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Chancelaria explica a ativistas cubanos voto na ONU

Uma resposta sem precedentes do chanceler Bruno Rodríguez Parrilla, na própria chancelaria, foi o que receberam representantes da sociedade civil de Cuba que questionaram o apoio desse país na Organização das Nações Unidas a uma emenda que consideram um retrocesso na posição contra a discriminação por causa da orientação sexual.

Por Dalia Acosta, na agência IPS

“O resumo da conversa estará em um blog em algumas horas”, disse à IPS o jornalista e ativista gay Francisco Rodríguez Cruz, mais conhecido como Paquito El de Cuba, pouco depois de sair do encontro, no dia 1º, do qual também participou o vice-chanceler, Abelardo Moreno.

“Foi tão inesperado quanto proveitoso. Deixou ensinamentos a todos que estiveram presentes”, assegurou este militante comunista, um dos protagonistas do que poderia ser chamado de momento histórico: primeiro encontro formal de um chanceler cubano com representantes da ainda incipiente comunidade gay da ilha.

Além de Francisco, esteve presentes o médico Alberto Roque, presidente da Sessão de Diversidade Sexual da Sociedade Cubana Multidisciplinar para o Estudo da Sexualidade (Socumes) e coordenador do grupo de ação e reflexão pelo direito à livre identidade sexual Homens pela Diversidade.

Também participaram Ada Afonso e Mayra Rodríguez, subdiretoras do governamental Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex), entidade que, junto com a Socumes, foi a primeira a expressas preocupação pela votação cubana, no dia 16 de novembro, na Terceira Comissão da Organização das Nações Unidas (ONU). O voto em questão aprovou uma emenda, defendida pelas delegações do Marrocos e de Mali, que excluiu a menção explícita da orientação sexual em uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre execuções extrajudiciais, arbitrárias e sumaríssimas.

A moção, que gerou controvérsia nos meios digitais e uma carta aberta de Francisco ao chanceler cubano, substituiu as palavras “qualquer razão discriminatória, incluída a orientação sexual”, pela fórmula genérica de “razões discriminatórias, qualquer que seja sua base”. Cuba foi o único país latino-americano que apareceu entre os 79 votos a favor. A maioria do bloco regional, incluídos importantes aliados como a Venezuela, se concentraram nos 70 votos contra e dois deles, Nicarágua e Bolívia, não estiveram presentes à votação. Também houve 17 abstenções.

Segundo o texto, colocado no blog Paquito El de Cuba e reproduzido pelo Homens pela Diversidade, na “conversa” de cerca de duas horas, “os dois funcionários explicaram os mecanismos de votação da ONU e as inevitáveis confrontações e alianças entre blocos de países”. Além de detalhar “as manipulações políticas dos Estados poderosos contra as nações subdesenvolvidas” em cenários como as sessões anuais da Assembleia Geral da ONU, os funcionários ouviram “com muita atenção e receptividade nossos argumentos, preocupações e sugestões”.

Segundo Francisco, o chanceler garantiu que “não há mudança de política” na oposição de Cuba a qualquer forma de discriminação e na promoção do respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero. O voto em questão foi resultado de “uma circunstância imprevista e conjuntural”, garantiu Bruno, segundo o jornalista cubano. O voto cubano também foi explicado em seu momento ao plenário, segundo a chancelaria. O texto da declaração, entregue aos representantes do Cenesex e da comunidade LGBT, não foi citado pela imprensa da sede da ONU, nem foi reproduzido pelos meios de comunicação cubanos.

Segundo o documento, a delegação cubana explicou que Cuba “é contra todo tipo de discriminação, por qualquer motivo, tanto de traça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra índole, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social”. “Cuba votou a favor da emenda proposta pelo grupo africano, pois considera que é suficientemente geral e inclusiva. Refere-se a todas as execuções cometidas com base em qualquer tipo de discriminação, o que na opinião de Cuba inclui também as execuções cometidas por motivos de orientação sexual”, diz o texto.

Durante o encontro na chancelaria foi informado que “nos próximos dias a missão de Cuba na ONU divulgará de maneira adicional outro comunicado em relação ao assunto”. Além disso, Bruno “ratificou que a chancelaria manterá uma posição consequente com as posições nacionais em torno da não discriminação e respeito à diversidade sexual”.

Em uma evidente resposta à proposta do Cenesex e do Socumes de oferecer “aos tomadores de decisões” as ferramentas necessárias para continuar incluindo os direitos da diversidade sexual entre só direitos humanos, a chancelaria ofereceu-se para “trabalhar mais estreitamente e de modo conjunto com o Cenesex e os grupos LGBT”. Francisco confessou que “nunca pensei que o ministro me responderia e muito menos pessoalmente”.

Fonte: Envolverde. Título do Vermelho