Para nunca esquecer – artigo

Durante os dias 3, 4 e 5 de dezembro os chilenos realizaram um grande funeral público para Victor Jara, em Santiago do Chile. Se passaram 36 anos de seu brutal assassinado para que, através de exames de DNA, fossem comprovadas as causas de sua morte: foi o resultado de múltiplos ferimentos na cabeça, no tórax, abdômem, braços e pernas. Foram 44 ferimentos à bala.

Victor Jara era um artista, diretor, compositor, cantor, e foi preso no dia 11 de setembro, poucas horas após o golpe militar do general Pinochet, que derrubou o governo eleito democraticamente do presidente socialista Salvador Allende. Foi levado para o Estádio Chile, onde cerca de 5 mil presos foram concentrados, transformando-se o estádio em um grande campo de concentração.

Victor Jara foi torturado, teve suas mãos quebradas (para não poder mais tocar seu violão) e, no dia 16 de setembro, foi assassinado. No dia 18, foi sepultado clandestinamente por sua esposa, Joan Jara, e apenas outras duas pessoas. Somente em 4 de junho de 2009 seu corpo foi exumado, colhidas amostras e enfim confirmou-se a identidade do cantor-símbolo, que durante todos estes anos foi lembrado com muito carinho pelo povo chileno.

Seu funeral foi assistido por milhares de pessoas, inclusive pela presidente Michelle Bachelet. Apresentações artísticas, grupos folclóricos, poetas, se apresentaram para prestar esta homenagem ao grande artista popular que foi e segue sendo Victor Jara.

Nestes mesmos dias em que, no Chile, vemos manifestações de reconhecimento à memória de um daqueles que lutou e morreu pela liberdade, democracia e socialismo para o povo, manifestações de repúdio à tortura, às prisões e mortes cometidas pela ditadura militar chilena, aqui no Brasil, em pleno horário do almoço, assistimos estarrecidos o sr Luiz Carlos Prates, comentarista, jornalista da RBS, afiliada da Rede Globo, utilizar seu espaço – que é uma concessão pública – para fazer apologia à ditadura militar, chegando ao cúmulo de afirmar que o general Figueiredo mostrou o caminho da verdadeira democracia. Criticou também aqueles que se opuseram à "chamada ditadura militar" que, para ele, garantia segurança e liberdade.

Podem acusar os comunistas de muitas coisas. Muitos erros foram cometidos nas tentativas de se construir uma sociedade mais justa, mais igualitária, que buscasse garantir as condições mínimas de dignidade para todas as pessoas. Mas um sistema econômico e um regime político que tortura e mata poetas e cantores, jamais poderá pleitear ser qualquer tipo de referência. Para nada.

* Wladimir Crippa, Secretário de Comunicação do PCdoB SC