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Desnacionalização: Morgan paga US$ 270 milhões por 55% da Gávea

O banco americano J.P. Morgan oficializa nesta quarta-feira (27) a compra da Gávea Investimentos, empresa fundada há sete anos pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga (no governo FHC) e que administra US$ 6 bilhões (cerca de R$ 10,2 bilhões) em ativos. Os valores não foram divulgados oficialmente, mas o Valor apurou que o banco americano pagará, nesse primeiro momento, US$ 270 milhões em dinheiro para assumir 55% do capital da gestora brasileira.

O acordo prevê que os restantes 45% da Gávea podem ser comprados em cinco anos – 22,5% no terceiro ano do contrato e 22,5% no quinto ano. Daqui para a frente, o pagamento ficará condicionado à performance da firma durante os cinco anos e, de acordo com uma fonte a par dos termos acertados, o valor total desembolsado por 100% da Gávea pode chegar a US$ 1 bilhão, no melhor cenário de performance.

A compra, fechada ontem no Rio de Janeiro, depois de um ano de negociações, foi feita pelo braço de administração de recursos do banco americano – o J.P. Morgan Asset Management -, por meio de sua subsidiária integral Highbridge Capital Management.

No contrato, ficou estabelecido que Armínio Fraga e seus atuais sócios permanecerão no comando da Gávea por pelo menos cinco anos. Depois desse prazo, Fraga poderá deixar a gestão e passar a presidir o conselho de administração, restringindo seu papel ao de estrategista da empresa.

Questionado se não deixará a Gávea, caso seja convidado a assumir um ministério no novo governo, Fraga desconversou. "Isso é muito teórico. Não recebi convite nem nada. Esse assunto não se coloca para mim", disse o ex-presidente do BC, informando, no entanto, que o contrato com os americanos contém cláusula para um possível distrato. "Quem está próximo de mim sabe que eu estou totalmente comprometido. Não sou funcionário de uma empresa, fui cofundador [da Gávea]. Tenho compromisso assumido com os nossos investidores, com os meus sócios e agora com o J.P. Morgan/Highbridge."

Com a entrada do novo sócio, a Gávea deve expandir suas áreas de atuação, hoje baseadas em três tipo de negócio: fundos de hedge, gestão de patrimônio e private equity (participações acionárias em empresas de capital aberto e fechado). Fraga informou que uma possibilidade é criar fundos de investimento em bolsa de valores. Outra área a ser explorada é a de fundos de crédito.

Mary Erdoes, presidente da área de asset management do J.P. Morgan, disse ao Valor que vê potencial no setor imobiliário. "Vemos potencial para futuros investimentos no setor imobiliário, onde há tremendas oportunidades no longo prazo." Para a executiva, o Brasil é a estrela do momento no mercado internacional. "O mundo tem procurado ganhar maior exposição em mercados emergentes, em lugares para investir a longo prazo. Não há melhor lugar para fazer isso do que o Brasil. E não há melhor grupo com o qual fazer isso do que a Gávea", sustentou Erdoes.

O presidente da Highbridge Capital, Glenn Dubin, disse que o Brasil é uma "área-chave" do crescimento estratégico de sua empresa no mundo. "Nós estamos ganhando dois ativos muito valiosos em nossa parceria com a Gávea: a exposição no Brasil, com um tremendo parceiro local; e uma melhor compreensão dos recursos macro, de equity, de crédito etc."

Nem mesmo as questões de curto prazo, como a mudança de governo e os problemas na área fiscal do setor público, além da ausência de reformas estruturais, parecem preocupar os investidores. "Se você olhar as perspectivas de longo prazo do Brasil, não há outros indicadores mais fortes no resto do mundo", disse Mary Erdoes. "Se há questões de curto prazo nos mercados, isso não significa que o cliente não possa navegar e ganhar dinheiro através de amplos investimentos ao longo do tempo, e é o que nós realmente vamos procurar fazer."

Luiz Fraga, primo de Armínio Fraga e cofundador da Gávea, explicou que não há questionamentos regulatórios que possam prejudicar a associação da Gávea com o Highbridge. Segundo explicação dada por ele, pelo modelo de compra acertado, são os clientes do J.P. Morgan, por meio da Highbridge, que vão investir na Gávea. Dessa forma, o banco não usará seu capital no negócio, algo que foi barrado pela recente reforma financeira aprovada pelo Congresso americano em resposta à crise financeira de 2008. "Não é o caso aqui. O J.P. Morgan está comprando, via Highbridge, o capital de uma gestora que vai colocar os produtos para investidores institucionais e de private banking do J.P. Morgan e não para o capital do banco J.P. Morgan", argumentou Luiz Fraga.

O executivo explicou, ainda, que a associação não implicará integração de portfólio das duas gestoras. "O que vai ter é inteligência dos gestores, um participando de comitês do outros, para tentar adicionar valor. Cada um com vida independente. Os comitês de investimento continuam sendo presididos pelo Armínio e por mim e nós temos autonomia total na gestão. Não há veto nem nada", informou Luiz Fraga.

No comunicado feito pelas três instituições na madrugada de hoje, os sócios ressalvaram que "a transação está sujeita à finalização de documentação legal e, em alguns casos, à aprovação das autoridades regulatórias. Nossa expectativa é que a transação seja concluída no futuro próximo".

Fonte: Cristiano Romero e Vanessa Adachi para Valor