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Ibope dá empate Dilma-Serra; e agora, Montenegro?

O empate entre os presidenciáveis da oposição e do governo – 37% a 37% –, apontado na pesquisa Ibope deste sábado (5), tem um gostinho especial para a torcida de Dilma Rousseff (PT). O instituto é presidido por Augusto Montenegro, aquele que, em entrevista à Veja em agosto passado, assegurou que "Lula não fará seu sucessor", pois "15% a 20% talvez seja o teto de Dilma" e "foi-se o tempo em que um líder muito popular elegia um poste". E agora, Montenegro?

Por Bernardo Joffily

A entrevista à Veja (nº 2127, 22/08/09) causou espécie na época. Afinal, o Ibope é o decano dos institutos de pesquisa atuando no Brasil. No campo de Lula, muitos se insurgiram contra a inconveniência do seu presidente se aventurar assim no campo da futurologia – e do proselitismo da candidatura José Serra (PSDB).

Mas eis que os quatro principais institutos que cobrem a campanha presidencial – Ibope, Datafolha, Sensus e Vox Populi – estão neste momento alinhados. Todos indicam um empate entre as candidaturas oposicionista e governista, com a terceira via de Marina da Silva (PV) distanciada na casa dos 10%.

O que interessa é a curva

Há diferenças. Ibope e Datafolha, numa proeza estatística, cravam o mesmo número para Serra e Dilma, 37%. Ao passo que Sensus e Vox Populi dão à petista uma pequena dianteira, dentro da margem de erro.

Mas isso são miudezas. Eu acredito em pesquisas. Porém não a ponto de detectar nuances tão sutis.

O que nada tem de miúdo ou sutil é a tendência, a curva das pesquisas, expressa com pequenas variações e oscilações pelos quatro institutos: Dilma sobe; e Serra desce.

Talvez essa tesoura mostrada pelas pesquisas explique o destempero do presidenciável tucano na semana que passou, saindo do figurino "paz e amor" para acusar sua concorrente de autora do hoje célebre dossiê, "aquele que foi sem nunca ter sido". Para Serra, "a principal responsável por esse dossiê é da candidata Dilma Rousseff. Isso eu não tenho dúvida".

Demotucanos apostam na TV

Mas a vida continua. Ainda falta um pouco mais de cem dias para 3 de outubro. Ou, como teria dito o técnico da seleção paraguaia, em uma piada eivada de preconceito antiguarani: "Nem tudo está perdido; ainda tem muito para perder no segundo tempo".

O QG oposicionista diz acreditar que "maio foi o mês da Dilma" mas "junho será de Serra". Apostam suas fichas nos programas partidários em rede de rádio e TV. No último dia 27 foi a vez do DEM, que dedicou três quartos dos seus 10 minutos a mostrar Serra. Ao longo do mês, haverá programas do PSDB, PTB e PPS, também de 10 minutos, mais as inserções de 30 segundos, totalizando uma hora e meia na telinha.

A oposição pretende fazer de Serra a estrela dos programas, como já ocorreu no caso do DEM. Os programas não são eleitorais – como os demotucanos não se cansam de bradar em suas interpelações judiciais –, pois a campanha não começou oficialmente. Usá-los para pedir voto em Serra é ilegal. E mais ilegal ainda exibir o candidato de um partido (PSDB) no programa de outro (DEM, PTB, PPS). Mas os oposicionistas seguem o adágio da República Velha: "Para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei".

O que disse Montenegro

É duvidoso superestimar o peso da TV na trajetória das pesquisas eleitorais. Fatores bem mais fortes e profundos estão por trás da popularidade do presidente Lula e da decolagem de sua candidata.

Foi por menosprezar esses fatores, em agosto passado, que Augusto Montenegro disse o que disse na Veja, e que o seu Ibope não se cansa de desmentir desde então, até chegar aos 37% a 37% deste sábado.

Recordar é viver: abaixo, os melhores momentos da entrevista de Montenegro, nove meses atrás:

Montenegro: A Dilma, em qualquer situação, teria 1% dos votos. Com o apoio de Lula, seu índice sobe para esse patamar já demonstrado pelas pesquisas, entre 15% e 20%. Esse talvez seja o teto dela. A transferência de votos ocorre apenas no eleitorado mais humilde. Mas isso não vai decidir a eleição. Foi-se o tempo em que um líder muito popular elegia um poste. Isso acontecia quando não havia reeleição. Os eleitores achavam que quatro anos era pouco e queriam mais. Aí votavam em quem o governante bem avaliado indicava, esperando mais quatro anos de sucesso.

Oscar Cabral, da Veja: Diante do quadro político que se desenha, quais são então as possibilidades dos candidatos anunciados até o momento?

Montenegro: Faltando um ano para as eleições, o governador de São Paulo, José Serra, lidera as pesquisas. Ele tem cerca de 40% das intenções de voto. Em 1998, também faltando um ano para a eleição, o líder de então, Fernando Henrique Cardoso, ganhou. Em 2002, também um ano antes, Lula liderava – e venceu. O mesmo aconteceu em 2006. Isso, claro, não é uma regra, mas certamente uma tendência. Um candidato que foi deputado constituinte, senador, ministro duas vezes, prefeito da maior cidade do país e governador do maior colégio eleitoral é naturalmente favorito. Ele pode cair? Pode. Mas pode subir também.
 

Nota: O internauta mais curioso pode clicar aqui para ver a íntegra. O endereço é de um site tucanófilo, para facilitar, pois a pesquisa em edições anteriores da Veja é lenta e penosa.