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Hondurenhos temem violência e polícia reprime boicote

“Desde a noite de sábado (27) até este domingo (28), vamos entrar nas casas para combater os descontentes com as eleições, porque pode haver tentativas de boicote”. A declaração do subcomissário de polícia de Tegucigalpa, José Flores, em entrevista à reportagem do Opera Mundi em Tegucigalpa, dá uma boa ideia do clima para as eleições deste domingo em Honduras.

Os 4,6 milhões de eleitores hondurenhos, sendo 1 milhão residentes no exterior, poderão escolher um presidente, três vice-presidentes, 128 deputados e os integrantes de 298 corporações locais. Mas como além da tradição de alta abstenção existe uma campanha dos aliados do presidente deposto Manuel Zelaya para que as pessoas não votem, analistas estimam que o índice de abstenção pode superar 50%. Para combater isso, os meios de comunicação que não foram tirados do ar, quase todos aliados à ditadura em vigor, fizeram neste sábado constantes chamados para a população ir às urnas.

Mídia operando de um lado, forças de segurança do outro. O subcomissário Flores conta que foi implementada uma operação para vigiar 95% da capital. E o mesmo em todo o país.

Na tarde de sábado, tropas do exército e da polícia invadiram a sede da Red Comal, uma conceituada ONG que fomenta o desenvolvimento produtivo das comunidades camponesas, no interior do país. Também no interior, membros da Resistência denunciaram que na sexta-feira à noite dois helicópteros e quatro comboios com efetivos militar e policial armados dispersaram uma reunião pacífica.

Na capital do país, explodiu outra bomba nos arredores da sede de uma emissora nacional de rádio, sem causar danos significativos. Com esta bomba, já são mais de 30 explosões desde o golpe de Estado de 28 de junho, 11 das quais explodiram na última semana, causando trocas de acusações entre a Resistência e os golpistas.

"Toque de recolher popular"

Enquanto a Resistência alega ser um movimento pacífico e se desvincula das ações, o regime aproveita para aumentar a repressão seletiva. Por isso, a direção da Frente convocou um "toque de recolher popular" para que os hondurenhos não saiam de casa para votar e “evitem ser reprimidos pela ditadura”, como anunciou o coordenador Juan Barahona.

Outro dos coordenadores, Rafael Alegría, completou: “Vale a pena perder a vida para manchar o dedo e avalizar este golpe de Estado, limpar as eleições? Claro que não". Em Honduras, os eleitores deixam suas impressões digitais na hora de votar.

É o que pensa Diana Varela, professora e membro ativo da Resistência: “Não vou sair à rua, tenho medo. Os militares vão ficar provocando e vão colocar a culpa em nós”. E mesmo que não houvesse violência, ela não votaria porque “são eleições ilegais, sob uma ditadura que assassinou mais de 20 pessoas”.

Já o advogado Hernán Martínez garante que toda a sua família vai votar “para que se ponha fim a esta crise”. Ele gostaria que tivesse sido cumprido o Acordo de São José, que previa a volta de Zelaya ao poder, mas afirma que acima disso, está “farto” da situação e quer que o país “volte a ter paz”.

Sem supervisão de organismos internacionais e com acusações de falta de garantias para serem realizadas, as eleições ocorrerão com o presidente legítimo, Manuel Zelaya, fechado na embaixada do Brasil e o golpista, Roberto Micheletti, ausente do poder.

"Se os hondurenhos estão deixando de ir votar é porque estão sendo ameaçados, não é porque não querem ir votar", disse o candidato governista à presidência, Elvin Santos, em entrevista coletiva ao referir-se às explosões. Seu principal adversário, Porfirio Lobo, do Partido Nacional, é tido como favorito. Ele não é aliado de Zelaya, que disse inúmeras vezes que não reconhece esta eleição.

Fronteiras fechadas

Nicarágua e El Salvador decidiram fechar suas fronteiras até o fim das eleições, conforme uma fonte oficial hondurenha, e em Honduras a lei seca está em vigor desde as 6h de sábado (10h em Brasília).

Pela previsão, os colégios eleitorais devem abrir as portas às 7h no horário local (11h em Brasília) e fechar às 16h, embora o horário possa ser ampliado em uma hora por decisão do Tribunal Supremo Eleitoral ou pela própria mesa em caso de ocorrerem "dificuldades", informaram à agência EFE fontes da autoridade eleitoral.

O órgão eleitoral pretende divulgar os primeiros resultados oficiais a partir das 18h (22h em Brasília). Até este horário, não será permitido divulgar pesquisas de boca-de-urna.

Fonte: Opera Mundi