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Nicarágua: Os problemas da oposição anti-sandinista

As polêmicas e enfrentamentos entre os principais dirigentes da oposição anti-sandinista continuam hoje caracterizando o panorama político nicaragüense, no que parece uma crise existencial sem solução aparente a curto prazo.
 
Por Alfredo G. Pierrat, em Prensa Latina

O pomo da discórdia é a nomeação da figura com maiores possibilidades de enfrentar com êxito o candidato da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) nas eleições gerais de novembro do próximo ano, em um embate que já dura meses, com o único resultado até agora de expor em público as ambições pessoais de uns e outros.

O primeiro a expressar suas aspirações foi o ex-presidente Arnoldo Alemán, líder do Partido Liberal Constitucionalista (PLC), que aproveitando a preponderância nessa organização se fez nomear candidato para ocupar pela segunda vez a presidência, apesar de ter sido julgado e condenado por delitos cometidos durante seu mandato.

Outro tanto fez, depois de aparentes dúvidas e vacilações, o banqueiro Eduardo Montealegre, líder do Movimento Vamos com Eduardo (MVCE), criado para sua promoção pessoal, mas que carece de personalidade jurídica. Montealegre também tem teto de vidro, pois é acusado de supostos delitos cometidos quando foi ministro do governo do ex-presidente Enrique Bolaños, acusações que até agora não prosperaram pela imunidade de que desfruta por sua condição de deputado à Assembleia Nacional.

Durante semanas, ambos protagonizaram negociações, auspiciadas pela hierarquia católica, em busca de concorrer unidos numa chapa presidencial nas eleições de 2011, mas nenhum dos dois cedeu em suas aspirações de encabeçar a chapa e, após inúmeras tentativas o Monsenhor Abelardo Mata, vice-presidente da Conferência Episcopal, que atuava como mediador, deu-se por vencido e as conversações fracassaram.
 
Enquanto isso, paralelamente, Alemán promovia a ideia de realizar eleições interpartidárias para escolher um candidato único de toda a oposição, o que tampouco obteve êxito pela suspeita de que esse mecanismo seria manipulado pelo PLC em proveito de seu candidato.
 
Mas Montealegre e Alemán não são os únicos com aspirações presidenciais no espectro político anti-sandinista. Outros se lançaram pelo caminho, entre eles o binômio composto por Edmundo Jarquín, do Movimento de Renovação Sandinista (MRS), como candidato à presidência, e Azalia Avilés, dirigente del Partido Conservador (PC), como vice, numa chapa com escassas possibilidades de êxito em face de qualquer concorrente.

Por sua parte, Alejandro Bolaños Davis, tambén do Partido Conservador, se proclamou recentemente candidato à presidência por essa organização, numa decisão que outros opositores qualificam como uma contribuição para a divisão da oposição. Também Alemán y Montealegre são acusados de afastar a possibilidade da unidade oposicionista e algumas formações minoritárias multiplicam chamamentos a que ambos renunciem a suas aspirações em favor de um candidato de consenso para enfrentar a FSLN no próximo ano.

O próprio Montealegre tirou da manga na semana passada o empresário Fabio Gadea Mantilla, membro do PLC, deputado no Parlamento Centroamericano por essa organização e proprietário da Rádio Corporación, uma emissora abertamente crítica ao governo sandinista encabeçado pelo presidente Daniel Ortega.

Montealegre disse estar disposto a renunciar a suas aspirações presidenciais e apoiar  Gadea como candidato único da oposição, no que recebeu o apoio de Bolaños Davis, mas esclareceu que essa candidatura substitui as candidaturas interpartidárias e não as complementa. Alemán reconheceu as qualidades de Gadea – que além de membro do PLC é seu consogro -, mas deixou claro que não desistirá de sua aspiração de voltar à presidência e o exortou a competir nas eleições interpartidárias para que seja escolhido o melhor candidato, algo que o empresário já disse que não está disposto a fazer.

A proposta de Gadea foi, por outro lado, duramente criticada por Wilfredo Navarro, chefe de campanha de Alemán, que a qualificou como uma saída de Montealegre diante do temor de uma derrota nas eleições interpartidárias frente ao líder do PLC. As constantes polêmicas, as trocas de acusações que caracterizam o cotidiano das forças oposicionistas parece ter enfastiado alguns líderes, para os quais ainda não é o momento de pensar em candidaturas presidenciais.

O certo é que, a pouco mais de um ano das eleições de 2011, a oposição anti-sandinista está cada dia mais atomizada e, sobretudo, carece ainda de um programa de governo com credibilidade para ser oferecido ao eleitorado.

Em meio a essa desordem e à margem das organizações tradicionais, estão surgindo outras formações políticas paralelas, como as denominadas Coalizão Democrática e Aliança Patriótica, às quais se integraram pequenos partidos e grupos políticos da chamada sociedade civil, por trás dos quais é possível estar a sempre presente influência de Washington em sua busca de caras novas para enfrentar o sandinismo.