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Ricardo Kotscho: a eleição agora pode ir para o 2º turno?

Se depender da maioria dos analistas que li nesta quinta-feira, a resposta ao título é “sim”. Pela primeira vez, desde que a candidata Dilma Rousseff disparou nas pesquisas, o mais recente Datafolha divulgado na véspera registra uma queda na diferença de votos que ela abriu sobre os demais concorrentes. “Com escândalos, cai vantagem de Dilma, mostra o Datafolha”, comemora o jornal em manchete.

Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho

Só faltou acrescentar um “até que enfim!…” Segundo o instituto, Dilma caiu dois pontos, Serra subiu um, Marina cresceu três e os nanicos alcançaram um ponto também. Em uma semana, a vantagem de Dilma sobre a soma de todos os adversários juntos caiu cinco pontos (era de 51 a 39 e agora ficou em 49 a 42).

Ainda assim, a candidata do PT venceria no primeiro turno se as eleições fossem hoje. Nos votos válidos, ela tem 54, Serra fica com 31 e Marina com 14. Caiu de 14 para 8 pontos a vantagem de Dilma sobre os demais.

Em comparação com a última pesquisa tracking do Vox Populi/Band/iG, publicada na quarta-feira, a diferença dos números dos dois institutos é grande. No Vox, Dilma mantem 27 pontos de vantagem sobre Serra (51 a 24); no Datafolha, esta diferença cai para 21 pontos (49 a 28).

A apenas dez dias das eleições, trata-se de uma diferença fora de qualquer margem de erro, que só poderá ser aferida com a divulgação de novas pesquisas por outros institutos.

Seja como for, o novo Datafolha reacendeu as esperanças de quem está jogando tudo para levar a eleição ao segundo turno. Como as denúncias de violação do sigilo fiscal não foram capazes de alterar o quadro das pesquisas, novos escândalos ganharam a praça, levando à queda da ministra Erenice Guerra e outros funcionários da Casa Civil e dos Correios.

Com a guerra aberta e declarada entre o governo Lula e a campanha de Dilma com a imprensa, o cenário volta a se tornar imprevisível, sempre na dependência de um “fato novo”. O que não se conseguiu ainda foi alavancar a campanha de José Serra, já que os votos perdidos por Dilma estão migrando majoritariamente para Marina Silva.

Pouco importa. A esta altura, qualquer voto vale para levar a eleição ao segundo turno, nem que seja dos nanicos, que pela primeira vez somados atingiram um ponto no Datafolha. Até um debate promovido terça-feira na internet com três “nanicos de esquerda” mereceu toda a última página de hoje do caderno de eleições da Folha, sob o título: “Vermelhos contra Lula”.

Atos públicos são promovidos à margem das campanhas oficiais para denunciar, de um lado, ameaças do governo à liberdade de imprensa, ao Estado de Direito e à democracia, com discursos histéricos como se o país estivesse à beira de uma guerra civil; de outro, entidades do movimento social e os partidos aliados do governo se mobilizam para denunciar o “golpismo da imprensa” a serviço da candidatura de José Serra.

Aonde isto vai parar, e qual a sua possível influência na campanha eleitoral que está chegando ao fim, não tenho a menor ideia. Só sei que este clima de intolerância, como escrevi outro dia, não é bom para ninguém. Nem gosto de escrever sobre este assunto. A eleição passa, o país e suas instituições ficam. Os eleitores voltam a ser apenas cidadãos, os jornalistas, jornalistas, e a vida segue.

Teremos segundo turno? Gostaria de saber a opinião dos caros leitores.

Em tempo: conversei esta tarde, por mais de uma hora, com dois jovens repórteres brasileiros da BBC de Londres, que vieram aqui em casa me entrevistar sobre a campanha eleitoral. É sempre agradável falar com pessoas inteligentes e bem informadas. Sabem qual foi o tema que dominou a conversa? Pois é, o mesmo dos últimos posts publicados aqui no Balaio: o papel da mídia nestas eleições. Virou assunto até lá fora…