Paraná: Na disputa da Assembleia demarcar os campos
A disputa pela presidência da mesa diretora da Assembleia Legislativa pode disparar os primeiros sinais da relação entre a futura oposição e o futuro bloco governista. Explico: com a vitória dos tucanos liderados por Beto Richa os papéis se inverteram na Casa.
Publicado 23/11/2010 13:23 | Editado 04/03/2020 16:54
Artigo de Milton Alves*
As tensões e debates que hoje ocorrem neste fim de governo Requião/Pessuti sobre as licitações, Defensoria Pública, Porto de Paranaguá são consequencias do novo cenário político pós-eleição. As dificuldades surgidas entre as equipes de transição refletem o latente enfrentamento. Os próprios tucanos já têm ensaiado um discurso sobre a herança que irão receber. Ou seja, tiveram a iniciativa de demarcar os campos.
Neste sentido, a base de apoio e sustentação do atual governo precisa apresentar uma alternativa na disputa pela direção da Casa. Ao mesmo tempo, fazer a defesa dos legados e das conquistas obtidas no período de governo de Requião/Pessuti, que contou com a participação e o apoio político do PT, PV, PCdoB, PRB e até de um grupo de deputados tucanos, jocosamente conhecidos como os “tucanos do bico vermelho”.
Vale lembrar que durante a disputa pelo governo do estado os mesmos blocos políticos se enfrentaram nas urnas, numa acirrada campanha. Beto Richa reuniu o PSDB, Dem, PPS, PSB, PTB e Osmar Dias foi o candidato do PMDB, PT, PDT, PCdoB, PSC e PR.
Portanto, o campo político que se uniu por Osmar, Gleisi e Requião precisa se expressar com nitidez na disputa pela mesa diretora da Alep.
O momento exige uma postura de demarcação, construindo as condições políticas para organizar uma futura oposição programática e combativa, que atue no sentido de conter os impulsos privatistas, regressivos e antipopulares do tucanato nativo.
Por uma nova cultura politica na Alep
Além do plano da política geral, é necessário recordar que a Alep ainda atravessa o imenso desgaste da crise (do esquema de corrupção organizada na casa a partir da mesa diretora), que abalou o parlamento estadual. Ou seja, a bandeira da renovação dos métodos e costumes da Alep deve também ser apresentada e defendida pela futura oposição.
A sociedade paranaense demanda uma verdadeira transformação da Assembléia Legislativa, uma mudança que aproxime o parlamento estadual dos anseios populares, e não um instrumento a serviço do patrimonialismo e da perpetuação de um pequeno grupo de deputados, que agem acima dos partidos e das ideologias. Um dos maiores desafios na Alep é romper com o compadrismo e o corporativismo, para abrir espaço para uma nova cultura política, recuperando o legislativo como a casa da representação popular e um estuário dos anseios da cidadania.
* Milton Alves é pesidete estadual do PCdoB PR e membro do Comitê Central do Partido.