre se cuidou da propriedade com as armas. Do grande proprietário de terras até o agricultor mais pobre protegem o que têm com uma arma", explica.

Acrescenta-se a isso o fato de que Honduras foi, nos anos 70 e 80, "território livre" para que os "contras" nicaraguenses desestabilizassem a Revolução Sandinista. "Isso fez com que entrasse aqui uma grande quantidade de armas, e, ao acabar os conflitos na Nicarágua, em El Salvador e na Guatemala, elas ficaram aqui com a melhor oferta", agrega Díaz.

E agora o fenômeno do narcotráfico acrescenta outro componente a essa realidade, porque Honduras se converteu no "corredor obrigatório" do tráfico de drogas na América Central.

Só em 2008, houve em Honduras 4.473 homicídios, 25% mais do que em 2007, conta Leyla Díaz, do Ciprodeh.

E acrescenta outro dado que não é menor: "Desde sempre, principalmente no interior, é comum ver homens armados, também como uma demonstração de virilidade e de machismo".

Comprar qualquer tipo de arma legal ou ilegal é fácil em Honduras. Basta ir a "La Armería" – a única loja autorizada pelas Forças Armadas para vendê-las e que, segundo todas as suspeitas, é de militares aposentados – e pagar 500 dólares por um calibre 22 ou 38 e um pouco menos de 800 por uma nove milímetros. "O calibre 22 está saindo muito agora, porque é ideal para uma mulher. Leve e fácil de usar", diz um vendedor.

No mercado ilegal, pode-se conseguir essas mesmas armas por menos da metade. E um AK 47, considerada uma arma de guerra e proibida para "uso civil", custa cerca de 500 dólares.

Por isso, não chamam a atenção as perguntas do vigia privado e nem o fato de que o governo de fato de que Roberto Micheletti tenha proibido, desde segunda-feira da semana passada, o porte de armas.

Fonte: Clarín

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