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Medo do crescimento não convém aos interesses nacionais

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou nesta quinta (13) um novo corte nos gastos públicos, no valor de 10 bilhões de reais. Seu colega do Planejamento, Paulo Bernardes, fez questão de dizer que a medida vai doer, enquanto o homem dos juros mais altos do mundo, Henrique Meireles, presidente do Banco Central, enalteceu o arrocho fiscal, afirmando que é uma boa contribuição à política de “combate à inflação”.

O coro monofônico da equipe econômica traduz o consenso conservador que orienta o chamado tripé da política macroeconômica (política monetária, ou de juros altos, política fiscal de superávit primário pagar dívidas e o câmbio flutuante) e parece ter por pressuposto o enigmático dogma de que o país não pode crescer muito sem comprometer a estabilidade da moeda.

Juros mais altos do mundo

As projeções para o crescimento do PIB neste ano ultrapassaram a marca dos 7% e o próprio Guido Mantega, traindo a fama de desenvolvimentista, fez questão de afirmar que a taxa está acima da capacidade do setor produtivo nacional, o que em sua opinião produziria um desequilíbrio entre oferta e procura de mercadorias, resultando em inflação.

“Temos os instrumentos para impedir isso, como elevar os juros, cortar gastos e investimentos”, salientou o ministro. É isto, com efeito, o que vem sendo feito. Primeiro veio a alta dos juros, promovido pelo Comitê de Política Monetária do BC (Copom) na reunião dos dias 27 e 28 de abril, que consolidou o primeiro lugar do Brasil no ranking mundial dos juros reais altos. A taxa básica de juros (Selic) subiu para 9,50%.

Redistribuição perversa da renda

Uma vez que a taxa básica remunera em grande medida os títulos públicos, a decisão significou alguns bilhões de reais a mais que o Estado será forçado a transferir aos credores da dívida governamental a título de pagamento dos juros. Trata-se de uma perversa redistribuição da renda nacional em benefício dos rentistas, conforme denunciou, entre outros, o economista Delfim Netto, que não é nenhum esquerdista radical.

O aumento das despesas com juros (e não se fala em cortá-las) eleva também o valor do superávit primário necessário para pagá-los e evitar a deterioração da relação dívida/PIB, que no Brasil, por sinal, é hoje muito inferior à verificada na União Europeia, Inglaterra, EUA e Japão.
Foi a necessidade de um superávit mais gordo que levou ao novo corte. O arrocho de R$ 10 bilhões, somado ao contingenciamento de R$ 21,8 bilhões anunciado em março, subtrairá 1% do PIB do orçamento da União. A tesourada é feita em detrimento dos gastos e investimentos públicos, ou seja, de verbas que deveriam ser destinadas à saúde, educação, habitação e outras áreas onde a carência é grande e flagrante; à infra-estrutura, à valorização do funcionalismo, à recomposição do valor das aposentadorias.

Condenados ao crescimento medíocre?

A economia nacional também sentirá o impacto dos juros altos e do contingenciamento, que deve causar uma redução da demanda e do crescimento da economia. É este, por sinal, o propósito declarado pelas autoridades econômicas. Mas, os críticos do tripé sagrado da política macroeconômica não estão convencidos disto e desconfiam que, no final das contas, as medidas servirão a outros interesses ao acentuar a transferência da renda extraída dos contribuintes à oligarquia financeira parasitária da dívida pública.

A China cresce à razão de 10% ao ano, a Índia em torno de 8% e o próprio Brasil, em outra época, já expandiu seu PIB a um ritmo anual superior a 7%. Teremos que nos contentar com um crescimento medíocre e a perspectiva de ficar eternamente para trás na corrida do desenvolvimento desigual? O pavor ao crescimento que perturba o pensamento e a ação do governo não é razoável, mas com certeza sabota o desenvolvimento nacional e contraria, em particular, os interesses da classe trabalhadora, pois reduz a oferta de emprego e dificulta a revalorização dos salários.

Da redação, Umberto Martins