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São Paulo, Minas, Paraná e Goiás: as últimas 'cidadelas' do PSDB

São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Goiás. É nestes estados que o tucanato espera alavancar a candidatura de Serra, usando os candidatos a governador do PSDB como puxadores do voto nacional.

A construção de cidadelas foi um recurso muito usado na idade média para proteger os feudos. Posteriormente, alguns séculos depois, continuou sendo usada para proteger cidades maiores da invasão de povos vizinhos. Um destes exemplos é Barcelona, onde uma grande cidadela foi construída em 1714 para intimidar os catalães contra qualquer repetição das revoltas contra o governo central espanhol ocorridas no meio do século XVII e início do século XVIII. No século XIX, quando a cidade já havia se liberalizado politicamente o bastante, o próprio povo de Barcelona derrubou a cidadela e a transformou no principal parque da cidade, o Parc de la Ciutadella. Outro exemplo semelhante é a Citadella, emBudapeste, na Hungria. A Citadelle de Quebec ainda sobrevive, e é a maior cidadela ainda em uso oficial por forças militares na América do Norte, depois de mais de duzentos anos de existência.

Como se vê na história, as cidadelas tanto podem ser libertadas pelo povo, como aconteceu com Barcelona, como podem cair nas mãos do inimigo e ficar com eles por muito tempo, como acontece com Quebec. Simbolicamente, nos dias de hoje, aqui no Brasil, também se travam lutas para manter cidadelas e impedir que um feudo se desfaça.

Tucanos miram seus alvos

Uma destas lutas é protagonizada pelo tucanato nas eleições de 2010. Apeados do poder central em 2002, com a vitória de Lula, e sob risco de continuarem de fora, dado que as pesquisas indicam provável vitória de Dilma, os tucanos resolveram concentrar seus últimos esforços em estados chaves, onde possuem candidaturas a governador mais competitivas.

No início deste mês, o senador Sérgio Guerra (PE), presidente nacional do PSDB, disse que seu partido esperava eleger até oito governadores. Seria uma proeza e significaria que os tucanos administrariam para mais da metade do eleitorado brasileiro. Na lista, além dos estados de São Paulo, Paraná, Piauí e Goiás, onde lideram as pesquisas, Guerra ainda somava o Pará, Alagoas, Minas Gerais e Roraima. Àquela altura, o Rio Grande do Sul, onde a tucana Yeda Crusius tenta a reeleição, já estava fora de cogitação.

Agora, os tucanos já acham que está de bom tamanho se a vitória nas urnas acontecer em quatro estados: São Paulo, Paraná, Minas e Goiás. É neles que o tucanato espera alavancar a candidatura de Serra, usando os candidatos a governador como puxadores do voto nacional. "Há certos campos onde é mais fácil crescer do que em outros campos. Crescer em Minas é provável, em São Paulo vai acontecer. Em Goiás é possível e no Paraná também", disse Guerra. Também falou que o crescimento recente de Dilma Rousseff nas pesquisas é apenas uma "onda".

Vejamos como está a disputa nestes quatro estados:

SÃO PAULO:

A disputa pelo apoio do maior eleitorado do país promete se converter na mais emblemática queda de braços regional entre governo e oposição. Para o presidente Lula, derrotar os tucanos no ninho seria a consagração de sua influência política. Mas entre desejo e realidade há uma distância grande a ser percorrida. O PSDB moverá mundos e fundos para não perder a hegemonia em São Paulo, onde são governo há quase duas décadas. As pesquisas até agora os deixam tranquilos, dando ao candidato ao governo paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), 54% das intenções de voto, enquanto seu adversário petista, Aloísio Mercadante, patina nos 16%. Resta pouco tempo de campanha para tirar o favoritismo do tucano.
A vantagem da oposição em SP é que há outros candidatos competitivos, como Celso Russomano (PP) e Paulo Skaf (PSB), que podem contribuir para levar a disputa para o segundo turno. Aí sim, no segundo turno as chances do tucanato derrapar são maiores.  Com ajuda de Lula, o PT e aliados prometem intensificar a campanha em SP para alavancar a candidatura de Dilma num dos únicos estados onde ela ainda perde para Serra. A intenção inicial dos tucanos, que era garantir 4 milhões de votos de vantagem para Serra em SP já foi pro beleléu. Agora, eles lutam para que a diferença não seja menor que 1 milhão.
Senado Já na disputa pelo Senado, os tucanos não têm força. Lançaram um candidato (Aloysio Nunes) sem nenhuma chance de emplacar. Quem lidera a corrida senatorial, por enquanto, é Marta Suplicy (PT). Sua provável vitória apenas reporá a vaga que o PT perde com a saída de Mercadante. A segunda vaga está em disputa. Netinho (PCdoB), Quércia (PMDB) e Romeu Tuma (PTB) travam uma batalha acirrada e sem favoritos. Mas a campanha de Quércia, aliado dos tucanos, está muito forte, gastando milhões para tentar superar os adversários. Romeu Tuma também surge competitivo pois cativa o eleitorado mais conservador, que é grande entre os paulistas. A eventual eleição de Netinho seria uma vitória das forças populares e significaria um apoio importante para Dilma no Congresso. Ao mesmo tempo, a direita paulista ficaria sem representantes no Senado, o que nos faz deduzir que tudo farão para evitar que isto aconteça. Já começaram a jogar sujo contra Netinho e poderão apelar ainda mais se o candidato comunista, apoiado por Lula, continuar subindo nas pesquisas. Com 71% de indecisos, segundo levantamento do Ipespe, tudo pode acontecer na disputa pelo Senado. Com tantos indecisos, nem a eleição de Marta Suplicy está assegurada.
 

