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Paul Krugman: A austeridade fiscal tranquiliza os mercados?

Eis aqui uma ideia que eu devia ter tido antes nesse debate quanto a se este é um bom momento para adotar uma austeridade fiscal.

Paul Krugman*

Esse debate, na maior parte, tem sido entre economistas como eu e Brad DeLong, que afirmam que os cortes no orçamento devem ser adiados até sairmos da armadilha da liquidez, e os que insistem em que devemos cortar gastos imediatamente, mesmo que isso possa infligir danos econômicos e pouco contribua para melhorar nosso orçamento a longo prazo, pois tais medidas são necessárias para mantermos credibilidade com os mercados.

Minha resposta, e a de Brad, tem sido que, neste momento, não existe nenhuma indicação, nos dados divulgados, que Estados Unidos (ou a Grã-Bretanha) estão tendo problemas com os mercados, e a pergunta é por que os falcões do déficit estão tão certos quanto ao que os mercados vão desejar no futuro, embora não estejam exigindo nada agora.

Mas, esta manhã, percebi de repente que há mais uma questão a ser colocada a esses falcões: que provas vocês têm de que a austeridade fiscal do tipo que estão exigindo tranquilizará os mercados, mesmo se eles perderam a confiança?

Examine, se quiser, os casos comparativos da Irlanda e Espanha.

Aparentemente, ambos pareciam ser países responsáveis do ponto de vista fiscal até a crise bater na sua porta, com orçamentos equilibrados e uma dívida relativamente pequena. E ambos descobriram que era uma ilusão: as receitas eram mantidas por bolhas imobiliárias e quando essas bolhas explodiram eles mergulharam no déficit – e se viram em apuros, contabilizando enormes prejuízos bancários.

Entretanto, os dois países reagiram de maneira diferente. A Irlanda adotou rapidamente um severo programa de austeridade. A Espanha precisou ser empurrada para a austeridade, e ainda agora enfrenta um grande mal-estar político.

Então como andam as coisas? Este artigo diz exatamente o que você está lendo: descreve os irlandeses fazendo o que deve ser feito, enquanto os espanhóis vacilam. E tem boas coisas a dizer sobre como a resposta irlandesa está dando certo:

Muita amargura, mas também estoicismo; mercados impressionados pela determinação irlandesa para suportar uma situação dolorosa.

Bem, espero que esteja correto – se, por “mercados impressionados” , ele quer dizer um spread do CDS (Credit Default Swap) de 226 pontos básicos, comparados com os 206 pontos da Espanha; sem mencionar a taxa de juros dos títulos de 10 anos de 5,11%, em comparação com os 4,46% da Espanha.

Assim, alegra-me saber que a Irlanda, aceitando estoicamente a austeridade, está tranquilizando os mercados; deve ser verdade, pois é isso que todo mundo diz. Porque, se eu não soubesse, poderia analisar os dados e concluir que os mercados na verdade estão menos confiantes na Irlanda do que na Espanha, e que a austeridade, no caso de uma economia profundamente deprimida, na verdade não tranquiliza de modo nenhum os mercados.

Mas, no que você vai acreditar: naquilo que todo mundo sabe ou nos seus próprios olhos mentirosos?

*Paul Krugman é colunista do
New York Times