Sem categoria

Resistência a golpe quer transformar movimento em força eleitoral

Por um lado, centenas de pessoas com os dedos mindinhos limpos, sem o rastro da tinta que assinala aqueles que participaram da votação. Por outro, o sorriso estampado no rosto do nacionalista Porfirio Lobo, recém eleito presidente, de acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Esse foi o retrato das eleições em Honduras, realizadas no domingo (29).

Assembleia resistência honduras

Ao mesmo tempo em que a Frente de Resistência Nacional Contra o Golpe de Estado celebrava a derrota da ditadura em um pleito cercado de suspeitas de fraude e com baixa participação – calculada pelo movimento em somente 40% e propunha o fortalecimento do movimento nos próximos quatro anos, Lobo falou à imprensa como presidente eleito e voltou a afirmar que deseja construir um plano nacional por meio do diálogo com toda a sociedade.

“Estamos fartos de diálogo”, disse Carlos H. Reyes, membro da Frente e ex-candidato da esquerda nas eleições. “A farsa eleitoral foi um fracasso total”, pontuou. Reyes assegurou que à ditadura não importava quem ganhasse: Lobo ou o candidato do Partido Liberal, Elvin Santos, mas sim a estratégia de “desconhecer a vontade do povo e seguir impulsionando o neoliberalismo, após Zelaya impedir o crescimento desse modelo”.

Reconhecimento

A Frente exigiu da comunidade internacional que não reconheça o futuro governo, pois se trata de uma continuação do golpe de Estado que condenaram de forma unitária. “Já se sabia que um dos elementos que iriam utilizar para continuar no poder era a alteração dos resultados eleitorais, especialmente os índices de participação”, afirmou Reyes.

De fato, um dia após a controversa eleição, o TSE ainda não publicou a porcentagem definitiva de votos e mantém os dados de somente 61% das urnas.

Com esse panorama, Reyes disse que “não existe outra alternativa se não seguir resistindo” e contou que o objetivo nos próximos quatro anos é o de transformar o movimento em uma força eleitoral que possa levar o país em direção à criação de uma Assembleia Constituinte.

Reyes fez as declarações na primeira assembleia da Resistência após as eleições. No fim, as centenas de pessoas presentes ao local tomaram as ruas de Tegucigalpa com uma caravana de carros, que bloqueou o caminho até a entrada da embaixada brasileira, refúgio de Manuel Zelaya desde setembro.

Restituição

Lá, Zelaya conversou com a Rádio Globo, e disse que seguirá resistindo, além de afirmar que caso o Congresso decida restitui-lo, não aceitará. “Restituição nem para legitimar o golpe nem para validar um processo totalmente viciado de nulidade”, declarou.

Apesar das constantes perguntas feitas por jornalistas a Lobo quanto à solução para a situação de Zelaya, o nacionalista não quis se pronunciar e colocou a responsabilidade no Congresso, que decidirá a restituição amanhã (2). Após ser questionado quatro vezes sobre o assunto, Lobo deixou escapar um “Zelaya já…já foi”, o que retratou seu interesse em acabar com a crise e assumir a presidência como se nada houvesse acontecido.

Fonte: Opera Mundi