MINAS GERAIS:

Como era de se esperar, o atual governador Antônio Anastasia (PSDB), candidato do ex-governador Aécio Neves, começa a subir com a propaganda eleitoral no rádio e na TV. Será muito difícil para Hélio Costa (PMDB) conter o crescimento do adversário tucano. Sem outros concorrentes de peso, a disputa pode se resolver no primeiro turno.
Senado: Na disputa pelo Senado, Aécio é praticamente imbatível na conquista da primeira vaga. Segundo o Ibope, ele tem hoje 69% das intenções de voto. A segunda vaga, pelo que indicam as pesquisas até agora, ficará com o também oposicionista Itamar Franco (PPS), que tem 43%. Pode ser o único senador que o PPS irá eleger em 2010. Pimentel (PT), por enquanto, come poeira (19% segundo o Ibope) e nada indica que tenha fôlego para alcançar os adversários. Confirmando-se estes resultados, Aécio sai das eleições de 2010 como o líder mais forte do PSDB e da oposição de direita. O consolo da base aliada ao governo Lula em Minas é que está quase certa a derrota de Serra para Dilma neste que é o Estado com o segundo maior colégio eleitoral do país e terra natal da candidata petista. Os partidos aliados de Dilma também devem aumentar um pouco sua participação na bancada mineira de deputados federais.

 

PARANÁ:

O ex-prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), lidera a disputa pelo governo paranaense com 46% das intenções de voto, mas seu adversário Osmar Dias (PDT) mantem-se competitivo com 34%. A ideia da campanha de Serra, no caso do Paraná, é “colar” em Richa para tentar capitalizar a vantagem que o candidato do PSDB ao governo tem no Estado para o presidenciável. A estratégia, porém, vai na direção contrária do que vem sendo feito na campanha de Richa, onde Serra até agora foi praticamente esquecido na propaganda eleitoral no rádio e na televisão. E o presidente estadual do PSDB, deputado Valdir Rossoni, não demonstrou nenhuma empolgação com a estratégia de Serra de querer “colar” em Richa para capitalizar os votos de seu aliado tucano no Estado.
Senado: Já na disputa para o Senado, os tucanos patinam. As pesquisas indicam, até o momento, que o ex-governador Roberto Requião (PMDB), com 50%, e Gleisi Hoffmann (PT), com 31%, continuam à frente. Ambos apoiam a candidatura de Osmar Dias. O deputado federal Ricardo Barros (PP) com 15% das intenções de voto e o também deputado federal Gustavo Fruet (PSDB) com 13% são aliados de Richa e terão que contar com mudanças repentinas na opção do eleitorado para terem alguma chance. A tradição no Paraná tem sido eleger um senador de cada grupo político. Desta vez, porém, a regra poderá ser quebrada.

GOIÁS:

O estado é um osso duro de roer para a base aliada do governo. O próprio presidente Lula tem interesse particular numa vitória dos aliados em Goiás. Em relação à Dilma, parece não ser difícil. Mas na disputa pelo governo local e pelas duas vagas ao Senado, a direita goiana, por enquanto, é quem leva a melhor. O tucano Marconi Perillo, que Lula considera um político desleal, lidera a corrida eleitoral no Estado com 45%, segundo o Ibope. O ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), vem em seguida com 34%.
Senado: Para o Senado, os candidatos à reeleição Demóstenes Torres (DEM) e Lúcia Vânia (PSDB), dois ferrenhos adversários do governo federal, lideram a disputa. O candidato do DEM tem 43% das intenções de voto, diante de 36% da tucana. Na terceira posição está Pedro Wilson (PT), com distantes 16%. O refresco para a esquerda é a liderança de Dilma, que tem o apoio de 43% dos eleitores goianos, enquanto Serra aparece com 32%. É esta diferença de 11 pontos que a cúpula tucana vai tentar superar colando Serra a Marconi. Resta saber se um não vai acabar servindo de âncora para o outro, afundando ambos.
Da redação, com agências