Dividida, Central Obreira Boliviana marcha por reajuste maior
A Central Obreira Boliviana (COB) convocou para esta segunda-feira (10) a primeira greve geral do governo do presidente Evo Morales. A entidade questiona o aumento de 5% no salário mínimo e reivindica 12% de reajuste. No domingo, o governo e a central inciaram conversas para solucionar o conflito. E, de acordo com a Agência Bolivariana de Notícias, a adesão à marcha que iniciaria os protestos é pequena. Muitos trabalhadores decidiram não participar.
Publicado 10/05/2010 15:02
“Estamos pedindo os mesmos 12% dados no ano passado. Disso não deveria baixar, mas sim subir de maneira escalonada. Mas, temos que pedir algo real, por isso os 12%. Por outro lado, estamos rechaçando a Lei de Pensões e o Código Geral de Trabalho”, explicou Pedro Calderón, secretário da Federação Regional dos Trabalhadores de Fábricas da cidade de El Alto. Os fabris, considerados a ala mais radical da COB, também sustentam uma greve de fome há 15 dias.
Uma caminhada convocada para percorrer, durante toda esta semana, cerca de 140 quilômetros de Caracollo, tradicional cidade mineira no departamento de Oruru, até a capital La Paz seria o marco inicial da greve. Segundo a Agência Bolivariana de Notícias, contudo, a marcha começou com uma hora de atraso e menos de 300 pessoas, "em sua maioria, trabalhadores mineiros, fabris, professores e do setor da saúde".
Organizações de peso que integram a COB, como a CSUTCB (Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia), a CNMCIOB-BS (Confederação Nacional de Mulheres Camponesas Indígenas Originárias da Bolívia “Bartolina Sisa”) e as seis federações de cocaleiros do trópico de Cochabamba já anunciaram que não vão aderir à greve. A COD (Central Obreira Departamental) de Santa Cruz anunciou que realizaria uma marcha para defender o aumento de 5% anunciado pelo governo.
As negociações com o governo se iniciaram no fim de semana, com a chegada de Evo Morales, que estava em Nova York para um reunião com Ban Ki-moon, na ONU. Ele pediu aos trabalhadores "racionalidade e responsabilidade com a pátria" e não só com o salário.
“Estamos dispostos a chegar a acordos com a COB sobre a Lei de Pensões, reduzindo a idade de aposentadoria de 65 para 60 anos e com um aporte tripartite: uma parte do Estado, outra do setor patronal e outra dos trabalhadores, incluindo uma renda solidária que incrementa o montante mínimo de aposentadoria", disse o ministro de Economia e Finanças, Luis Arce.
"A renda solidária virá de um fundo constituído pela taxação de altas riquezas, do Fundo de Riscos Profissionais não usados no passado e do aporte patronal, que descoloniza a Lei de Pensões anterior. Porém, não negociamos os 5%”, declarou. De acordo com o ministro, essas mudanças permitirão um crescimento de mais de 36% na renda mínima dos aposentados.
O vice-presidente Alvaro García Linera denunciou a greve como "contra-revolucionária", insuflada por "três ou quatro agentes infiltrados" na COB, que, segundo ele, estariam a serviço da "extrema-direita crioula". Segundo ele, todos os que vêm da luta sindical sabem que uma greve geral por tempo indefinido tem conteúdo político. Ele denunciou que por trás das mobilizações estaria a embaixada dos Estados Unidos.
"Os mesmos contra-revolucionários, da mesma linha política da direita contra-revolucionária que em 1985 arou o terreno para instaurar um modelo de economia liberal e para o MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário, liberal), a ADN (Ação Democrática Nacionalista, conservadora) e o MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária, social-democrata), que em várias alianças governaram a Bolívia durante duas décadas, pisotearam os bolivianos durante 20 anos, até 2005, quando Evo Morales foi eleito", afirmou García Linera, segundo a agência de notícias boliviana ABI.
O governo lembrou ainda que, durante a gestão Morales, houve um incremento de mais de 40% nos salários e que, para buscar uma equidade maior, o próprio presidente decidiu baixar o seu salário, que equivalia a US$ 5,6 mil, para US$ 2,1, norma também aplicada a ministros e parlamentares.
Com agências