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Novos riscos ameaçam a economia mundial

Especulação desenfreada poderá levar a segundo "crash" creditício. O guru das debêntures, Bill Gross, CEO do Pimco, maior fundo para títulos de renda fixa no mundo, adverte que "os bônus da Grécia, Portugal, Espanha, Itália, Irlanda, assim como da França, Grã-Bretanha, Japão e EUA repousam "sobre um leito de nitroglicerina".

Por Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil

Porém, na "alça de mira" dos hedge funds e dos demais investidores institucionais encontram-se os bônus dos superendividados países integrantes da Zona do Euro, os quais compõem a infeliz sigla Piige (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).

Os especuladores, com os cofres repletos de dinheiro ganho graças ao endividamento barato, haviam iniciado suas apostas contra a dívida pública da Grécia desde dezembro do ano passado, colocando na "alça de mira" os títulos estatais gregos. E após estarem seguros de que a Grécia iria à falência, iniciaram suas apostas contra as próximas vítimas, Portugal e Espanha.

Esta situação, provocando uma derrocada dominó da confiança para com o euro, despertou os "empoados" líderes europeus de sua letargia crônica, obrigando-os a intervirem e, sonolentos, balbuciarem que iriam envidar "esforços decisivos e coordenados", os quais garantirão a segurança e credibilidade da moeda comum.

Primeiro teste

Esta vontade política evitou o primeiro e verdadeiro teste do euro desde seu lançamento nos mercados e o salvou do selvagem ataque dos especuladores. Porém, a oferta – somente de apoio político à Grécia, e não de algum compromisso específico para com a segurança e garantia dos bônus gregos – não fechou a porta aos especuladores.

Entretanto, está à espreita a ameaça de que as consequências serão muito piores, ainda até para os caros cheques que assinarão a Alemanha e demais "poderosos" da Zona do Euro. Primeiro, está em jogo o futuro da moeda comum. Segundo, os títulos estatais da Europa já começaram a perder grande parcela de seu valor, com risco de eclodir um segundo crash creditício, sequente ao primeiro pesadelo.

E isto porque uma tão grande desvalorização provocará novos e gigantescos "buracos negros" nos balanços dos bancos e de todos aqueles cujos portfólios – como os fundos de aposentadorias e pensões – estão repletos de debêntures estatais, além de alimentar uma nova rodada de contração do endividamento e, arrastar, novamente, as economias ao limbo.

Assim, enquanto, o primeiro crash de 2007 eclodiu nos EUA em decorrência da crise do subprime – empréstimos habitacionais de alto risco – e da derrocada dos títulos que foram emitidos e lastreados sobre eles, o segundo eclodirá na Europa com a feição da dívida pública.

Consequentemente, a Alemanha, a França e o Banco Central Europeu (BCE) deverão – por motivos políticos e econômicos – garantir que não deixarão a Grécia ir à falência, a exemplo do que ocorreu com todos aqueles grandes bancos dos EUA e da Europa que foram avaliados como muito grandes para se permitir que falissem. Aliás, são tão recentes e catastróficas as consequências que se seguiram após a falência do Lehman Brothers.

Governo Bush Jr.

Os prejuízos registrados, permitindo que o governo de Bush Jr. e o Federal Reserve (Fed) deixassem uma grande instituição financeira ir á falência, foram tão grandes para os governos – isto é, para os contribuintes – mostram que não existe solução alternativa para os "empoados" líderes europeus a não ser a salvação da Europa.

Destaca-se que os mercados dos bônus estatais são tradicionalmente os menos ativos, mas, desde dezembro do ano passado, estão nas manchetes de primeira página dos jornais. As preocupações quanto à capacidade da Grécia e dos demais super-endividados países integrantes da Zona do Euro de resgatarem suas obrigações levaram — em base diária — os spreads de desempenhos dos títulos de dez anos contra as correspondentes alemãs em níveis cada vez superiores.

Realmente, a pergunta "se a Grécia será deixada a falir", arrastando Portugal, Espanha e outros considerados "poderosos" que, por enquanto, conseguem escamotear seus números, já deu a volta ao mundo, provocando o pânico aos investidores.
Porém, esta pergunta não é nada peculiar para os investidores porque diz respeito a dívida pública de Estados e não a algum colosso bancário, a exemplo do que ocorria durante a recente crise financeira, e era natural que causasse pânico.

Debêntures britânicas

No que diz respeito à dívida pública da Grã-Bretanha e dos EUA, os pontos de vista entre os administradores de capitais de renda fixa são totalmente contraditórios. O Gross poderá advertir, mas alguns colegas seus insistem em que os níveis da dívida de ambos os países não parecem tão horríveis.

Eles apoiam seu ponto de vista sobre dados que revelam que a dificuldade de atendimento da dívida externa despencou em níveis muito inferiores da histórica média, nos últimos anos.

Paralelamente, alguns investidores institucionais consultados manifestaram seu temor de que os gigantescos volumes das iminentes emissões levará os preços dos bônus estatais britânicos a níveis inferiores e seus desempenhos, a níveis superiores. E o pior é que o Banco da Inglaterra (banco central) anunciou que está adiando o programa da flexibilização quantitativa (quantitative easing).

Contudo, por intermédio deste programa, já havia comprado mais de 1/5 do volume total dos bônus estatais britânicos, totalizando 200 bilhões de libras esterlinas, com resultado de se evitar um salto catastrófico de seus desempenhos com funestas consequências para a – mergulhada em queda — economia britânica e para o — em desabamento — sistema bancário da Grã-Bretanha.