Moradores do Alemão se sentem mais livres do que os da zona sul

Os moradores do conjunto de favelas do Complexo do Alemão, área de grandes conflitos no Rio, se sentem mais livres para ir e vir do que os da zona sul, onde se concentram as classes média e alta, atendidas por uma forte presença das forças de segurança. O dado faz parte de uma pesquisa divulgada, no dia 7, pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

A FGV mediu pela primeira vez no país a maneira como a população carioca enxerga a participação dos governos em suas comunidades. O Índice de Percepção da Presença do Estado (IPPE) foi construído a partir de questionários respondidos por 1,1 mil pessoas em três diferentes áreas da cidade do Rio de Janeiro. O trabalho, realizado de setembro de 2009 a maio deste ano, apontou diferenças marcantes na forma como a presença do Estado é sentida, de acordo com a situação social ou do bairro onde se vive.

Para isso, a cidade foi dividida em três grandes amostras: Zona A, formada por moradores do “asfalto” dos bairros das zonas norte, oeste e central; Zona B, com moradores do “asfalto” da zona sul, Santa Teresa e Barra da Tijuca, e Complexo do Alemão.

O cientista político Marcelo Simas, um dos coordenadores da pesquisa, explicou que a expressão “asfalto”, usada no trabalho, se refere a pessoas que não moram em favelas ou comunidades favelizadas. Segundo ele, os dados coletados não são absolutos e têm que ser relativizados conforme o grau de educação dos entrevistados, que tendem a ser menos ou mais críticos à atuação dos governos, de acordo com os anos de estudo.

No quesito Índice de Segurança – Liberdade, os moradores do Alemão atingiram 47 pontos, em um total de 100, contra 32 registrados na zona sul ou 30 nos bairros das zonas norte e oeste. Já no item Índice de Segurança – Polícia, a população que vive na favela demonstrou o menor índice de confiança, atingindo apenas 29 pontos, contra 52 de quem vive nas zonas norte e oeste ou 61 pontos dos habitantes da zona sul.

“A população do Complexo do Alemão se sente muito mais livre para ir e vir, mas de outro lado critica muito a atuação e o tratamento da polícia”, frisou Simas.

A pesquisa também abordou temas como a percepção da Justiça. Durante a pesquisa, as pessoas tinham de dizer se o Poder Judiciário resolvia os problemas dos moradores. O melhor índice foi alcançado na zona sul, com 46 pontos, seguido pelas zonas norte e oeste, com 41 pontos. O nível mais baixo foi registrado no Complexo do Alemão, com apenas 34 pontos.

Quando questionados sobre a existência de preconceito contra moradores de favelas, os habitantes das zonas sul, norte e oeste praticamente empataram, com 47 e 46 pontos. Já os moradores do Alemão se mostraram mais otimistas, com o índice de satisfação batendo nos 51 pontos – o que significa que a percepção de preconceito é menor.