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Luis Nassif: O FMI recupera o bom senso

O que leva economias nacionais ou mesmo mundial a uma crise enorme, na qual todos os sinais anteriores são ignorados pelos organismos internacionais e autoridades reguladoras?Esse é um tema que intriga economistas, cientistas sociais, todos aqueles que consideram que a economia não é uma ciência exata, mas uma ciência humana, sujeita a influências políticas, subordinada ao clima de negócios.

Por Luis Nassif, no Último Segundo

Esta semana, por exemplo, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, alertou que alguns países – como Indonésia e Brasil – correm o risco real de estarem entrando em uma bolha especulativa, devido à “avalanche” de dinheiro externo que entra na economia.

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Durante todos os anos 90 e grande parte dos anos 2000, tal alerta seria inconcebível. O FMI era o grande estimulador das aventuras mais irresponsáveis.

Em um ataque especulativo contra uma moeda, os especuladores passam a adquiri-la aos borbotões. O excesso de demanda provoca a apreciação da moeda. Nesse movimento de alta da moeda, o especulador ganha. O que pode segurá-lo é a percepção de risco, saber que uma hora a corda arrebenta e a moeda pode se desvalorizar novamente, infligindo-lhe prejuízo.

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O FMI estimulava a ousadia desse movimento porque sempre que a corda arrebentava, entrava emprestando dinheiro para que governos irresponsáveis financiassem a saída dos especuladores sem maiores prejuízos.

Foi assim em fins de 1998. O então Ministro da Fazenda Pedro Malan fechou um acordo com o FMI e praticamente empregou todo o capital emprestado vendendo dólares para os especuladores poderem sair do país com o mínimo de prejuízo possível. Um ato tão irresponsável que, poucos meses depois, já tendo gasto as reservas do FMI, o país não conseguiu segurar uma enorme desvalorização cambial.

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Com a Argentina, a irresponsabilidade foi maior ainda. A economia argentina já estava pela hora da morte e o próprio FMI sustentando que se dolarizasse – ou seja, trocasse o peso pelo dólar – o país seria salvo. Quando a bolha argentina explodiu, espalhou quebradeira e miséria por todo o país.

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Na época, com todo o mercado internacional lucrando em cima de economias enfraquecidas – como o Brasil e a Argentina – ou em cima de bolhas nas Bolsas, não havia santo que ajudasse a trazer o bom senso para o mercado. O então presidente do FED (o Banco Central americano) Alan Greenspan celebrizou-se por acalmar momentaneamente o mercado, com declarações vagas, em vezes de medidas firmes.

Com isso, ia adiando o estouro da bolha e passando a sensação de que quebras da economia eram coisas de um passado distante.

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Com a crise, restabelece-se o bom senso.

Mesmo assim, o Brasil não aprendeu a lição. A valorização do real, acompanhada da valorização dos ativos nacionais, é típico movimento especulativo, baseado em alguns fundamentos reais, com a economia indo bem.

A desvalorização do real registrada nas últimas semanas aliviou um pouco o quadro. Mas ainda não livrou o país de um acerto cambial em futuro próximo.