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OCDE prevê anos de crescimento fraco da economia mundial

A economia mundial terá anos de crescimento modesto pela frente, diante da severidade do desemprego e da consolidação fiscal nos países ricos, avalia a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Os países da OCDE podem ter perdido mais de 4% do produto potencial como resultado da pior recessão do pós-guerra, em parte por causa do maior desemprego, segundo documento destinado à reunião de ministros esta semana em Paris, ao qual o Valor teve acesso.
"Os efeitos da crise sobre as finanças públicas e o mercado de trabalho vão persistir pelos próximos anos", diz o documento, ampliando a perda potencial em quase o dobro em relação a estimativas do ano passado.

A OCDE projeta pico de desemprego de 9% em meados deste ano, declinando lentamente para 8,5% até o fim do ano que vem. A Espanha tem o recorde, com 20%, seguido da Eslováquia, com 14,1%, e a Irlanda com 13,2%, enquanto a Coreia do Sul tem a menor taxa, com 3,8%. Holanda tem 4,1%, México e Austrália, 4,9%.

Desemprego estrutural

Apesar das intervenções dos governos para salvar empregos, serão perdidos 21 milhões de postos de trabalho, em relação a antes da crise, nos países ricos. Um "grande risco" é que o desemprego se torne estrutural, à medida que muitas pessoas fiquem muito tempo sem emprego e sejam empurradas gradualmente para a inatividade.

O déficit fiscal é projetado para este ano nos países da OCDE é de 8,25% do PIB, em média. O endividamento total dos governos deverá superar o Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, sendo cerca de 30% maior que antes do início da crise.

Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, tem multiplicado as advertências sobre "crescimento medíocre em 2010 e 2011". Ele define a economia global em três níveis. No primeiro, estão os países emergentes, especialmente a China, com expansão de 10%, a Índia, com 8% a 9%, e a América Latina, com 5% a 6%.

No segundo nível estão os EUA e o Japão, com expansão menor. E, no terceiro nível, a combalida Europa, que sofre além de tudo os ataques de especuladores.

Desequilíbrio global

O desequilíbrio global pode começar a aumentar de novo, e as pressões voltarão a crescer por avaliação mútua de políticas macroeconômicas, taxa de câmbio e medidas estruturais, entre países ricos e emergentes.

Na conferência anual de ministros, esta semana, a OCDE vai insistir que é "imperativo" desenvolver e implementar a consolidação fiscal. E que, assim como fazer cortes precipitadamente pode "minar a recuperação", agir tarde demais pode deteriorar a confiança, elevar a pressão sobre os bônus soberanos e piorar o déficit público.

A entidade sugere que os governos "privilegiem" uma consolidação fiscal com instrumentos a favor do crescimento. E vê espaço para aumentar a base de cobrança dos impostos e caçar os sonegadores, por exemplo.

A OCDE alerta que as políticas para evitar ajustes estruturais com o objetivo de "proteger empregos" são contraproducentes. Salvam empregos temporariamente, aos custos de outros em setores competitivos da economia. Exemplifica que restrições nos setores automotivo, siderúrgico e têxtil nos EUA, nos anos 80, custaram US$ 118 mil (ou US$ 242 mil pelo valor de 2009) para proteger cada emprego por ano. E isso, por exemplo, não impediu o desastre no setor automotivo.

Fonte: Assis Moreira, de Genebra, para o jornal Valor