Causa Mapuche está no topo da agenda política do Chile
As divergências entre os poderes do Estado e o acentuado dissenso interpartidário continuam focalizando a agenda política chilena a respeito de como encarar a prolongada greve de fome de 34 presos Mapuche.
Publicado 23/09/2010 17:03
A porta voz da presidência, Ena Von Baer, criticou a desaprovação da reforma da lei antiterrorista pelos deputados, mas familiares dos grevistas asseguraram que a postura do governo até o momento não tem favorecido a solução do problema.
O governo tem dado passos, mas não em resposta às demandas pontuais, opinou Manuel Chocori, porta-voz da Coordenação de Familiares de Presos Políticos Mapuche em Greve de Fome.
“Não é clemência o que pedimos, só justiça”, apontou por sua vez o ex líder índígena Héctor Llaitul, que enviou quarta-feira (22) uma carta ao secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, na qual explica as causas do protesto iniciada dia 12 de julho.
Assinalou em sua mensagem que a lei antiterrorista, instituída durante a ditadura de Pinochet, possui aberrações jurídicas como a utilização de testemunhas sem rosto. "Os Mapuches não somos terroristas, somos lutadores sociais", destacou Llaitul.
“Historicamente”, acrescentou, “fomos despojados de nosso território ancestral, questão que nos mantém em estado de opressão e pobreza”. Ontem, ante o iminente perigo de morte de alguns dos camponeses, a presidenta do Instituto Nacional de Direitos Humanos de Chile, Lorena Fries, advertiu que "os tempos que o país está utilizando não são de bom tom".
Em qualquer momento pode ter um desenlace fatal, alertou Fries, que considerou que a mesa de diálogo proposta pelo Executivo não inclui os temas propostos pelos comuneiros. Com similar ponto de vista pronunciou-se o arcebispo da província de Concepção, Monsenhor Ricardo Ezzati, que defende um caminho mais rápido para evitar uma tragédia maior.
"O caminho da legislação é o caminho permanente e definitivo, ao final são as leis as que permitem assegurar que tenha um devido processo", lhe respondeu, no entanto, o ministro secretário geral da Presidência, Cristián Larroulet.
A visão burocrática que predomina no governo direitista parece ocultar outros interesses e pode provocar mortes, uma vez que os 34 presos Mapuche estão em greve de fome há 74 dias. A mídia capitalista contribui com o drama com uma cínica conspiração do silêncio para deixar o movimento indígena invisível aos olhos das grandes massas, um comportamento bem distinto da ruidosa cobertura dada aos presos cubanos em greve de fome há alguns meses.
Com La Prensa