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Crise da dívida na Europa ameaça as exportações asiáticas

A crise econômica da Europa está tendo um grave efeito sobre companhias asiáticas, à medida que a desvalorização do euro torna as exportações mais caras num dos maiores mercados externos.

Valor Economico (SP)
O maior temor das companhias, no entanto, é que a convulsão enfraqueça a recuperação da Europa da crise financeira global, o que poderá ter um efeito maior ainda sobre a demanda de importações.

Graves prejuízos

Qi Zhongyi, diretor do departamento de informação da Câmara de Comércio da China para importação e exportação de maquinário e produtos eletrônicos, disse que muitas companhias chinesas sofreram "graves prejuízos" decorrentes da queda de 14,5 % do euro contra o yuan neste ano. "Não temos o número exato, mas as perdas claramente não estão confinadas à exportação de maquinário e de produtos eletrônicos", disse Qi.

A Suntech, listada na Nasdaq, uma dos maiores fabricantes de painéis solares do mundo, disse que espera ter prejuízo de até US$ 25 milhões no primeiro trimestre do ano, sobre um faturamento líquido de US$ 590 milhões.

Maior mercado da China

A União Europeia é o maior mercado de exportação da China, responsável por 19,7%, ou US$ 262 bilhões, das remessas totais no ano passado. As exportações da UE à China estão em US$ 128 bilhões.

Tom Albanese, executivo-chefe da Rio Tinto, o conglomerado do setor de mineração, disse que a "externalidade" da crise europeia era a maior rival ao crescimento da China e, por consequência, das vendas da Rio Tinto à China. Albanese disse temer uma reedição da crise no setor bancário, com a paralisação dos mercados de crédito exercendo um impacto sobre o crescimento chinês, como ocorreu no quarto trimestre de 2008.

Iuane

A depreciação do euro frente ao iuane poderia levar a China a postergar a esperada valorização do iuane em relação ao dólar até mais adiante no ano, uma ideia amplamente compartilhada por analistas na Ásia, acrescentou.

Por toda a Ásia, grandes exportadores contaram uma história semelhante, de preocupação com o euro. O lucro líquido da Sony previsto para o período até março de 2011, por exemplo, presume uma taxa de câmbio de 125 ienes para o euro, mas a taxa de mercado já havia subido para pouco mais de 113 ienes. Essa taxa poderá custar ao conglomerado de eletrônicos 90 bilhões de ienes neste ano.

Hello Kitty em crise

Mesmo a Hello Kitty, a mascote mais querida do Japão, está em dificuldades. Sanrio, empresa dona da personagem, reviu sua perspectiva pelo temor de que a economia europeia possa estar apática "devido à prolongada inquietação financeira na zona do euro".

Jerry Shen, executivo-chefe da fabricante de computadores Asustek, de Taiwan, anunciou na semana passada que a receita do terceiro trimestre poderia ser afetada pela queda do euro. "No momento, a moeda é um grande problema", afirmou Shen.

Índia

Analistas observam de perto o setor de terceirização de serviços de tecnologia da informação na Índia. O analista Subhashini Gurumurthy, da Ambit Capital, disse que a maioria das empresas ganha entre 15% e 27% de sua receita na Europa. Em dólares, a previsão é de que essas receitas sejam afetadas negativamente entre 1,3% e 2,4% no trimestre a encerrar-se em 30 de junho, em comparação ao primeiro trimestre.

Alguns fabricantes asiáticos estão mais protegidos, por possuírem instalações de produção na Europa. A LG, da Coreia do Sul, tem duas fábricas de televisores na Polônia. A Samsung Electronics possui uma fábrica de TVs na Hungria e uma de telas de cristal líquido na Eslováquia. A Hyundai Motor tem uma fábrica na República Tcheca.

Impacto limitado
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Outras empresas sustentam não estar sendo influenciadas pelas oscilações cambiais. A United Microelectronics, de Taiwan, segunda maior fabricante mundial de circuitos integrados, informou ontem não ter detectado até agora nenhum impacto e mostrou-se otimista quanto à demanda no segundo semestre.

Alguns economistas na Ásia acreditam, porém, que os problemas na Europa provavelmente terão impacto relativamente limitado na região.

O Goldman Sachs, por exemplo, prevê recuperação na cotação do euro, de US$ 1,23 para US$ 1,35, nos próximos três meses, e um crescimento de 1,4% no Produto Interno Bruto (PIB) da região do euro em 2010. "O impacto direto [das turbulências no câmbio e mercado de bônus] será bastante modesto na Ásia", afirmou Michael Buchanan, que trabalha em Hong Kong e é economista-chefe para a Ásia do Goldman Sachs.

Ou impacto imenso?

Para alguns dos executivos mais experimentados na Ásia, essa visão parece otimista demais. Nobuhiro Endo, presidente da NEC, a fabricante japonesa de produtos eletrônicos, afirmou que o grupo sofreu pouco com a crise europeia. Mas afirmou que o impacto potencial é enorme.

"Não podemos ver nada neste momento, mas se isso se disseminar para outros países e os mercados começarem a encolher, com risco de algo semelhante a uma deflação e com mercados encolhendo cada vez mais, isso seria assustador", disse. "Teria um impacto imenso."

Fonte: Valor