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Wagner, da CTB, quer centrais unidas pela 'reeleição do projeto'

“Temos lado e vamos procurar interferir na reeleição do projeto de desenvolvimento atualmente em curso no Brasil”. Com essa frase, o presidente da CTB, Wagner Gomes, dá o tom de como 2010 será para o sindicalismo. Veja a  entrevista do dirigente sindical, para Fernando Damasceno, do Portal CTB.


Durante a entrevista, Wagner Gomes optou por não resumir o balanço à atuação da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil em 2009, mas sim às ações realizadas desde 2008, ano de fundação da entidade. O dirigente definiu como “extremamente positivo” o trabalho desempenhado e citou o respeito conquistado pela CTB — em nível nacional e internacional — como o principal sinal de que o barco está no rumo adequado.

Apesar do balanço positivo, Wagner não se furtou a apontar setores que podem se desenvolver dentro da estrutura da Central. Para ele, a organização da CTB em cada um dos estados brasileiros precisa ser aprimorada em 2010 e nos próximos anos. “É a nossa principal tarefa”, lembrou.

Portal CTB: Wagner, em linhas gerais, qual o balanço que você faz sobre a atuação da CTB no ano de 2009?

Wagner Gomes: Na verdade nós não estamos fazendo neste momento um balanço apenas sobre 2009, mas sim sobre os dois anos de fundação da CTB. Havia um desafio, que era viabilizar a construção de uma central em dois anos. Uma central que fosse plural, democrática e combativa. O desafio político era esse. Nós fomos conversar com vários setores do movimento sindical com essa ideia e nós conseguimos, com essa definição política, fazer uma grande frente que é a CTB hoje.

Conseguimos trazer uma parte importante dos trabalhadores rurais — hoje nós somos seguramente maioria na Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). O presidente da Contag é de uma federação do Rio Grande do Sul que é ligada à CTB. E também conseguimos trazer os companheiros do setor marítimo, que até então não estava alocado em nenhuma central sindical. Então nós formamos essa grande frente que é hoje a CTB.

O primeiro desafio era conseguir os 5%, no final de 2008, para viabilizar o nosso reconhecimento. Nós conseguimos e, na avaliação feita no Congresso, a CTB joga hoje um papel político no cenário sindical, bem além das nossas expectativas. E agora, no final de 2009, conseguimos atingir a chamada cláusula de barreira, de 7% de representação. Mas o grande salto político que a CTB conseguiu foi, em primeiro lugar, o respeito das outras centrais e a marca de unidade. Hoje, quando se fala em CTB, o movimento sindical sabe que a gente vai sempre lutar para que as centrais se unifiquem ou permaneçam unificadas. A grande vitória que nós tivemos foi ver diversas atividades organizadas conjuntamente pelas seis centrais sindicais. Portanto, o balanço dos dois anos de criação é de algo acima das expectativas. É claro que nem tudo são flores, temos muita coisa a fazer, mas esse primeiro balanço é extremamente positivo.

Portal CTB: Você citou a importância de se chegar, inicialmente, aos 5% dos sindicatos necessários para o reconhecimento da CTB, e da conquista dos 7%. Há dois anos você imaginava que chegar a essa cláusula de barreira seria algo mais complexo?

Wagner: Quando fundamos a CTB a gente tinha a convicção política de que teríamos um grande espaço no meio sindical. Mas da convicção à realidade são coisas diferentes. Mas, como já disse, nos surpreendemos, pois a aceitação da CTB foi maior do que a gente esperava. A tendência de crescimento – e isso registrado no próprio Ministério do Trabalho – é comprovada por números, pois este ano crescemos mais de 63%, à frente de todas as outras centrais. Nosso desafio agora é continuar crescendo, pois há muitos sindicatos que ainda não têm qualquer filiação, muitos estão em outras centrais e pensam em vir pra CTB. Por isso é que dois anos é um período pequeno, ainda temos muito a caminhar e a alcançar para chegarmos a uma estabilidade.

