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Sarkozy ordena polícia recrudescer repressão aos protestos

A repressão policial aos protestos contra a elevação da idade da aposentadoria imposta pelo regime francês produziu cenas de guerra nas principais cidades francesas nesta quarta-feira (20). Em Paris e Marselha aconteceram atos de vandalismo, condenados pelos sindicatos, ao mesmo tempo que a polícia investia contra manifestantes pacíficos.

No centro da cidade de Lyon a polícia entrou em confronto com centenas de cidadãos, resultando em destruição de lojas e automóveis, além de dezenas de manifestantes presos e feridos. A polícia já deteve cerca de dois mil manifestantes, desde a semana passada.

Sem trégua após uma gigantesca greve de três milhões e meio de pessoas, realizada nesta segunda-feira, o desacordo entre os trabalhadores e o regime francês está longe do fim.

Em uma flagrante demonstração de autoritarismo, Nicolás Sarkozy, presidente do país, mantém a obstinação de dar prosseguimento à impopular reforma da lei de aposentadorias. Ao mesmo tempo, as confederações sindicais francesas e os estudantes não se rendem em suas reivindicações.

Sarkozy tentou enganar a população ao declarar nesta quarta-feira o desbloqueio dos depósitos de combustíveis e o fim da greve nas refinarias, mas a realidade é bem diferente.

Imagens de uma grande concentração de estudantes e sindicatos da CGT e CFDT, entre outros, eram visíveis nas imediações do Senado em Paris, onde a impopular reforma está sendo "debatida".

Em teoria, o Senado deve votar na quinta a nova legislação, fato que com as palavras de Sarkozy irritou ainda mais os manifestantes, que advertiram estarem prontos para resistir, sem importar o frio ou a chuva.

Victor Colombani, presidente da união dos estudantes da França, observou que os jovens estão cientes da responsabilidade em apoiar uma causa justa contra a administração "de corte neoliberal e alinhamento com os ricos" de Sarkozy.

A tensão aumentou nas refinarias de petróleo e em particular na localidade de Porty de Bouc, um estratégico depósito de combustíveis do país, que permanece fechado por numerosos sindicalistas.

Em ambos os casos, tratores fecham a entrada das instalações e os grevistas afirmam, em cartazes: "Basta, Sarkozy! O povo fala alto e claro, não queremos essa reforma".

Pesquisas de opinião publicadas na manhã desta quarta revelaram que mais de 60 por cento dos franceses mantêm seu apoio os protestos contra a lei de aposentadorias e uma porcentagem similar se mostra a favor da continuidade dos protestos.

Outra pesquisa feita pelo instituto Viavoice para o jornal Libération disse que 61 por cento dos cidadãos deseja que o projeto seja modificado parcialmente.

Além disso, assinalou que 60 por cento dos franceses pedem que seja profundamente mudado, enquanto 79 por cento se pronunciou pela retomada de negociações com os sindicatos.

Democracia de fantasia

Os protestos são uma clara demonstração que a democracia representativa à moda francesa, propalada aos quatro cantos do mundo, é um embuste. Os protestos e manifestações são prova de que o regime detesta a opinião popular e procura impor os ditames neoliberais e a perda de direitos ao povo sem consultá-lo.

O debate do projeto de lei no Senado provocou momentos de euforia entre os legisladores. Unidos, os presidentes dos quatro grupos representantes da esquerda (socialistas, comunistas, verdes e radicais) conclamaram que Sarkozy ouça o recado das ruas e cancele a votação desta quinta-feira.

“Ainda é tempo, senhor presidente, de o senhor ouvir os franceses e debater com eles os principais pontos desta reforma”, afirmou o presidente do grupo socialista, senador Jean-Pierre Bel.

"Apelamos solenemente ao presidente da República: suspenda o debate [no Senado], inicie o diálogo, perceba o momento, seja sábio. Não permita que este país caminhe em direção a um impasse", afirmou.

Repisando o autoritarismo de Sarkozy, seu ministro do Trabalho, Eric Woerth, manteve a posição do governo de não obedecer à vontade popular. “Não há nenhuma razão para interrompermos os debates no Senado e não o faremos”, trovejou Woerth. "Essa reforma não é nem fácil, nem demagógica: ela é necessária", tonitruou mais uma vez.

Da redação, com agências