BC prevê déficit recorde de US 49 bilhões em conta corrente
O Banco Central (BC) elevou para US$ 49 bilhões a projeção para o déficit em conta corrente em 2010, apesar de um saldo positivo na balança comercial cuja estimativa caiu para 10 bilhões de dólares, em vez dos US$ 15 bilhões previstos antes. Inicialmente, a estimativa era de um resultado negativo de US$ 40 bilhões para a conta corrente, que agrega à balança comercial a conta de rendas e serviços.
Publicado 22/03/2010 18:24
Ao contrário do que em geral se acredita, não é a taxa de câmbio que está arrastando a conta corrente para um resultado negativo, mas as remessas de lucros e dividendos pelas multinacionais, que devem somar pelo menos 32 bilhões de dólares até o final do ano, segundo o BC. A projeção indica que o ingresso de investimentos estrangeiro direto, de US$ 45 bilhões, não será suficiente para cobrir o rombo das transações correntes. O item turismo (viagens internacionais) também fechará no vermelho, com um déficit de US$ 7,5 bilhões.
Balança comercial
Na revisão trimestral, a autoridade monetária aponta que as exportações devem ir de US$ 170 bilhões para US$ 173 bilhões em 2010 e as importações foram elevadas de US$ 155 bilhões para US$ 163 bilhões. Para a conta de serviços e rendas, a projeção foi revista de US$ 58,5 bilhões para US$ 62,5 bilhões. Já a perspectiva para as transferências unilaterais (realizadas basicamente pelos trabalhadores brasileiros no exterior) foi mantida, com ingresso líquido de US$ 3,5 bilhões.
A balança comercial brasileira apresentou déficit de US$ 48 milhões na terceira semana de março, com cinco dias úteis. No intervalo dos dias 15 a 21 deste mês, as exportações somaram US$ 3,416 bilhões e as importações, US$ 3,464 bilhões. No acumulado do mês, as vendas externas corresponderam a US$ 10,218 bilhões, com média diária de US$ 681,2 milhões. As importações totalizaram US$ 9,684 bilhões, média de US$ 645,6 milhões por dia útil.
Dessa forma, houve superávit comercial de US$ 534 milhões nas três semanas de março, conforme levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Exportação de capitais
A nota divulgada pelo BC (leia a íntegra abaixo) destaca a exportação de capitais pelo Brasil, na forma de investimentos diretos realizados pelas multinacionais verde e amarelo, que totalizaram US$4,2 bilhões, compreendendo US$4,7 bilhões em aplicações líquidas em participação no capital de empresas no exterior e US$513 milhões de retornos líquidos de empréstimos intercompanhias concedidos ao exterior.
Os investimentos estrangeiros diretos somaram ingressos líquidos de US$2,8 bilhões. Os ingressos líquidos em participação no capital de empresas no País, incluídas as conversões em investimentos, atingiram US$2,1 bilhões, enquanto os ingressos líquidos de empréstimos intercompanhias totalizaram US$753 milhões.
Apesar das reservas superiores a 240 bilhões de dólares, o avanço do déficit em conta corrente é motivo de preocupação, pois pode provocar restrições ao balanço de pagamentos e determinar crises cambiais no futuro, comprometendo as reservas. Uma das formas de prevenir maiores problemas é controlar e taxar as remessas de lucros e dividendos realizadas pelas multinacionais, que constituem hoje a principal causa do déficit em conta corrente.
Leia abaixo a íntegra da nota divulgada pelo BC:
I – Balanço de pagamentos – Fevereiro de 2010
O balanço de pagamentos registrou superávit de US$741 milhões em fevereiro. As transações correntes foram deficitárias em US$3,3 bilhões, acumulando déficit de US$28,1 bilhões nos últimos doze meses, equivalente a 1,66% do PIB. A conta financeira apresentou ingressos líquidos de US$4 bilhões no mês. Destacaram-se as saídas líquidas de investimentos diretos brasileiros, US$4,2 bilhões, e os ingressos líquidos de investimentos estrangeiros diretos e em carteira, US$2,8 bilhões e US$2 bilhões, respectivamente.
A conta de serviços apresentou déficit de US$2,1 bilhões em fevereiro, 131,6% superior ao registrado para o mesmo mês de 2009. As despesas líquidas com transportes somaram US$403 milhões, aumento de 131,7% na mesma base de comparação. A conta de viagens internacionais registrou despesas líquidas de US$491 milhões, ante déficit de US$120 milhões em fevereiro do ano anterior, com aumento de 81,1% nos gastos efetuados por brasileiros no exterior e de 18% nas despesas de turistas estrangeiros no País. Dentre os demais itens da conta de serviços, no mesmo período comparativo, destacaram-se as elevações nas despesas líquidas de aluguel de equipamentos, 18,8%; computação e informações, 58,9%; royalties e licenças, 99,7%; e seguros, 46%. Os serviços financeiros registram receitas líquidas de US$36 milhões, ante despesas líquidas de US$66 milhões ocorridas em fevereiro de 2009. Os outros serviços registraram ingressos líquidos de US$456 milhões, 16,1% inferiores aos ocorridos em igual mês do ano anterior.
As remessas líquidas de renda para o exterior totalizaram US$1,8 bilhão no mês, elevação de 2,5% em relação a fevereiro do ano anterior. As saídas líquidas de renda de investimento direto somaram US$1,2 bilhão, ante US$852 milhões no mesmo período comparativo. As remessas líquidas de renda de investimentos em carteira atingiram US$428 milhões, redução de 18,2% em relação a fevereiro de 2009. Em fevereiro, a despesa líquida de renda de outros investimentos somou US$168 milhões, ante US$439 milhões verificados em mesmo período do ano anterior. As despesas líquidas totais de lucros e dividendos atingiram US$1,3 bilhão, com variação de 13,8% no período comparativo, enquanto aquelas relacionadas a juros, US$584 milhões, reduziram 17,8%.