Portal CTB: Quais seriam as principais conquistas ao longo desses dois anos? Você citou a Contag, mas haveria outras que pudessem ser listadas?

Wagner: A gente cita a Contag porque, tirando uma organização camponesa da China, ela é a maior organização de trabalhadores rurais do mundo, e esta relação é extremamente relevante. O destaque é que temos filiações em todos os setores da economia, tanto na indústria como no comércio, no transporte, na área rural e nos setor marítimo. Isso é algo muito grande. As outras centrais, em geral, são fincadas em determinado setor. A CTB, por sua vez, conseguiu ter representação em todos os setores da economia, algo extremamente importante. Dentro desse contexto, o que dá para se apontar como destaque é justamente o setor de marítimos, que até então não trabalhava organizado em qualquer central, e hoje a maioria de seus sindicatos é ligada à CTB.

Portal CTB: E dentro desse balanço, que autocrítica pode ser feita no trabalho feito pela CTB?

Wagner: Há um ponto, que já foi bastante discutido em nosso Congresso, que é o da organização da CTB nos estados – algo que é definitivamente, do ponto de vista organizativo, nossa prioridade número zero. Não adiante ter uma expressão nacional sem estar fincado nos estados. Temos organização em todos eles, mas precisamos consolidar e fortalecer as CTBs estaduais – essa é nossa principal tarefa. Temos nosso projeto político-sindical definido — que defende um movimento sindical combativo, plural e democrático — e temos a defesa da unicidade sindical como algo fundamental para a organização do movimento. Agora, o problema a ser enfrentado é o fortalecimento dos estados.

Portal CTB: A questão da inadimplência dos sindicatos é algo que merece uma atenção especial?

Wagner: Isso é algo que temos analisado também. Nós não iremos depender apenas do repasse sindical, pois isso uma hora pode acabar. Então nós teremos um planejamento, no começo do ano, para ver como a gente vai criar mecanismos para que a central seja sustentada basicamente pelos sindicatos. A nossa mensalidade tem um percentual baixo, de 3%, mas nós queremos que a maioria absoluta pague, pois essa é a garantia que você tem, é uma reserva que, mesmo que aconteça algo, a CTB conseguiria se manter.

Então esse problema da sustentação financeira da CTB é uma questão política de alta relevância. A pessoa que diz que entende a importância da CTB, mas não contribui, entende só pela metade. E nós temos que ter independência em relação ao governo e aos partidos políticos também na questão financeira. Ou seja, é uma questão que temos que ver com calma, para que tenhamos tranqüilidade e não tenhamos que contar apenas com o repasse sindical.

Portal CTB: Tendo em vista a importância política de 2010, quais são as principais prioridades que a CTB terá pela frente?

Wagner: O ano de 2010 será atípico, devido às eleições no Brasil, quando serão escolhidos o presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. E para nós não é indiferente quem será o futuro presidente, pois temos um projeto em desenvolvimento no Brasil — o qual apoiamos, por considerá-lo correto, embora nunca tenhamos deixado de criticar o que precisa ser alterado. Mas nós temos lado e vamos procurar, junto com as outras centrais, interferir na reeleição desse projeto que vem sendo construído no Brasil. Iremos, inclusive, com as outras centrais, tentar desenvolver a ideia de um encontro para produzir uma pauta de reivindicação, que as centrais entregariam para o candidato que a gente pretende ajudar a eleger.

Portal CTB: Logo no começo do ano?

Wagner: Provavelmente entre abril e maio, quando a campanha já estará mais em discussão. Ou seja, não vamos ficar isentos, mas nosso apoio pressupõe algumas reivindicações. Se conseguirmos fazer esse encontro das seis centrais e tirar uma pauta única, seria excelente. Tenho a confiança e a expectativa de que vamos conseguir isso. E dentro dessa pauta é certo que estará lá a redução da jornada de trabalho, a redução dos juros, o aumento real de salários e principalmente um projeto de desenvolvimento com distribuição de renda. Com isso na mão, a gente faria a defesa da continuidade desse projeto político que está em andamento, por não vermos outro lado que tenha condição de continuar cumprindo com esse desenvolvimento que o Brasil vem tendo.

