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Compra de títulos do Japão pela China gera tensão

O Japão manifestou preocupação com o acentuado aumento recente verificado na compra de títulos da dívida japonesa (JGB, na sigla em inglês) por parte da China, na mais recente de uma série de notas amargas num relacionamento tradicionalmente tenso, por cuja estabilização os dois lados se empenharam a duras penas.

A compra de JGBs por parte da China representa um tema especialmente sensível, uma vez que envolve ansiedades no Japão sobre o fortalecimento do iene e seu impacto sobre a economia.

Tóquio e Pequim também entraram em conflito nesta semana depois que as autoridades japonesas detiveram o capitão de um barco de pesca chinês nas disputadas águas do Mar do Leste da China.

"Há algo estranho no fato de a China poder comprar títulos do governo japonês enquanto o Japão não pode (comprar títulos chineses)", disse Yoshihiko Noda, ministro das Finanças japonês.

"Há espaço para os dois governos manterem conversas com vistas a melhorar essa situação."

Nos sete primeiros meses desse ano, as compras chinesas líquidas de JGBs foram de aproximadamente 2,3 trilhões de ienes (US$ 27,4 bilhões), segundo o Ministério das Finanças japonês.

Apesar de Noda não ter estabelecido um vínculo entre as compras chinesas de títulos japoneses e a alta do iene, ele disse que o Japão queria uma explicação para a compra de uma "enorme quantidade de JGBs de curto prazo" efetuada pela China em maio. "Não sei quais são seus reais objetivos, mas gostaríamos de esclarecer."

Seus comentários ocorrem no momento em que o governo japonês enfrenta pressão crescente para conter o fortalecimento do iene, que está prejudicando a competitividade dos exportadores japoneses e corroendo seus lucros. O iene atingiu nesta semana a maior cotação em 15 anos em relação ao dólar dos EUA.

Apesar de as compras líquidas de títulos japoneses realizadas pela China estarem em nível recorde, alguns analistas dizem que elas exercem efeito irrisório sobre o mercado de câmbio.

"Seria um verdadeiro exagero afirmar que o movimento de compra de títulos por parte da China seria o fator que está valorizando a moeda", disse Christian Carrillo, analista do Société Générale. Ele disse que os fluxos líquidos provenientes da balança de pagamentos ofuscam as compras chinesas totais, que somam 2,316 trilhões de ienes.

Além disso, a compra é minúscula na comparação com a emissão total de títulos do governo do Japão, estimada em 162,414 trilhão de ienes para o ano fiscal que termina em março de 2011.

Outros analistas, porém, discordam. "Acredito que a compra chinesa [de JGB] esteja exercendo pressão altista sobre o iene", disse Tohru Sasaki, analista de moeda estrangeira do JPMorgan.

Ichiro Ozawa, o peso-pesado do Partido Democrata que está desafiando o premiê Naoto Kan pela liderança na próxima semana, tem sido eloquente sobre a possível necessidade de intervir nos mercados de câmbio para deter a valorização do iene.

As críticas de Tóquio ao mercado fechado da China – que restringe investimentos por meio de controles de capital – surgiram depois que Larry Summers, principal assessor econômico do presidente dos EUA, Barack Obama, visitou Pequim nesta semana, em parte para tentar convencer as autoridades chinesas a permitir que o yuan se valorize ainda mais.

As observações de Noda também se seguem a um período de especulação renovada sobre a gestão chinesa de seu volumoso estoque de reservas cambiais.

Além da ampliação das compras de títulos japoneses, operadores de câmbio dizem que a China também tem sido uma compradora de títulos de dívida sul-coreanos, canadenses e australianos.

Fonte: Valor Econômico