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Aldo: Evo na presidência é importante para democracia na Bolívia

Em entrevista exclusiva ao jornal Correo del Sur, de Sucre (histórica cidade da Bolívia), o deputado federal Aldo Rebelo defendeu as relações amistosas entre o Brasil e Bolívia estabelecidas pelo governo Lula e defendeu o presidente do país irmão, Evo Morales, afirmando que o fato inédito de que um político “oriundo dos setores populares, da população indígena, seja presidente, é algo que deve ser visto como uma coisa importante para a democracia do país”.

O brasileiro José Aldo Rebelo Figueiredo é jornalista, escritor, deputado e membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Nascido na cidade de Viçosa, em Minas Gerais, tem 54 anos, dos quais mais de 30 foram dedicados à política. Ex-presidente da Câmara dos Deputados do Brasil (2005-2007), é considerado um dos homens mais influentes do governo Lula. Atualmente, preside o grupo parlamentar Brasil-China. Aldo visitou Sucre para assistir o jogo entre Palmeiras e Universitários pela Copa Sul-Americana.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

Correo del Sur: Você foi presidente da Câmara dos Deputados do Brasil em um período importantíssimo da história do país. Que avaliação faz desta etapa?
Aldo Rebelo: Foi um período bastante conturbado, porque eu sucedi o presidente que havia renunciado ao mandato, Severino Cavalcanti, envolvido num escândalo de corrupção. Ademais, era também um período de radicalização da oposição contra o governo Lula. Havia entre os oposicionistas a ideia de fazer um impeachment do presidente e ganhar a presidência da Câmara era parte dessa estratégia. Ao sofrer essa derrota, a oposição perdeu muita força e eu arquivei alguns desses pedidos de impeachment e pude retomar o trabalho legislativo com algum grau de estabilidade, de equilíbrio, com o objetivo de superar o impasse e a crise em que o país estava mergulhado.

Correo del Sur: Nessa época o governo Lula também foi muito criticado por setores da imprensa e da política brasileira por ter adotado uma postura demasiadamente branda, segundo eles, no caso da nacionalização das plantas de refinaria de petróleo da Petrobras. Qual sua opinião a este respeito?
Aldo Rebelo: O presidente Lula sofreu críticas por suas relações não só com o governo de Evo Morales, senão também com o governo do presidente Hugo Chávez, da Venezuela. Eu sempre acreditei que o Brasil deve administrar possíveis conflitos com a Bolívia privilegiando o diálogo e a negociação, em lugar da confrontação e do enfrentamento e foi esta a posição que o presidente Lula adotou contra os interesses da Bolívia e do Brasil, acerca de questões como o petróleo e a atividade da Petrobras na Bolívia, não estavam completamente de acordo. Nós sabíamos que o governo boliviano ia adotar medidas para proteger seus recursos naturais e proteger seus interesses, o que é legítimo, e nós fizemos um esforço também para proteger os interesses do Brasil e das empresas brasileiras, no caso a Petrobras. Porém, creio que a atitude prudente e moderada do presidente Lula contribuiu para encontrar uma solução que assegura o mais importante, e o mais importante é a união, a cooperação entre Brasil e Bolívia para o desenvolvimento dos dois países.

Correo del Sur: À distância, que leitura faz do desempenho do presidente Evo Morales na Bolívia?
Aldo Rebelo: Eu penso que o principal critério para avaliar um governo é o critério do seu próprio povo. Parece que o presidente Evo Morales recebeu uma aprovação muito grande da população da Bolívia. Nós temos conhecimento de algumas áreas de conflito, principalmente entre o governo central e as províncias da chamada meia lua, Santa Cruz, Beni e Pando… Fazemos votos para que a Bolívia encontre o caminho da democratização profunda e verdadeira, o caminho da luta pelo equilíbrio social e o caminho da sua emancipação econômica em um ambiente de unidade de seu povo, de sua sociedade. O que posso dizer finalmente é que todos os intentos do povo boliviano de modernizar suas instituições, de alcançar o pleno desenvolvimento, na maioria das vezes foram impedidos por movimentos golpistas, pela prevalência dos interesses dos Estados Unidos. Cedo ou tarde o povo boliviano, com Evo Morales ou com outra pessoa, emergirá para construir um caminho. Então eu creio que o fato de que, pela primeira vez na história da Bolívia, um homem oriundo dos setores populares, da população indígena, seja presidente, é algo que deve ser visto como uma coisa importante para a democracia do país.

Correo del Sur: Como analisar o processo eleitoral em curso no Brasil para a sucessão do presidente Lula?
Aldo Rebelo: O Brasil busca reafirmar nesta eleição o caminho que foi aberto pelo presidente Lula, tanto em sua eleição como em sua reeleição, ou seja, Lula tem como principal objetivo retomar o desenvolvimento, o crescimento da economia, sem o que nenhum dos graves impasses no Brasil pode ser resolvido. Sem o desenvolvimento econômico, sem a retomada do crescimento da economia não há como enfrentar o problema dos baixos salários, do desemprego, da qualidade da educação, dos serviços públicos; creio que este é o esforço que a candidata apoiada por Lula, Dilma Rousseff, fará caso seja eleita. E acredito que Dilma será eleita, em que pese o fato de que no Brasil as eleições sejam sempre muito equilibradas.

Correo del Sur: Que impressão leva de sua estadia em Sucre?
Aldo Rebelo: Sucre é uma cidade presente no imaginário de todo latino-americano que tem noção de sua história. Mesmo antes de conhecer Sucre fisicamente, eu tinha noção da importância da cidade, de seu espírito, que está presente na vidade dos que lutam na América Latina pela independência e pelos direitos nacionais. Além do seu papel na formação da América Latina, poucas cidades latino-americanas têm o patrimônio arquitetônico que tem Sucre. A cidade homenageia com sue nome uma das mais belas figuras de libertadores da América. Então, há muitas razões para visitar Sucre. Mas, além disto, minha visita ocorreu também para acompanhar um dos meus interesses, que é o futebol, e a presença de meu clube, o Palmeiras. Este também foi um bom motivo para voltar a ver esta bela cidade da Bolívia e da América Latina.

Fonte: Correo del Sur, tradução do Vermelho