Paul Krugman: A missão inacabada de Bernanke
Ben Bernanke, o presidente da Reserva Federal, recentemente teve algumas coisas pessimistas a dizer sobre nossos prospectos econômicos. A economia, ele advertiu, "enfrenta alguns ventos contrários terríveis". Tudo que podemos esperar, ele disse, é "um crescimento econômico modesto no próximo ano – suficiente para causar queda na taxa de desemprego, mas a um ritmo mais lento do que gostaríamos".
Por Paul Krugman, do The New York Times, na Terra Magazine
Publicado 16/12/2009 13:55
De fato, ele pode ter sido otimista demais: Há uma boa chance de que o desemprego aumente, e não que caia, durante o próximo ano. Mas mesmo se ele diminuir, devemos perguntar: Por que a Reserva não está tentando reduzi-lo mais rápido?
Vamos a um histórico: Não acho que muitas pessoas entendem quanto de geração de empregos precisamos para sair do buraco em que estamos. Você não pode simplesmente olhar para os 8 milhões de empregos que os Estados Unidos perderam desde que a recessão começou, pois a nação precisa continuar a acrescentar empregos – mais de 100 mil por mês – para acompanhar uma população em crescimento. E isto significa que precisamos de um aumento realmente grande nos empregos, mês a mês, se quisermos ver os Estados Unidos voltar a qualquer coisa que pareça com emprego para todos.
Quão grande? O meu cálculo aproximado diz que precisamos de aproximadamente mais 18 milhões de empregos ao longo dos próximos cinco anos, ou 300 mil empregos por mês. Isto coloca o relatório de emprego da semana passada, que mostrou "apenas" 11 mil em perdas de empregos em novembro, em perspectiva. Foi basicamente um relatório horrível, que foi relatado como boas notícias apenas porque estivemos em baixa por tanto tempo que isto soa como um aumento para a imprensa financeira.
Então, se quisermos ter notícias boas reais, alguém tem que assumir responsabilidade pela criação de muitos empregos a mais. E, neste ponto, este alguém está próximo de ser a Reserva Federal.
Não quero libertar a administração Obama de toda a responsabilidade. Claramente, a administração propôs um pacote de incentivo que, para começar, foi pequeno demais e, gradualmente, foi reduzido ainda mais pelos "centristas" no senado. E as medidas que o presidente Barack Obama propôs no começo desta semana, apesar de criarem um número significativo de empregos adicionais, não chegam ao que a economia precisa.
Mas enquanto a análise econômica diz que deveríamos ter um segundo grande incentivo, a realidade política é que o presidente – encarado com obstrução total por parte dos republicanos, enquanto recebe apenas apoio moderado por alguns do seu próprio partido – provavelmente não consegue votos suficientes no congresso para fazer mais do que remendos nas margens do problema do desemprego.
A Reserva Federal, no entanto, pode fazer mais.
Bernanke recebeu bastante crédito, e com razão, pelo uso que fez de estratégias não ortodoxas para conter o dano depois da queda do Lehman Brothers. Tanto as ações da Reserva, medidas pelo seu aumento no crédito, quanto as palavras de Bernanke sugerem que a urgência do final de 2008 e começo de 2009 deram vez a uma mistura curiosa de complacência e fatalismo – um sentimento de que a Reserva fez o suficiente, agora que o sistema financeiro recuou um passo da beira do precipício, apesar das suas previsões de que o desemprego permanecerá penosamente alto pelo menos pelos próximos três anos.
O caso mais específico e persuasivo que vi para mais ações da Reserva vem de Joseph Gagnon, um ex-membro da equipe da Reserva Federal, agora no Peterson Institute for International Economics. Baseando sua análise no trabalho anterior de ninguém menos que o próprio Bernanke, em sua encarnação anterior como pesquisador econômico, Gagnon insiste que a Reserva aumente o crédito comprando mais US$ 2 trilhões em ativos. Um programa como este poderia fazer muito para promover um crescimento mais rápido, quase sem ter qualquer aspecto negativo.
Então por que a Reserva Federal não está fazendo? Parte da resposta pode ser política: Os adversários ideológicos do ativismo do governo tendem a ser tão críticos com relação ao aumento do crédito da Reserva quanto são a respeito do incentivo fiscal da administração Obama.
E isto provavelmente deixou a Reserva Federal relutante em utilizar seus poderes na sua totalidade. Enquanto isso, um número significativo de funcionários da Reserva, especialmente nos bancos regionais, está obcecado com o medo da inflação no estilo da década de 1970, que eles veem à espreita logo adiante, apesar de não haver pista dela nos dados reais.
Mas também há, acredito, uma questão de prioridades. A Reserva Federal entrou em ação quando enfrentou o prospecto de bancos arruinados; ela não parece igualmente preocupada com o prospecto de vidas arruinadas.
E é disto que estamos falando aqui. O tipo de alto nível de desemprego prolongado encarado nas previsões da própria Reserva Federal é uma receita para um sofrimento humano gigantesco – milhões de famílias perdendo suas economias e seus lares, milhões de jovens americanos que nunca conseguem iniciar suas vidas profissionais de maneira adequada porque não há empregos disponíveis quando eles se formam. Se não reduzirmos o desemprego em breve, pagaremos o preço disto por uma geração.
Então está na hora da Reserva perder esta complacência, deixar de lado aquele fatalismo e começar a ajudar na geração de empregos.
Paul Krugman é economista, professor da Universidade de Princeton e colunista do The New York Times. Ganhou o prêmio Nobel de economia de 2008. Artigo distribuído pelo New York Times News Service.