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Preços ao consumidor sobem 0,59% em outubro

As matérias-primas brutas agropecuárias no atacado já recuperaram os preços de antes da crise econômica. Segundo o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, ainda existem incertezas sobre a desaceleração dos preços no atacado, já que agora o varejo começa a sentir também essa alta.

O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) registrou alta de 1,32%, abaixo do verificado no mês anterior, de 1,47%. O índice ainda foi considerado elevado, mas já demonstra uma desaceleração mais forte do que o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que teve queda de apenas 0,07 ponto percentual, para 1,03%, impactado pelos preços em alta no varejo. O índice de preços ao consumidor (IPC) registrou variação positiva de 0,59%, acima dos 0,46% do mês anterior.

Alimentos pressionam

“O IPC ainda está recebendo os impactos de alta dos agrícolas, mas o IPA já está se reduzindo e compensando a alta dos preços ao consumidor, o que leva a uma certa estabilidade”, disse Quadros. O IPA normalmente antecipa o que vai acontecer com o IGP. “O problema é saber se vai continuar caindo ou se vai se manter estável”.

O maior efeito sobre a desaceleração de 0,15 ponto percentual do IPA veio das matérias-primas brutas. Mas, a desaceleração foi considerada lenta. “A crise não havia derrubado tanto os preços. Antes, parecia que essa pressão se extinguiria mais rapidamente. Agora, essa estabilização deve demorar mais para chegar, com a alta dos preços da soja e das carnes bovinas”.

Especulação

Outro fator que pode desestabilizar isso é a especulação dos investimentos financeiros no setor de commodities. “O Banco Central americano vai injetar US$ 600 bilhões nos próximos meses, e todo mundo duvida que isso vá se transformar em crédito. Então, o volume de recursos para investimentos será maior. Trata-se de um novo fator de pressão sobre preços de commodities, sem relação direta com o consumo”, disse.

Em outubro, as matérias-primas brutas tiveram queda de 1,48 ponto percentual, para 2,31%, e as matérias-primas brutas agropecuárias também diminuíram o ritmo de alta, passando de 5,41% para 4,06%. Segundo Salomão, a alimentação está subindo mais devido aos produtos in natura, mas também sofre efeito dos produtos processados.

A batata inglesa avançou 18,09%, ante avanço anterior de 1,78%, e o tomate passou de queda de 16,96%, para alta de 26,65%. O feijão está com avanço de 20,64% (ante alta de 21,95%). O feijão já teve impacto maior, tendo chegado a subir 40% no meio do mês e agora está em desaceleração. O açúcar cristal continua subindo 20,66% (ante 15,76%), devido a efeitos do mercado internacional.

Carne

A carne bovina apresentou uma aceleração de 4,71%, menor do que a verificada no mês anterior, de 6,09%. No entanto, Quadros disse que a tendência não é de queda, pois já foi verificada nova inversão, devido ao período de entressafra. A demanda de carne também está se recuperando rapidamente, devido às exportações que estão fortes e pressionam os preços internos. Nos frigoríficos, o reajuste foi de 20,18% em outubro.

“A minha preocupação hoje é com a renovação das pressões. O efeito atual de pressão da alimentação vem mais dos produtos in natura. Apesar de os processados também já estarem em patamar mais baixo, já há novas pressões”, disse Quadros.

Em fases de valorização cambial forte, os materiais para manufatura tendem a ficar negativos, mas isso não está acontecendo, porque o efeito de alta dos preços está compensando. Com isso, os materiais e componentes para manufatura passaram de queda de 0,08%, para alta de 0,41%, fazendo com que os bens intermediários subissem 0,41% (ante 0,06% no mês anterior).

Soja

A soja está está contramão do agregado, tendo passado de alta de 3,36% para avanço de 5,56%. É um sinal de alerta, segundo o economista da FGV, porque isso pode estar antecipando uma nova rodada de elevações de preços.

Já os preços ao consumidor estão em alta após três meses de deflação. O núcleo do índice passou de uma alta de 0,52% para avanço de 0,41%. A taxa de inflação em 12 meses está se acelerando, tendo atingido os 4,96% em outubro.

A alimentação foi responsável pela maior parte do IPC, que foi de 0,59%. Do avanço de 0,13 ponto percentual, o setor foi responsável por 0,15 ponto, seguido por 0,06 ponto percentual (pp) dos transportes. Essas pressões positivas foram em aprte compensadas pela habitação (-0,04 pp), e pelo vestuário, saúde e educação, com queda de 0,02 pp, cada

Fonte: Valor