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"Um país sem cinema é como um povo sem eletricidade"

Rogério Sganzerla (1946-2004) repetia que "um país sem cinema é como um povo sem eletricidade". Não sem dificuldades, levou a cabo seu cinema. Mas, exceção feita aos primeiros filmes, morreu sem conseguir fazer com que as imagens chegassem, de fato, ao povo.

"Ele achava que o Brasil precisava de um cinema que fosse popular e intelectual", diz Joel Pizzini, um dos curadores da mostra Ocupação Rogério Sganzerla, em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo.

Nos dois primeiros filmes, "O Bandido da Luz Vermelha" (1968) e "A Mulher de Todos" (1969), Sganzerla realizou sua utopia. Mas vieram revezes. As luzes apagadas. "Ele teve dois longos períodos sem filmar e, além disso, ficou com a obra dispersa", conta Pizzini. "Pela primeira vez, será feito um diagnóstico do acervo, um raio-x de tudo que ele deixou."

A Ocupação reúne filmes inacabados, como "O Anjo Mijou Fora do Baralho", feito na África, o roteiro inédito de "Voodoo Chile", anotações e uma câmera Super-8. O público percorrerá, assim, a vida do artista que até os cinco anos não falava uma só palavra e, aos sete, foi sozinho a uma gráfica para imprimir um livrinho com os contos que escrevera.

Padre Cinéfilo

Menino de gostos atípicos, nascido em Joaçaba (SC), Sganzerla aproximou-se do cinema graças a um padre do colégio Marista, em Florianópolis. Ao notar que o garoto não tinha aptidão para os esportes, o religioso decidiu encaminhá-lo para o cineclube. Era um jeito de evitar que caísse em tentação.

Sganzerla caiu de amores pelo cinema. Aos 15 anos, ao mudar-se para São Paulo, virou rato da Cinemateca e, aos 16 anos, tornou-se crítico. Mas, desde o primeiro momento, escrevia como quem desejava, no fundo, filmar.

Foi assim que, em 1966, foi para detrás das câmeras, no curta de ficção "Documentário". Dois anos mais tarde, conheceria o sucesso de público com "O Bandido…". Viria depois "A Mulher de Todos", feito com um produtor da Boca do Lixo paulistana. "O cinema novo diminuía o valor dos filmes porque tiveram sucesso popular. A direita também não queria saber deles e ainda ameaçava a gente de prisão", diz Helena Ignez, sua mulher.

Sganzerla faria um terceiro filme, "Sem Essa, Aranha", em 1970, antes de exilar-se na África. Só voltaria ao cinema em 1977, com "O Abismo" –que lhe custou um apartamento. Parou de novo. Começou a estudar arqueologia, literatura grega e fez curtas sobre Jimmy Hendrix e Noel Rosa até que fosse absorvido pela paixão que o seguiu até o fim: Orson Welles, o gênio que o sistema havia calado.

"Ele sofria com a dificuldade econômica de se fazer cinema no Brasil, mas me parece que tinha também um certo cansaço com o que chamava de gosto médio", diz Pizzini. Agora, seu caos voltou. Parcialmente restaurado. Razoavelmente organizado.

Serviço:
OCUPAÇÃO ROGÉRIO SGANZERLA
ONDE: Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/2168-1777
QUANDO: ter. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 11h às 20h; até 18 de julho
QUANTO: entrada franca