Portal CTB: Pegando como gancho essa possível pauta única que você citou e pensando na campanha de 2010, qual sua avaliação da unidade demonstrada pelas centrais ao longo de 2009?

Wagner: Olha, isso já vem sendo trabalhado há algum tempo. E nós temos tido mais pontos em comum do que divergentes. Então minha expectativa é a de que a gente continue tendo mais questões convergentes, principalmente em 2010, quando iremos para esse processo eleitoral, apoiando a continuidade desse projeto. Pelo que eu tenho conversado com os companheiros das outras centrais, não teremos dificuldade em criar essa pauta unificada — e não podemos correr o risco de andar para trás. Temos aí um projeto neoliberal fazendo todo o esforço para voltar ao poder no Brasil e cabe ao movimento sindical e aos movimentos sociais, bem como aos setores mais organizados da sociedade entrar de cabeça nessa batalha para não deixar voltar o que a gente chama de retrocesso do país.

Portal CTB: Nesse sentido, você avalia como positivo o papel que os movimentos sociais, de modo geral, vêm desempenhando nos últimos anos?

Wagner: Claro. Acho que uma das questões importantes desse projeto liderado pelo presidente Lula é a disposição de ouvir as centrais. Seguramente, ao longo de seu mandato, fizemos ao menos 15 reuniões diretamente com o presidente. E isso aconteceu também com o movimento social, com o estudantil. Então o nível de participação do movimento social nos rumos do governo foi importante. É claro que o governo tem a sua política — e algumas vezes ele concordou com o movimento social, outras não. Mas esse fato de ouvir e estar sempre levando em conta o pensamento da sociedade para nós é decisivo. E é isso que vai fazer com que o Brasil tenha um rumo correto. Esse projeto que apoiamos precisa ser alterado em alguns aspectos, mas na questão central achamos que o caminho vem sendo correto. Nós mesmos em várias vezes já criticamos o atual modelo de política econômica, já fizemos várias manifestações por isso, mas na linha-mestra achamos que o caminho é correto, e a gente vai batalhar pra que esse projeto saia vencedor.

Portal CTB: E quanto ao papel desempenhado pela CTB em âmbito internacional? Você faz uma avaliação positiva do trabalho e da interação que vêm sendo feito?

Wagner: Temos feito um trabalho muito grande junto ao movimento sindical fora do Brasil. Temos duas centrais sindicais de abrangência mundial: a CSI (Confederação Sindical Internacional) e a FSM (Federação Sindical Mundial), com a qual a CTB é filiada. Já fizemos dois encontros de organização do movimento sindical em nível mundial. Acabamos também de realizar, aqui no Brasil, o 2º Encontro Nossa América, com representantes de 29 países. Então também nesse setor a CTB vem se destacando, já sendo reconhecida em diversos setores de nível mundial, graças ao trabalho forte que vem sendo feito. A gente procurou, ao longo desses dois anos, fincar estacas em todos os setores — e a avaliação que nós temos é a de que conseguimos. Feito o alicerce, precisamos continuar a obra.

Portal CTB: Wagner, esta será a última entrevista a ser publicada no Portal da CTB em 2009. Você gostaria de deixar alguma mensagem aos trabalhadores e trabalhadoras que acompanham por meio da internet os trabalhos que vem sendo realizados pela Central?

Wagner: Quero sugerir para que todos e todas descansem bastante nesse período de recesso, pois o ano que vem promete muito trabalho. E desejar também, em especial aos companheiros e companheiras da CTB, que tenham boas festas e um ano de 2010 bastante vitorioso para o movimento sindical brasileiro.

Fonte: http://portalctb.org.br