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Crise da dívida na Europa provoca turbulência no Brasil

A possibilidade de moratória na Grécia e em outros países europeus altamente endividados despertou pânico nos mercados de capitais em todo o mundo e também provocou forte turbulência no Brasil. O Ibovespa chegou a cair 6,4% no meio da tarde, recuperou terreno e encerrou o pregão desta 5ª feira (6) com queda de 2,31%. O dólar subiu 2,95% e foi fechado a R$ 1,85 na venda.

Por Umberto Martins

Ao longo desta semana, a depreciação do valor das ações negociadas no Bovespa chega a 6%. O prejuízo acumulado no ano é de 7,5%. Já o dólar subiu 7% nos últimos três dias.

Economia mundial ameaçada

O cenário de instabilidade na bolsa e no câmbio revela que o país não está imune ao contágio da crise que hoje abala não só a Europa como também parece constituir uma séria ameaça à recuperação da economia mundial, o que inclui os países ditos emergentes.

A contaminação ocorre principalmente em função do comportamento dos investidores internacionais que os economistas classificam de “aversão ao risco”, que resulta numa reversão do fluxo de capitais na direção dos países ricos, especialmente EUA, e em detrimento das economias relativamente mais pobres e frágeis.

É o que se verifica na bolsa. Os investidores estrangeiros estão vendendo as ações que compraram, remetendo o dinheiro de volta aos países de origem ou aplicando em títulos do Tesouro norte-americano, ainda considerados os mais seguros do mundo, apesar da gigantesca dívida acumulada por Tio Sam. Isto explica a queda do Ibovespa e a alta do dólar.

Crédito mais caro e escasso

Além da desvalorização das ações de empresas e do real, a economia nacional é prejudicada adicionalmente pela redução e encarecimento do crédito externo e a queda no preço das matérias-primas (commodities) que acompanha a alta do dólar.

O chamado risco-Brasil, que define a diferença entre a taxa de juros pagas pelo país em relação à que remunera os títulos públicos dos EUA, subiu 14,06% para 152,10 pontos na 5ª (6). Não é possível prever os impactos futuros na economia real, ou seja, na produção e distribuição de bens para o mercado interno e as exportações.

As contas públicas no Brasil estão numa situação bem confortável em comparação aos países europeus ou aos EUA, Inglaterra e Japão. As reservas constituem um colchão confiável para o amortecimento da crise cambial. Mas, isto não basta para garantir estabilidade.

Déficit externo

O déficit crescente nas contas correntes torna-se um risco maior num contexto de reversão do fluxo de capitais. O Brasil precisa captar muito dinheiro no exterior para fechar o balanço de pagamentos sem a necessidade de queimar reservas.

O déficit externo tende a ultrapassar a casa dos 50 bilhões de dólares neste ano e recursos da mesma magnitude terão de ingressar no país, através de investimentos diretos ou indiretos, para cobrir o rombo sem usar as divisas que o BC acumulou como reserva.

Limites do capitalismo

Outra incógnita é a repercussão da crise no comércio internacional, que sofreu forte redução em 2009, está em franca recuperação hoje, mas pode acabar deprimido pela redução e encarecimento do crédito internacional.

O pânico foi geral nesta quinta-feira. O receio maior é o de que, a exemplo do que ocorreu na Grande Depressão deflagrada pelo crash da Bolsa de Nova York em 1929, o agravamento da crise da dívida europeia se desdobre numa espécie de segundo tempo da crise do capitalismo mundial iniciada no final de 2007 nos EUA. Os desequilíbrios comerciais e financeiros da economia norte-americana, associados a outros excessos de um sistema desregrado, constituem o pano de fundo da tragédia.

A crise, como diriam Marx e Engels, revela os limites do modo de produção capitalista e revigora a necessidade histórica, objetiva e candente, do socialismo.