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Remessas dos imigrantes caíram mais de 23% com a crise

A crise internacional que provocou o retorno de 400 mil brasileiros que viviam e trabalhavam no exterior – como mostrou reportagem do Valor ontem [reproduzida também neste portal] – também ajudou a derrubar o volume de recursos que esses imigrantes costumavam enviar ao país, contabilizadas no balanço de pagamentos como transferências unilaterais, usadas para ajudar familiares ou para investir na terra natal.

As remessas dos mais de 3 milhões de imigrantes brasileiros espalhados pelo mundo caíram mais de 23% entre 2008 e 2009, para US$ 2,223 bilhões, de acordo com o balanço de pagamentos do Banco Central (BC). Somente dos Estados Unidos, as remessas dos mais de 1,5 milhão de "expatriados" do país tiveram recuo de 30,6% no mesmo intervalo, passando de US$ 1,289 bilhão para US$ 894 milhões. Os mais de 300 mil decasséguis também realizaram menos transferências no período pós-crise: queda de 40%.

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O BC não detalha informações sobre as remessas provenientes da Europa, onde a situação econômica se agrava e a comunidade brasileira supera 800 mil pessoas. Ainda assim, segundo a imprensa portuguesa, os mais de 200 mil brasileiros que vivem em Portugal remeteram € 434 milhões de janeiro a outubro de 2009, 7% a menos que nos dez primeiros meses de 2008. No Reino Unido, os mais de 250 mil brasileiros preferem esperar a libra esterlina se valorizar para voltar a fazer as tradicionais remessas.

Efeito do câmbio

Admilson Monteiro Garcia, diretor da área internacional do Banco do Brasil, explica que a recessão econômica prejudicou a cotação das moedas dos países ricos, desacelerando as transferências internacionais de imigrantes. "A valorização do real em relação ao dólar é apontada como fator desestimulante ao envio de remessas, fazendo com que os remetentes fiquem aguardando melhores momentos para efetuar o câmbio ou que decidam retornar ao Brasil, pois o nível de salário começa a não compensar sua permanência no exterior." Garcia acrescenta que essas operações do BB foram afetadas em Portugal e na Espanha – de setembro de 2008 , estopim da crise, até hoje, o euro registrou desvalorização de 4,29% frente ao real.

Na opinião do diretor do departamento de desenvolvimento econômico da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Osvaldo Kacef, a redução do fluxo das remessas brasileiras é insignificante para o país, pois elas representam apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB). "Mas são essenciais para Honduras e El Salvador, por exemplo. As transferências internacionais somam 20% do PIB desses países e respondem por manter o equilíbrio de suas contas externas e de toda a economia", diz Kacef. Segundo ele, as remessas enviadas pelos mexicanos, principalmente dos EUA, correspondem a 7% PIB do México, mesmo percentual observado nos balanços de pagamentos de Colômbia e Equador.

O fluxo de remessas internacionais contabilizado pelo Banco Mundial (Bird) atingiu US$ 315 bilhões em 2009, valor 6% inferior aos US$ 336 bilhões verificados em 2008. No período pré-crise, a taxa de crescimento era de 15% ao ano. A instituição prevê recuperação no volume de transferências este ano, mas a retomada aos níveis pré-crise deve levar dois anos.

Fonte: Luciano Máximo para o jornal Valor