No mês, as transferências unilaterais acumularam ingressos líquidos de US$227 milhões, 17,9% inferiores ao resultado de fevereiro de 2009.
Os investimentos brasileiros diretos no exterior registraram aplicações líquidas de US$4,2 bilhões, compreendendo US$4,7 bilhões em aplicações líquidas em participação no capital de empresas no exterior e US$513 milhões de retornos líquidos de empréstimos intercompanhias concedidos ao exterior.
Os investimentos estrangeiros diretos somaram ingressos líquidos de US$2,8 bilhões. Os ingressos líquidos em participação no capital de empresas no País, incluídas as conversões em investimentos, atingiram US$2,1 bilhões, enquanto os ingressos líquidos de empréstimos intercompanhias totalizaram US$753 milhões.
Os investimentos estrangeiros em carteira apresentaram entradas líquidas de US$2 bilhões no mês. Os investimentos em ações e em títulos de renda fixa, ambos negociados no País, apresentaram entradas líquidas de US$3,2 bilhões, comparados a US$2,4 bilhões registrados no mês anterior. Os bônus negociados no exterior apresentaram amortizações líquidas de US$1,1 bilhão, decorrentes de despesas de US$589 milhões referentes ao pagamento do Euro 10 e recompras de papéis soberanos, US$521 milhões, incluídos os ágios. Os investimentos em notes e commercial papers apresentaram despesas líquidas de US$65 milhões no mês, incluindo captações de US$1,1 bilhão e amortizações de US$1,2 bilhão. As amortizações líquidas em títulos de curto prazo somaram US$75 milhões em fevereiro, comparados a US$30 milhões no mês anterior.
Os outros investimentos brasileiros no exterior resultaram em retornos líquidos de US$1,2 bilhão em fevereiro, compreendendo concessão líquida de empréstimos, US$3 bilhões; redução de depósitos de bancos brasileiros no exterior, US$2,1 bilhões; e ampliação de depósitos de demais setores, US$249 milhões.
Os outros investimentos estrangeiros no País registraram ingressos líquidos de US$5 bilhões em fevereiro. O crédito comercial de fornecedores registrou amortizações líquidas de US$647 milhões, resultado de saídas líquidas de US$568 em curto prazo e de US$80 milhões em operações de médio e longo prazos. Os empréstimos aos demais setores apresentaram ingressos líquidos de US$5,7 bilhões, compostos por desembolsos líquidos de agências, US$2,3 bilhões; de créditos de compradores, US$697 milhões; de empréstimos diretos, US$451 milhões; e de organismos, US$37 milhões. Os empréstimos de curto prazo somaram ingressos líquidos de US$2,2 bilhões em fevereiro, ante US$1,5 bilhão no mês anterior.
II – Reservas internacionais
As reservas internacionais, no conceito liquidez, que inclui o saldo das operações de empréstimo em moedas estrangeiras no exterior, somaram US$241,3 bilhões em fevereiro, com crescimento de US$516 milhões frente ao apurado no mês anterior. No conceito caixa, as reservas totalizaram US$241,1 bilhões, aumento de US$599 milhões, no mesmo período.
As intervenções da autoridade monetária resultaram em compras líquidas de US$433 milhões, compostas por aquisições à vista, US$350 milhões, e por retornos de US$83 milhões de operações de empréstimo em moedas estrangeiras no exterior.
No período, ocorreram, ainda, receitas de US$277 milhões com a remuneração das reservas, enquanto as demais operações externas, que incluem principalmente as variações de preços e de paridades, reduziram o estoque em US$111 milhões.
Em fevereiro, o estoque de operações de empréstimo em moedas estrangeiras no exterior reduziu-se para US$256 milhões, contra US$339 milhões apurados no mês anterior.
III – Dívida externa
A dívida externa total, estimada para o mês de fevereiro, atingiu US$203 bilhões, elevação de US$4,8 bilhões em relação ao montante apurado para dezembro de 2009. No período, a dívida externa de médio e longo prazos aumentou US$3,9 bilhões, atingindo US$171,1 bilhões, e o estoque de dívida de curto prazo, com elevação de US$942 milhões, situou-se em US$31,9 bilhões.
Em fevereiro, os principais fatores de variação da dívida externa foram, no médio e longo prazos, ingressos líquidos de agências governamentais, US$2,3 bilhões; seguido de buyers, US$697 milhões; empréstimos diretos, US$451 milhões; e organismos internacionais, US$37 milhões. No mesmo período, ocorreram amortizações líquidas de bônus, US$972 milhões, dos quais US$589 milhões referentes à liquidação do bônus Euro10 e US$383 milhões de operações de recompras do Tesouro Nacional; notes e commercial papers, US$64 milhões; e suppliers, US$80 milhões. No endividamento de curto prazo, o aumento verificado ocorreu em virtude dos ingressos líquidos de empréstimos em moedas, US$2,1 bilhões, parcialmente compensado pela redução nas obrigações em moedas estrangeiras dos bancos comerciais, US$1,2 bilhão.
Contribuiu, ainda, para o resultado, o aumento estimado de US$323 milhões da dívida externa em dólares, proveniente de variação por paridade.
Da redação, com agências