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Netinho e outras lideranças comentam Semana da Consciência Negra

Na semana da consciência negra, atividades por todo o país lembram a luta de João Cândido Felisberto, o Almirante Negro que comandou a Revolta da Chibata na então capital do país, o Rio de Janeiro em 1910. O Vermelho colheu depoimentos de diversas referências da luta contra o racismo no Brasil, que serão publicados entre esta sexta-feira (19) e o próximo domingo (21).  

Em São Paulo, ocorre a 31ª Marcha da Consciência Negra, assim como em outras capitais brasileiras. No Rio de Janeiro, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) faz homenagem a João Cândido.

Neste sábado (20), a partir das 14 horas , as entidades do movimento negro, dentre as quais participa a União de Negros pela Igualdade (Unegro), realizam a 31ª Marcha da Consciência Negra.  

No Rio, a Seppir celebra a data com programação desenvolvida durante toda a semana na Praça 15, no centro do Rio de Janeiro, palco da Revolta da Chibata de 1910. O ponto alto do evento será a instalação de monumento em homenagem a João Cândido. O presidente Lula confirmou presença no evento.

Em Salvador a festa é puxada pelos blocos afro, a partir do Curuzu, como historicamente é realizada a Caminhada da Liberdade.  O presidente do Olodum, João Jorge Rodrigues, diz que o Brasil vive "um momento de tranformação do modelo de luta do movimento negro por justiça". Para o líder do Olodum, o movimento negro no Brasil viveu um momento de construção da sua identidade e este é o momento de serem implementadas políticas de Estado de combate ao racismo. "Políticas voltadas para o presente, concentadas com a atualidade de um país moderno, tecnologicamente desenvolvido", completa João Jorge.

Ao constatar que os negros continuam excluídos do poder político no Brasil, João Jorge valoriza os avanços institucionais conquistados, mas adverte: "é importante salientar que não é só por leis que se muda a discriminação racial. O fim da discriminação exige um conjunto de leis, práticas da sociedade e ação política".

O vereador Netinho de Paula também comentou os avanços institucionais, pautando de forma especial o recém aprovado Estatuto da Igualdade Racial: "o Estatuto foi aprovado com uma série de mudanças. Por mais que o texto final não contemple alguns dos principais pontos defendidos pelo movimento negro, sabemos de sua relevância por reforçar a igualdade racial como um dos princípios da democracia. Democracia e racismo não podem conviver juntos. Torço e seguirei trabalhando para que haja um tempo em que nenhum de nós precisará de uma semana especial para reflexão”.

Para a ex-Coordenadora da área de combate ao racismo e discriminação da Unesco no Brasil, Edna Roland, os principais avanços vieram após a 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2001. Edna explica que este foi o marco da implementação de políticas de ações afirmativas no Brasil. 

"A primeira lei estadual criando um programa de cotas para negros de acesso à universidade foi aprovada pelo estado do Rio de Janeiro justamente depois da 3ª Conferência Mundial. Podemos, portanto considerar, que a Conferência funcionou como um marco. Entretanto, ela sozinha não criou essas condições, foi o acúmulo de lutas".

Em se tratando de universidade, autoridade importante a ser ouvida é o professor José Vicente, da Universidade Zumbi dos Palmares. José Vicente revela o dado alarmante de que, dos 5.400 professores que ele afirma darem aulas na USP, apenas 5 são negros. Para o professor, há doi movimentos necessários no caminho da superação da desigualdade racial: "despertar juventude negra para a educação como valor prioritário – e que talvez seja a única solução para ajudá-los a fazer a travessia; e criar condições para que estes jovens tenham acesso ao ensino superior". 

Para a ex-ministra da Seppir, Matilde Ribeiro, os negros precisam ocupar espaços de poder no Brasil. Assim como os demais, ela considera a principal conquista do último período o Estatuto da Igualdade Racial, como instrumento legal que permite a instituição de políticas afirmativas.

Da redação, Luana Bonone e Mariana Viel