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Melhor tradução da velha mídia é um Ferreira Gullar sem poesia

A guinada da mídia rumo à ultra-direita foi curiosa. Havia um mercado a ser ocupado — todos de uma vez, maciçamente ocupando o mesmo mercado dos 5%. Abriu mão dos direitistas históricos, substituindo por neoconvertidos afoitos, loucos para oferecer o solicitado em troca de um espaço público, simplificando a discussão até o limite da mediocridade. Ou então de jornalistas com história de vida que acabaram por se curvar às imposições dos novos tempos.

Por Luis Nassif, em seu blog

Essa falta de critério, o pensamento único primário gerou a demanda que foi ocupada por intelectuais histriônicos (alguns talentosos), por críticos e poetas sem conteúdo… e pelo Marco Antônio Villa, o inacreditável Villa.

Existe um pensamento conservador sólido na academia. Por exemplo, acho que o partidarismo de Bolívar Lamounier o impediu de dar um upgrade nos seus conceitos de opinião pública. Mas estamos falando de um baita intelectual, militante porém com conteúdo. A ira destrambelhada de Boris Fausto, quando ouve alguém criticar FHC, não tira dele o mérito de ser dos grandes historiadores e intelectuais brasileiros.

Gianotti pode ser agressivo na discussão, mas tem consistência. Discordo de muitos princípios do Eduardo Gianetti, mas como não reconhecer a elegância de seus enunciados e de sua presença pública? Há um conjunto de conservadores revelados nos últimos anos, como os da página 2 do Estadão, com ideias para serem debatidas ou combatidas. Mas, importante, tendo ideias.

Agora, o Villa! Qual a diferença de conteúdo dele (que se diz intelectual) e de um Nelson Motta, por exemplo? O que seu conteúdo difere de Danuza Leão? Ou de um Gullar? Ele é um Motta sem música, uma Danuza sem história e um Gullar sem poesia. Ou seja: não é nada.

Leiam seu artigo abaixo. O bordão é de História da Carochinha: como nós, por sermos bons, cordatos e de boa fé, permitimos que o mal avançasse! Quatro anos de CPIs, campanha diária da mídia para tentar desestabilizar o governo (aliás, repetindo em grau agudo o golpismo dos anos 90), não foi nada.

No entanto, tem o grande mérito de comprovar, de forma cabal, a estratégia midiática de abolir qualquer forma de inteligência, sofisticação analítica, criatividade.

Villa é a cara da velha mídia.

Onde está a oposição?

Por Marco Antonio Villa, na Folha de S.Paulo
A oposição perdeu a batalha ideológica. E não é de hoje. Quando Lula assumiu o governo, rapidamente construiu um discurso negador do passado -sua especialidade. Com uma diferença: agora estava na Presidência e com muito mais poder para impor a sua versão da história.

Lançando a pecha de que teria encontrado uma herança maldita, não recebeu uma resposta eficaz e convincente dos oposicionistas. Estes estavam assustados e desestimulados. Ser oposição é tudo o que não queriam ser.

Como disse Nícia, na comédia A Mandrágora, de Maquiavel: "Para os que não têm poder, não existe nem mesmo um cachorro que lhes ladre na cara".

Sem combatividade, estavam prontos para aderir ao governo. Só não o fizeram porque surgiram escândalos envolvendo altas autoridades governamentais, devido às divergências regionais e por uma razão simples: não foram cooptados para fazer parte do governo.

Se os militares golpistas latino-americanos não resistiam a um "cañonazo" de milhares de dólares, os políticos brasileiros não resistem ao Diário Oficial e suas nomeações. Apesar da derrota de 2006, a oposição manteve o comportamento light. Nada de críticas. Era necessário pensar na governabilidade. O tempo foi passando e a eleição foi se aproximando.

A cada omissão, mais o discurso oficial se transformava em verdade absoluta, sobre o passado e o presente. Excetuando a batalha contra a prorrogação da CPMF, quando a oposição foi oposição e venceu, nos últimos quatro anos a eficiência governista foi exemplar.

A oposição poderia ter criticado o rumo da economia, a segurança pública, os milhões de analfabetos ou a péssima situação da saúde.

Mas silenciou. Abdicou do combate. Acreditou que o relativo crescimento da economia blindava o governo de críticas. Ledo engano.

No quinquênio juscelinista, o país cresceu a taxas superiores às atuais, realizou grandes obras (o que não ocorre agora) e JK não elegeu o sucessor. Por quê? Porque a oposição fez o seu papel, como em qualquer democracia que se preze. Com a proximidade das eleições, a oposição ficou sem saber o que fazer. Esqueceu uma lição básica (e óbvia): é preciso fazer política. Ao menos enquanto há tempo. A recusa ao debate pode abrir caminho para o autoritarismo.

Afinal, o filho de um oligarca calou o Estadão, proibindo noticiar suas negociatas; enquanto um partido ocupou ao seu bel prazer as páginas de Veja. E tudo com a chancela da "justiça". Deste jeito logo começaremos a achar que o México, sob domínio do PRI, era uma democracia.