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Arte do grafite não existe nos museus, dizem osgemeos

"Grafite é sair na rua, não saber onde e por que fazer, mas fazer. E não receber por isso". Para Otávio Pandolfo, que forma a dupla de grafiteiros osgemeos com o irmão Gustavo, essa é a diferença entre grafite e arte contemporânea. Osgemeos, um dos nomes do grafite mais celebrados do mundo, foram os entrevistados do "Roda Viva" (TV Cultura) dessa segunda-feira (14).

osgemeos

No programa, os artistas falaram também sobre o começo da carreira, suas influências e sobre Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo.

"A partir do momento que nossa arte migra para os museus, não é grafite. A essência do grafite é sem permissão, sem ninguém te dizer o que você faz", disse Gustavo. "Grafite é toda a atmosfera em volta, não é encomenda. Dentro de uma instituição ou uma galeria de arte, precisamos criar o ambiente. Recebemos uma sala toda branca e construímos um mundo. Na rua já está tudo pronto e colocamos o nosso trabalho", comentou Otávio.

Osgemeos, cuja exposição "Vertigem" foi sucesso de público na Faap até domingo passado (13), falaram sobre a relação entre arte de rua e galerias. "Nunca quisemos levar a rua para dentro das galerias. Não é a essência do nosso trabalho. Sim, você vai encontrar elementos de ligação à rua porque vivemos muito tempo nela, mas não queremos tirar daqui para colocar ali. A influência é indireta, até meio subliminar, estamos preocupados com criar elementos 3D, trabalhar com a música, o som, fazer rodar o 'cineminha' que passa na nossa cabeça", disse Gustavo.

Kassab

Um questionamento recorrente dos entrevistadores foi diferenciar o que é arte do que é pichação. Gustavo foi taxativo na resposta: "O que muda é a caligrafia, o estilo de escrita. Mas em ambos há a voz das pessoas que querem falar, demarcar território e reivindicar algo. Somos todos transgressores".

Gustavo também criticou a atitude do prefeito Gilberto Kassab, que, em 2008, mandou pintar de cinza, "por engano", um painel de 640 metros da dupla na avenida 23 de Maio, feito com autorização da então prefeita Marta Suplicy em 2002.

"Tudo que a gente quis fazer em São Paulo foi feito por nós mesmos. Nunca tivemos apoio. Aí a atual prefeitura, com essa campanha da Cidade Limpa, apagou esse mural. Então nada justo ter que colocar isso de volta lá. Porque não fomos nós que perdemos, mas sim a população toda. Em São Paulo, há milhões de problemas, e o cara [Kassab] se preocupa em apagar uma parede dessas".

Universo paralelo

Outro ponto abordado na conversa foi a capacidade criativa da dupla, chamada por ela de "universo paralelo". "No final de 1989, surgiu a necessidade de uma coisa íntima, de trabalharmos a espiritualidade do nosso trabalho. Daí nos fechamos em um estúdio e ficamos durante anos desenhando e buscando nossa identidade. Quando vimos, criamos um universo paralelo", explica Otávio. "O mundo ali fora é chato, as regras são chatas. Tivemos que buscar coisas diferentes. Por isso o céu alaranjado, o clima dos nossos desenhos", disse Gustavo.

Para eles, o grafite proporcionou ainda a descoberta da cidade. "Com o tempo fomos descobrindo as 'malícias', traçando a geografia da cidade. Provamos que tudo é possível, que é muito difícil viver de arte no Brasil, mas que a gente pode chegar lá", diz a dupla.

O "Roda Viva" foi apresentado pelo jornalista Heródoto Barbeiro e teve como entrevistadores Laura Greenhalgh (editora-executiva do jornal "O Estado de S. Paulo"), Paula Alzugaray (editora da revista "Istoé"), Cunha Jr., apresentador da TV Cultura, e Felipe Chaimovich (curador do Museu de Arte Moderna – MAM).

Biografia

Paulistanos de 1974, os gêmeos Gustavo e Otávio começaram sua trajetória na arte de rua em meados dos anos 1980, retratando as culturas regionais do Brasil nos muros de São Paulo. Em 1993, osgemeos começaram a participar de mostras coletivas. Seis anos depois, suas criações entraram para o cenário internacional e também do circuito comercial, em países como Reino Unido, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália, Grécia, Holanda, Cuba, Japão, China, Austrália e nos Estados Unidos.

Em 2007, osgemeos foram convidados para pintar o castelo histórico de Kelburn, em Ayrshire, um dos mais importantes da Escócia. Em 2008, a dupla pintou a fachada, às margens do Tâmisa, do prédio da Tate Modern de Londres. Em junho deste ano eles coloriram em Nova York o grande muro pintado por Keith Haring, em 1982, que imortalizou o cruzamento da Bowery com a Houston.

Fonte: UOL