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Brasil defende produção de etanol e gera polêmica em Copenhage

Uma apresentação do programa brasileiro de biocombustíveis lotou na terça-feira (8) um dos salões onde acontece a conferência da ONU sobre a mudança climática (COP-15), em Copenhague, mostrando que a urgência em reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa tem gerado grandes oportunidades de negócios para países em desenvolvimento.

Jornalistas estrangeiros, membros de delegações internacionais e ambientalistas buscavam informações sobre o principal projeto de energia limpa apresentado pelo Brasil. Mas o clima entre os participantes era de desconfiança. Eles queriam respostas concretas sobre como a queima de cana-de-açúcar para produzir etanol não causaria danos ao meio ambiente.

"Nós temos uma grande produção de cana na Tailândia, mas ainda não estamos convencidos de que a proposta do etanol é realmente sustentável", afirmou o engenheiro Raniwat Nittarak, do Ministério de Energia tailandês, antes da apresentação.

“A emissão de gás carbônico a partir da queima de cana será compensada a cada nova etapa de plantio. Por meio da fotossíntese, as plantações vão reabsorver a quantidade de CO2 emitida e transformar em oxigênio”, explicou a cientista Thelma Krug, do Ministério da Ciência e Tecnologia e pesquisadora do IPCC (Comissão Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU).

Um estudo da ONU sobre os biocomubustíveis ressalta, entretanto, que é preciso prestar atenção à maneira como o etanol é produzido. Se o solo tiver grande quantidade de fertilizantes e resíduos agrícolas, as emissões de CO2 podem ser muito maiores do que o benefício da não-utilização de combustíveis fósseis.

A ONU sugere que seja criado um sistema de fiscalização detalhado que verifique constantemente se os novos plantios têm garantido o sequestro de carbono na mesma proporção em que foi emitido durante a queimada. Se não houver redução, a sugestão é que seja imposto o sistema de cap and trade (limites e comércio de emissões) aos produtores. Quem emitir além do limite terá de pagar o excesso de carbono.

Dinheiro verde

Um relatório divulgado nesta terça-feira pela UNCTAD (agência da ONU para o comércio e o desenvolvimento) destaca que os países em desenvolvimento podem obter altas margens de lucro se conseguirem adotar um modelo econômico sustentável.

Na conferência de Copenhague, um dos grandes temas discutidos é a necessidade dos países ricos em financiar projetos ambientais para nações mais pobres. Com mais dinheiro e tecnologia, o potencial dos países emergentes para a redução de CO2 seria gigantesco, e o mercado de carbono poderia ser uma forma de obter mais recursos.

Para pedir mais recursos para os países desenvolvidos, ativistas africanos realizaram o primeiro grande protesto dentro da conferência. Policiais acompanharam cada movimento dos manifestantes. Apesar da correria, não houve tumulto.

Desenvolvimento limpo

Segundo dados do programa CAIT (em inglês, Ferramenta de Indicadores para Análise Climática), da ONG WRI (World Resources Institute), dos EUA, mais de 35 bilhões de toneladas de dióxido de carbono são lançadas na atmosfera a cada ano. Para “seqüestrar” esse carbono, o Protocolo de Quioto criou os MDL (Mecanismos de Desenvolvimento Limpo). Pela proposta, os países ricos podem comprar a quantidade de carbono “economizada” pelas nações em desenvolvimento e, assim, aumentar a folga para cumprir suas metas.

A empresa de energia e gestão ambiental Araúna, com sede no estado de São Paulo, é uma das pioneiras no Brasil a trabalhar com MDL. O foco da companhia é o tratamento de gás metano em aterros sanitários para a geração de biogás. O sócio-fundador da empresa Marcelo Maruca, especialista em MDL e assuntos relacionados ao Protocolo de Quioto, conta ao Opera Mundi que a Araúna negocia créditos de carbono diretamente com compradores da Europa. Ele acredita que o papel dos países emergentes como o Brasil é ter inteligência e vontade política para usar o capital das nações desenvolvidas.

“Se o dinheiro causou todos os estragos que vemos hoje, somente o próprio dinheiro pode minimizar os danos ambientais. Evitar as emissões no terceiro mundo é o mínimo que os grandes poluidores podem fazer, para se redimir dos estragos provocados no passado”, diz.

Novos mecanismos

Existe uma grande expectativa na reunião do clima em torno das discussões sobre a regulamentação de novos mecanismos que possam gerar créditos de carbono. A intenção é ampliar as possibilidades do setor em regiões de florestas, já que o desmatamento é responsável por 20% dos gases causadores do efeito estufa.

O projeto conhecido como Redd (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação) quer ganhar espaço no acordo que provavelmente substituirá o Protocolo de Quioto, em 2012. A iniciativa propõe que os países em desenvolvimento recebam uma compensação financeira pela preservação ambiental.

“Se temos um cenário de desmatamento e conseguimos evitá-lo, poderíamos gerar créditos de carbono a partir dessa metodologia”, explica o economista João Batista Tezza Neto, diretor técnico-científico da Fundação Amazônia Sustentável. A entidade participa da CoP-15 na tentativa de defender o Redd.

De acordo com a consultoria norte-americana SBI, o mercado de carbono movimentou 126 bilhões de dólares no ano passado – praticamente o dobro que o registrado em 2007. Para 2020, a expectativa é de que esse número suba para 3 trilhões de dólares.

Fonte: Opera Mundi