EUA prometem 'negociações' e tanques israelenses reinvadem Gaza
Vários tanques israelenses, acompanhados por motoniveladoras, entraram nesta segunda-feira (23) na Faixa de Gaza, de acordo com a rádio Al-Quds, três dias depois que a administração Obama anunciou um novo "programa de negociações" entre israelenses e palestinos para a "criação" de um Estado palestino.
Publicado 23/08/2010 21:52
Os ocupantes israelenses alegaram realizar "trabalho de limpeza" e efetuaram vários disparos de "advertência" contra as residências palestinas próximas ao local ocupado pelos blindados. Até o momento não se tem notícia de perdas humanas.
Depois de encerrada a agressão de nome fantasia "Chumbo Derretido" na Faixa de Gaza, em janeiro de 2009, o exército israelense estabeleceu no território palestino uma zona tampão de 300 metros de largura, ao largo da fronteira com o território palestino.
A invasão acontece depois que a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, convidar, na última sexta-feira, o premiê israelense Benyamin Netanyahu e o presidente palestino Mahmud Abbas para reiniciarem as negociações diretas entre as duas partes em Washington, a partir de 2 de setembro, com o objetivo de "chegar a um acordo de paz".
Segundo a diplomacia americana, "o objetivo final é o estabelecimento de um estado palestino viável, democrático e independente, que possa coexistir em paz com Israel".
A proposta não tem garantias de apoio nem prazos reais de execução. O Departamento de Estado dos EUA mediaram uma negociação indireta entre as duas partes para tentar restabelecer o diálogo direto mas não escapou de um novo fracasso, já que algumas premissas básicas exigidas pelos palestinos, como a definição das fronteiras dos dois Estados e o congelamento da instalação de novas colônias ilegais nos territórios ocupados não foram satisfeitas.
A tentativa, agora, é reiniciar negociações sem condições básicas, o que não entusiasma a parte palestina. Israel não cessará a construção de novas colônias, ampliando ainda mais "suas" fronteiras dentro do território ocupado.
A estratégia, anunciada pouco depois da "retirada" cosmética do Iraque, é uma iniciativa da administração Obama para ganhar tempo em relação às questões colocadas durante a negociação indireta entre as partes. Segundo elas, os Estados Unidos dariam uma solução unilateral para o caso, se as negociações fracassassem, e convocaria uma conferência internacional para discutir a ocupação israelense da Palestina.
Como as negociações deram em nada, os Estados Unidos se esquivam de adotar uma solução e impô-la a Israel, procurando encenar mais uma rodada de negociações entre as duas partes. Israel tem feito apenas apertar as mãos dos negociadores palestinos nos últimos anos, ao mesmo tempo que prolonga a estratégia de genocídio empregada desde que foi criado o seu artificial Estado.
Do lado palestino, há uma evidente desunião entre o movimento al-Fatá, de Abbas e o resto da resistência palestina, laica ou não. Os movimentos populares de resistência, como o Hamas, já registraram que não vão aderir a uma proposta desse tipo feita pelos Estados Unidos.
Ao ser forçado a participar desse "diálogo" — já que se recusasse os palestinos estariam, mais uma vez, pagando o preço da "rejeição à paz", como a mídia corporativa ocidental faz parecer aos olhos do mundo o conflito entre ocupantes e resistentes — Abbas colocou uma pá de cal nas cada vez menores possibilidades de um acordo com o Hamas.
Desprestigiado, Isolado e sem poder de negociação, Abbas aceita a promessa de Estados Unidos e de Israel de renegociar a criação do "Estado palestino", em termos cada vez mais voláteis.
De São Paulo,
Humberto Alencar