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Luis Nassif: Desafios do próximo governo

Nos últimos governos o país aprendeu a trabalhar melhor a cadeia produtiva das pequenas e micro empresas. O Sebrae nacional e os estaduais ganharam experiência, envergadura, aumentou o número de consultores, a Apex (Agência de Promoção de Exportações) passou a dar mais atenção ao segmento, sugiram alguns Arranjos Produtivos Locais (APLs) interessantes.

Por Luis Nassif, no Último Segundo

Mas ainda não se aprendeu a dar escala nas medidas de estímulo às PMEs (pequenas e micro empresas).

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Com a experiência acumulada do passado, com a musculatura das organizações dedicadas ao setor, com os avanços registrados na área de microcrédito, haverá a possibilidade de tornar as PMEs efetivamente centro de políticas econômicas mais amplas.

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A ação do próximo governo deveria se concentrar nas seguintes áreas:

1. Certificação de empresas.

Um dos melhores ativos nacionais é a tradição de certificação (padronização de procedimentos) consolidada no Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia) e no sistema ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

A certificação tornou-se elemento central no comércio exterior, tanto pela questão ambiental (certificando produções ecologicamente corretas), quanto para garantir que empresas produzam produtos de qualidade global.

Os APLs falharam por ser processo excessivamente demorado – montar grupos de pequenas empresas, ensiná-las a trabalhar em conjunto, a prospectarem mercados etc. A certificação, não. Consistirá em fornecer ao pequeno empresário ferramentas para que produza produtos certificados – isto é, com qualidade atestada.

A partir do momento que uma empresa tenha a certificação, abre-se enorme espaço para ações de massa. Por exemplo, será possível à APEX estimular a criação de tradings especializadas que prospectem mercados de nicho no exterior, invistam em produtos específicos e terceirize a produção para essas PMEs certificadas – organizadas através de um sistema de banco de dados.

2. Inovação incremental.

Muito se fala nos investimentos em inovação. Em geral consideram-se investimentos em tecnologias de ponta. Mas muitos ganhos poderão ser obtidos com avanços incrementais (pequenos avanços) em setores de baixa tecnologia mas de grande abrangência no país – como indústria têxtil, pequenas metalúrgicas etc. Institutos como o IPT tem serviços como o SOS Tecnologia, que atende pedidos de pequenas empresas com problemas tecnológicos. Mas as soluções encontradas não são multiplicadas para outras com o mesmo problema.

Aproveitando o recente movimento pela inovação, lançado pela Confederação Nacional da Indústria, será possível montar bancos de dados de soluções inovadoras, que atendam a um número muito mais amplo de empresas. Com o banco de dados na Internet e com a identificação dos problemas mais usuais, ou dos processos que podem ser facilmente melhorados, o Ministério de Ciência e Tecnologia e as Fundações de Amparo à Pesquisa poderão direcionar suas verbas para a busca dessas soluções.

Essas duas ações poderão compor políticas de massificação da inovação nas PMEs.