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Apesar da crise, um milhão saem da linha da pobreza em 2009

Em estudo que será divulgado sexta-feira (10), FGV mostra que total de pobres recuou 4%, contrariando expectativa de "empate" em 2009

A crise global atrapalhou o crescimento econômico e elevou o desemprego, mas não interrompeu o combate à miséria no Brasil. Cerca de um milhão de pessoas cruzaram a linha da pobreza entre 2008 e 2009, segundo informações divulgadas nesta quinta-feira (9) por Marcelo Neri, chefe do Centro de Estudos Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Isto equivale a um recuo de 4,3% da pobreza neste período. O dado, calculado a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domícílio (Pnad) faz parte de um novo estudo sobre classes sociais que o pesquisador da FGV lança amanhã (sexta-feira). Neri se baseou na soma de todas as fontes de renda (trabalho, aposentadoria, programas sociais etc) de todas as pessoas do domicílio dividida pelo numero de pessoas da família. E considerou pobre aquele que recebe menos de R$ 140 por mês.

Desaceleração

Mesmo com a crise e o aumento do desemprego revelado pela Pnad, a participação de pobres na população brasileira recuou de 16,02% em 2008 para 15,32% em 2009. A queda não é tão expressiva quanto nos anos anteriores, mas significativa para quem esperava "um empate em 2009". Marcelo Neri esperava que 2009 seria um ano praticamente sem avanços no combate à miséria e chegou a excluir o período de projeções de queda na pobreza, por considerá-lo um ponto fora da curva.

Embora longe de um "empate", o processo de redução da pobreza desacelerou. De 2003 a 2008, cerca de 20 milhões de brasileiros deixaram a pobreza. Somente entre 2007 e 2008, a pobreza recuou cerca aproximadamente 12%, ritmo bem maior que o verificado agora a partir desta última Pnad.

Neri explica que o segredo da redução da pobreza no Brasil tem sido a combinação de crescimento com redução de desigualdade social. Em 2009, a economia ficou estagnada, mas a Pnad mostrou que novamente a concentração de renda diminuiu. A renda média dos 40% mais pobres do País avançou 3,15%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu 1,09%.

Valorização do trabalho

Um dos principais fatores que explicam a redução da pobreza é a política de valorização do salário mínimo conquistada pelo movimento sindical com o apoio do presidente Lula. O aumento real do salário fortaleceu o mercado interno e impediu a propagação da crise, em combinação com as políticas de estímulo adotadas pelo governo e a continuidade de outros programas do governo, inclusive o Bolsa-Família.

Indústria e agropecuária sofreram com o colapso do comércio exterior, decorrente da recessão nos Estados Unidos, e a queda das exportações, mas a expansão da renda doméstica acabou compensando a redução das vendas externas e garantindo a recuperação.

O comportamento da economia, que superou rapidamente a crise e voltou a crescer de forma vigorosa, mostra que a valorização do trabalho contribui poderosamente para o desenvolvimento nacional ao elevar o nível de emprego e ampliar o consumo das massas, alimentando o mercado interno e estimulando, com isto, os setores produtivos. É o contrário do que prega o neoliberalismo, que advoga a depreciação do trabalho para ampliar a competitividade da indústria nacional, receita que foi aplicada nos governos FHC e redundou na elevação do nível de desemprego e estagnação da economia.

Da redação, com agências